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FEIRA DO LIVRO : Jovem autor adverte sobre o estímulo à literatura

08 novembro
08:41 2017

Sábado às 19h, escritor riograndino Leonardo de Andrade, aos vinte anos, estará autografando seu sexto livro

Por Carlos Cogoy

Ele é da geração dos “games” eletrônicos. Desde os quatro anos jogava com o pai. O fascínio foi tanto que passou a escrever, profissionalmente, para site de games. Os jogos eletrônicos, no entanto, não impediram que despertasse para a literatura. Ao contrário, conforme o riograndino Leonardo de Andrade, muitos dos personagens e tramas fictícios que cria, têm influência dos jogos. Aos vinte anos, sábado ele estará na Feira do Livro. Às 19h, autografará seu sexto livro “Filósofo Suicida”. Ele avalia sobre a importância da leitura e escrita, as influências e motivação que teve, bem como as limitações da literatura ministrada na escola.

LER E ESCREVER na opinião de Leonardo: “A leitura faz parte da humanidade. Essa é uma coisa singularmente nossa, e apenas de nossa capacidade. Por ela somos levados a coisas extraordinárias. Criamos tecnologia científica, avançamos na medicina, viajamos para lugares sem nunca sair de onde estamos, e imaginamos mundos incompreensíveis. A leitura é a base para tudo e quando alguém descobre, e compreende isso, seu mundo vira de cabeça para baixo e tudo pode ser visto a partir de novos horizontes, novas perspectivas. Ler não é uma obrigação, é uma conquista humana.

Leonardo de Andrade conciliou “games” e literatura

Leonardo de Andrade conciliou “games” e literatura

Em relação a escrever, o meu primeiro livro foi inspirado por uma roda de RPG com amigos. A história era boa, eu tinha inventado tudo, e aí comecei a escrever. Originalmente, era para ser uma trilogia, mas acabou que fiz apenas o primeiro. Na época, eu estava concluindo o EJA Fundamental, e minha mãe achava que era válido publicar. Ela sempre me incentivou muito e foi, durante muito tempo, a primeira leitora de tudo que eu escrevia. Eu estava em dúvida ainda. Então a coordenadora da minha escola ficou sabendo e me incentivou mais ainda. Disse que havia a Feira e que eu devia me inscrever. Minha avó bancou os exemplares do primeiro livro, me inscrevi na Feira e foi assim. Crescia uma nova fase em mim e eu finalmente tinha encontrado alguma coisa que era realmente apaixonado. Para um jovem de quinze anos, isso é bastante. Fui ganhar notoriedade na minha cidade apenas no ano seguinte, quando fechei acordo com uma editora, para o meu segundo livro, e fui convidado a participar da 23ª Bienal Internacional de São Paulo”.

ESCOLA – Na escola, o ensino da literatura, em geral, ainda recorre a clássicos desconectados do contexto dos jovens. Leonardo critica: “As escolas têm boas bibliotecas, com livros ótimos, mas classificam por faixa etária, e mantêm fechados com cadeado. E na hora de aplicar a literatura na sala de aula, empurram os clássicos. Os clássicos são complicados e, embora alguns são atemporais, a maioria não o é. Alunos jovens não querem saber disso. Querem ser tocados, moldados, e acariciados por algo que tenha a ver com as suas vidas. Não é à toa que muitos dos adolescentes, hoje, começam o hábito da leitura através de sagas como Crepúsculo, Harry Potter, Instrumentos Mortais. Elas tratam diretamente sobre o novo mundo globalizado e como os jovens se adequam a ele. Tratam sobre suas angústias. Dizer que são obras ruins é cometer preconceito. Se elas criam o hábito da leitura, servem ao seu propósito. Os clássicos, considerados ‘importantes demais’ para a formação de uma personalidade, quando, na verdade, não são, nós podemos ver depois, quando o discente criar maturidade e curiosidade por essas obras. A literatura nacional, atualmente, tem várias sagas e obras boas, românticas, que chamam atenção de jovens, mas as livrarias e as editoras impedem esse acesso, então a literatura nacional é chamada de ‘chata e ruim’ por conta do trabalho nas escolas. É um ciclo infeliz que precisamos quebrar”.

Lançamento na Feira

 Escrito em quatro meses no ano passado, “Filósofo Suicida” (206 páginas), é romance que narra sobre o imortal “Lars Justino”. De acordo com o jovem autor Leonardo de Andrade que, no sábado, autografará na Feira do Livro, trata-se de romance “surrealista”. Ele cogita também lançar na Feira do Livro da FURG, que é realizada em janeiro no Cassino.

