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terça, 26 de novembro de 2024

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A era de uma adolescência suicida

A era de uma adolescência suicida
15 maio
15:32 2018

Há quem afirme que a quantidade de suicídios entre adolescentes está crescendo. Mas não será que apenas a descoberta, preocupação e divulgação aumentaram? Independentemente, vale a pergunta: será que a sociedade brasileira tem contribuído para os jovens terem essa atitude? E teria como diminuir a probabilidade delas ocorrerem?

*Por Dr. Bayard Galvão

Suicídio é o último ato na vida de alguém. Uma atitude de desespero, sem esperança de dias melhores, mas sim de similares ou piores. Uns chamam de coragem e outros de covardia. Há quem afirme que a quantidade de suicídios entre adolescentes está crescendo. Mas não será que apenas a descoberta, preocupação e divulgação aumentaram? Independentemente, vale a pergunta: será que a sociedade brasileira tem contribuído para os jovens terem essa atitude? E teria como diminuir a probabilidade delas ocorrerem?

Estamos assistindo a um aumento assustador de competição no mercado profissional; à diminuição de empregos; os relacionamentos estão mais complexos e menos duradouros; ser um “bom homem/boa mulher” ou “bom pai/boa mãe” é muito mais difícil que há 50 anos; os familiares estão morando mais longe, diminuindo a sensação de proteção; e estamos apenas presenciando o início do impacto da vida virtual em crianças e adolescentes, onde muitos acabam preferindo a relação distante e superficial através das telas de computador a contatos reais, gerando um “autismo ensinado”.

Para completar o quadro, estamos vivenciando um aumento de expectativa com relação ao conceito de sucesso, mas sem dar os instrumentos para isso. É pouco ser um bom aluno na escola, é preciso ser “fitness” e “ecológico”, além de ser líder e aprender uma terceira língua.

Em que medida a educação está sendo conduzida para as crianças se tornarem adolescentes que lidarão bem com estas mudanças? Será que os adolescentes estão aprendendo a enfrentar um futuro tão exigente e instável quanto o que é e será?

Os pais atuais são incentivados a serem excessivamente protecionistas (protegendo a prole do que ela conseguiria aprender a se proteger), não exigirem das crianças (se for mal na escola, passa de ano mesmo assim), punirem pouco ou nada (punição é mal vista, importante é motivar pelo prazer-felicidade), elogiarem muito (dando a impressão que seriam especiais fazendo pouco) e buscarem ser amados pelos respectivos (afinal, para os filhos valorizarem os “nãos” dos pais, limites e punições, é preciso uma maturidade que não tende a ocorrer antes dos 30 anos), e sempre com muita amizade e pouca autoridade.

Os efeitos nas crianças e jovens são visíveis: baixa capacidade de frustração, ficando muito irritados, impacientes e até depressivos ao se depararem com a realidade fora de casa; não sabem ouvir “não”; pouco ou nada respeitam autoridades; se acham superiores a outros; pouco se preocupam com outros; não confiam nas próprias capacidades, até por nunca ou pouco tê-las colocadas à prova; dificuldades em se concentrar nas atividades que não gostam; preguiça em se esforçar com rigor e um “autismo aprendido”, dificultando relacionamentos. Isso tudo funciona num determinado nível até uns 12 ou 13 anos de idade, mas e depois, quando a vida exige mais?

O desdobramento da formação destas ideias na cabeça dos jovens culmina numa sensação de que a vida é muito pesada e que pouco ou nada pode ser feito, podendo provocar tristeza, ansiedade e até pensamentos suicidas. Isso facilita inúmeros quadros clínicos psíquicos de sofrimento.

É preciso rever o que é uma boa educação, o que certamente consiste na formação de algumas capacidades indiscutíveis: aprender a se esforçar; lidar com rejeição; dedicar-se ao que não dá prazer, mas que é necessário; entender que será especial para poucas pessoas na vida; respeitar as pessoas, independentemente de quem seja, embora sem esquecer-se de valorizar a si; ao mesmo tempo compreendendo que muita gente diz bobagem, seja na escola, na TV, internet, seriado ou música e que dependerá dela e de seus educadores refletirem e questionarem sobre estas bobagens.

Buscando resumir: afetividade, elogios e brincadeiras são essenciais, assim como críticas, exigências e saudáveis punições também. A falta de uns pode provocar tanto dano na vida de alguém quanto a de outros.

 

*Bayard Galvão é psicólogo clínico formado pela PUC-SP, hipnoterapeuta e palestrante. Especialista em Psicoterapia Breve, Hipnoterapia e Psiconcologia, Bayard é autor de cinco livros, criador do conceito de Hipnoterapia Educativa e Presidente do Instituto Milton H. Erickson de São Paulo. Ministra palestras, treinamentos e atendimentos individuais utilizando esses conceitos.  www.institutobayardgalvao.com.br

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