Vinícius Sinotti retorna à direção de futebol do Brasil e reencontra clube completamente diferente
Depois de quase 25 anos, Vinícius Sinotti está de volta ao departamento de futebol do Brasil. Retorna para uma função diferente e reencontra o clube em situação completamente diferente. O tempo passou, o futebol mudou e a forma de administrar os clubes é outra. O amadorismo cedeu espaço para o profissionalismo. É como profissional da gestão do esporte que Sinotti está de volta à direção do seu time de coração.
“Mudou tudo no clube. O futebol está diferente do que há 25 anos. O Brasil está mais organizado, melhor infraestruturado. A situação é infinitamente melhor”, afirma. A única semelhança com 1993 é a presença do clube na primeira divisão estadual. “Naquele tempo, tínhamos o Gauchão e nenhuma perspectiva de competição nacional”, recorda.
A mudança não é uma exclusividade do Brasil, mas uma consequência de transformação do futebol. “Há uma grande mudança dentro e fora de campo. A principal mudança é a profissionalização em todos os setores. O futebol é negócio, os clubes uma empresa. Não há mais espaço para o amadorismo. Tem muito dinheiro envolvido e não pode ser colocado na mão de amadores. Se alguém fizer isso, estará fadado ao fracasso”, afirma Sinotti.
FORMAÇÃO – Foi observando essa transformação na gestão do futebol que Vinícius Sinotti resolveu buscar especialização e assim abrir mais um espaço profissional. Em 2012, ele trabalhava como assessor de imprensa na Secretaria da Copa na Prefeitura de Porto Alegre – ao mesmo tempo em que era comentarista esportivo da Rádio Guaíba. E foi representando à secretaria que se inscreveu no Curso de Gestão do Esporte, com especialização na direção executiva do futebol. Foram dois anos de estudo.
No final de 2015, Sinotti retornou a Pelotas – sua cidade natal – e começou uma longa negociação com o Brasil. Por fim, em dezembro passado, o acordo com o presidente Ricardo Fonseca. Suas atribuições são de ingerência específica no futebol do clube.
Microfone
Ao deixar a diretoria de futebol do Brasil em meados de 1993, Vinícius Sinotti enveredou para o jornalismo esportivo. Foi comentarista de rádios locais (Tupanci e Universidade) e depois se transferiu para a Guaíba, em Porto Alegre, onde trabalhou por 15 anos. Essa experiência permitiu a criação de uma rede de informantes, o que agora é fundamental para atividade que atualmente exerce no futebol.
“O jornalismo esportivo permitiu que eu fizesse bons relacionamentos com profissionais, que hoje são informantes confiáveis”, diz Sinotti, citando nomes de treinadores de ponta no futebol brasileiro como Tite, Muricy Ramalho (hoje, comentarista do Sportv) e Mano Menezes, além de gestores como Paulo Pelaipe e Rodrigo Caetano.
Outra consequência do período em que foi comentarista é a frieza para analisar o futebol. “Em Porto Alegre, como não tinha paixão clubística, eu comentava as partidas de Grêmio e Internacional, fazendo uma analise fria”. Já na volta ao Brasil terá que conciliar a paixão de torcedor com a razão do profissionalismo, sabendo que o resultado é o que importa. “Pode tudo ser muito bem feito, mas se não tiver resultado, nada adianta”.
Meta arrojada no Gauchão
Vinícius Sinotti chegou ao Brasil reforçando o discurso da diretoria e do técnico Clemer, o qual indica projeto arrojado para o Campeonato Gaúcho, considerado que nos anos anteriores a meta inicial do clube era a de se manter na primeira divisão. Agora todos falam em pelo menos disputar o título do interior.
“O Brasil não pode jogar o Gauchão apenas para não ser rebaixado. Isso é muito pouco. Tem que buscar pelo menos o título do interior e, depois algo mais. Entramos na competição nas mesmas condições de Juventude e Caxias, que são clubes investem mais. Nossa relação tem que ser feita com clubes que pensem o futebol o ano inteiro. Não falo em times safristas. Nossa relação é com quem joga o ano todo e que esteja na primeira divisão”, afirma.
Para ter calendário cheio, os clubes precisam se estabelecer em competições nacionais. Sinotti concorda que esse é o caminho. “Infelizmente, os estaduais tendem desaparecer. Quem não estiver em divisões do Campeonato Brasileiro vai ter muita dificuldade”, projeta. Até por isso, o Brasil é um incentivador da Primeira Liga.
“Era preciso remodelar o grupo”
Com a chegada do atacante Luiz Eduardo, que estava prevista para este fim de semana, o grupo do Brasil está pronto para começar a temporada de 2018. É o elenco para o Gauchão, mas que irá servir de base para o Brasileiro da Série B. Houve uma mudança em torno de 70% dos jogadores, promovendo uma importante redução na media de idade em relação aos anos anteriores, quando a experiência caracterizava a equipe rubro-negra.
“Havia essa necessidade de mudança, de um rejuvenescimento do grupo de jogadores. Não que o grupo que estava aqui não tivesse qualidade – tanto tinha qualidade que colocou o Brasil no local em que se encontra e manteve o Brasil, especialmente na Série B. Mas era preciso dar uma remodelada no grupo, contratando jogadores mais jovens. São jogadores com idade inferior aos que estavam aqui, mas são jovens como muita experiência”, comenta Vinícius Sinotti.
O dirigente cita o exemplo dos laterais esquerdo Bruno Colaço (26 anos) e Artur (22). “São jogadores formados no Grêmio e no Interacional, com participações em Libertadores e na primeira divisão do Brasileiro. O Rafael Dumas foi capitão da equipe sub-20 do Flamengo em 2015. O Deyvid Sacconi jogou no Palmeiras por quatro anos. O Toty jogou o Brasileiro pelo Sport”, destaca Sinotti.
BASE – Os nomes citados acima são de jogadores conhecidos no futebol brasileiro, mas o Brasil trouxe outros menos renomados, que representam apostas para serem observadas no Gauchão. Há muita confiança no atacante Matheus Lima, 21 anos, que foi vice-artilheiro do Paulistão Sub-20 de 2015 pelo Água Santa. Sinotti lembra que um imbróglio jurídico pelos direitos econômicos tirou o atleta do foco de observações na temporada passada. Agora tem a chance de recomeço no Xavante.
Depois de muito tempo, o Brasil abre uma temporada, contando com jogadores das categorias de base. São seis meninos: Leonardo (goleiro), Eduardo (zagueiro), Igor (volante), Matheus Sum (meia), Chrigor e Luiz Henrique (atacantes). “Em apenas um ano, seis jogadores já foram aproveitados. Isso mostra o bom trabalho que foi feito pelo Armando (Desessards, ex-gerente executivo do clube) e de toda a sua equipe”, completa Sinotti.