Leonardo de Andrade Feira do Livro 2IDEIA do livro foi inspirada no livro “Macunaíma” de Mario de Andrade. O autor explica: “Eu queria fugir um pouco da minha rotina e criar uma história que fosse complexa, porém, engraçada. Que eu pudesse ter a liberdade fantasiosa de criar coisas absurdas, como uma bigorna cair na cabeça de um personagem, e pudesse, ao mesmo tempo, falar de assuntos complicados e criar personagens quebrados, como sempre faço. Em função dos personagens problemáticos, ganhei a alcunha de ‘escritor estilhaçado’. E defino a obra como surrealista. Tudo nela é estranho, e impossível de acontecer, mas há uma razão. E há causas específicas, e lá no fundo tudo está conectado. Gosto de me apoiar na ideia de que o leitor vai conseguir entender múltiplas coisas. Sempre gostei de dualidade. Nem tudo, como fazem os professores de português, tem uma interpretação. Às vezes, pode ser aquilo, ou aquele outro, e talvez isso, mas pode não ser. Depende de cada um. Analogias são incríveis, e brincar com elas mais ainda”.

FILÓSOFO – Sobre a escolha de um filósofo, ele diz: “A opção por filósofo deriva de algumas razões específicas. Eu sempre tento fugir do ramo acadêmico. Nesse caso, vem por causa do protagonista, por razão das múltiplas interpretações do mundo que ele tem, e, em homenagem à música ‘Petróleo do Futuro’, do Legião Urbana. A música foi uma inspiração o tempo todo. Por que ‘Filósofo Suicida’? Simplesmente porque sim. A filosofia é coisa complexa de se lidar. Existem inúmeras respostas para inúmeras perguntas. Imagine ser imortal? Então o Lars, por natureza, é um filósofo. Ele busca e anseia pela verdade da vida, mas não a quer porque tem medo, mas precisa dela porque sim. E isso cria outros questionamentos e conflitos dentro dele. É a dureza da filosofia”.

A literatura como ato político

A sua criação literária tem repercutido. Leonardo de Andrade observa que, muitas vezes, a curiosidade está menos no livro que divulga, do que na sua juventude como autor. Sei que as pessoas, muitas vezes, se espantam. Mas não deveriam. É simplesmente algo que adoro fazer, e quero fazer como projeto de vida e trabalho”, diz.

CRIAÇÃO litertária conforme Leonardo: “Ser escritor e artista faz parte de um ato político. Precisamos ter nosso cunho político e ideologias bem desenvolvidas, embora elas mudem um pouco e evoluam. Gosto de tratar os temas políticos e sociais de forma bem sutil nas obras e tentar tocar o leitor com visões diferentes, concepções complexas sobre essas coisas. Visões humanistas, como me defino. Ao mesmo tempo, adoro a subjetividade e os problemas que a existência nos traz. São problemas verdadeiros, que trazem grandes consequências, e gosto de explorá-los, vendo como os personagens vão se adaptar”.

OBRA de Leonardo já tem os títulos: “As Crônicas de um Arqueiro”, que envereda por realidade fantasiosa; “Outra Era”, livro que aborda sobre catástrofe, o que exige a sobrevivência sem eletricidade; “Ídolo Quebrado”, romance cujo texto original foi datilografado, e enfoca acerca do escritor desacreditado Evan; “Verde Escuro”, que narra sobre golpistas e criminosos, abrangendo a vida na prisão; “Abismo Final”, romance policial com protagonista viciado e esquizofrênico.

Editora Fugitivo Literário

No primeiro semestre de 2018, autor Leonardo de Andrade pretende lançar o novo livro através do selo próprio “Fugitivo Literário”. O escritor e a esposa Ketlen Aires, estão organizando a criação do Grupo Editorial Fugitivo Literário. Ele explica: “Com o grupo editorial, planejamos investir pesado em novas tendências. Queremos disponibilizar todos os meus livros, e os futuramente publicados conosco, de forma gratuita no formato em Ebook. Assim, conforme a demanda, os leitores poderão adquirir a obra impressa. Também, planejamos reduzir o percentual de direitos autorais, cobrando de outros autores no máximo 30%. Um dos maiores déficits de editoras brasileiras, é a falta de publicidade. Autores fecham o contrato, compram seu próprio trabalho, e as editoras deixam para lá”.

MUDANÇA – O material de Leonardo à imprensa, é encaminhado pela esposa, que o assessora na divulgação. Em visita ao DM, o casal ofereceu “press kit” com exemplar do livro, porta-copo e camiseta.  Ele avalia o empenho, que será aprimorado com a editora: “É preciso divulgar, mostrar o trabalho, buscar as mídias, entregar ‘press kit’ e fazer acontecer. O livro tem que estar disponível para o público e na boca do povo. Temos que despachar para as grandes livrarias do Brasil, e fazer os autores aparecerem nas vitrines. Como autor, posso compreender, simpatizar com isso, e mudar a situação”.

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