ESPIRITISMO : Não há morte no laboratório de transformações
Médium Divaldo Franco homenageou Lauro Enderle, que o recepcionou na primeira vinda à cidade em 1957
Por Carlos Cogoy
O então jovem baiano Divaldo Pereira Franco, estava há treze dias empregado numa agência de seguros em Salvador, quando soube que seria demitido. Abalado, e constrangido com a iminência de retornar à casa dos pais em Feira de Santana, considerou-se fracassado. Aturdido, dirigiu-se ao elevador Lacerda na capital baiana, edificação com mais de setenta metros, com o intuito de pular para o suicídio. Ele lembra que ouvia voz, dizendo-lhe “venha, venha”. Aos familiares, escreveu carta que prendeu à roupa. Ao chegar ao topo, aproximou-se da mureta. Quando se preparava para o salto, no entanto, foi surpreendido por visão. Era a irmã Nair, que se suicidara seis anos antes, e dizia: “Não faça isso! Ninguém morre”. Divaldo desmaiou e foi socorrido. O relato foi narrado domingo à noite no Theatro Guarany. O “cidadão pelotense” – título que recebeu em 1991 -, foi recepcionado por delegações da região. No evento promovido pela Área de Comunicação Social da Liga Espírita Pelotense (ACOM/LEP), com apoio da Federação Espírita do Rio Grande do Sul (FERGS), os lugares foram ocupados por ordem de chegada e, devido ao limite de público por questão de segurança, algumas dezenas não chegaram a adentrar ao Guarany. Porém, a equipe da ACOM, que reúne Edenir Madeira, Sirlane Maciel da Costa e Renata Gastal, informa que a palestra do médium Divaldo Franco, está disponível no Youtube. Como busca: Palestra Divaldo Franco Theatro no Guarany / Pelotas-RS.
HOMENAGENS – O evento integrou as comemorações dos setenta anos do Hospital Espírita de Pelotas. O palestrante Divaldo ressaltou que, aos 91 anos, retornava à cidade, também como homenagem a Lauro Enderle, um dos precursores do movimento espírita em Pelotas. Em 1957, quando esteve pela primeira vez em Pelotas, Divaldo foi recepcionado pelo barbeiro Enderle, que o acolheu em casa. Após concluir a palestra, o médium recebeu placa alusiva aos 71 anos como conferencista espírita. A entrega foi feita pela senhora Fernanda Farias, que preside a LEP. Representando a administração municipal, a secretária de governo Clotilde Victória, ofereceu doces e lembranças de Pelotas. Ele também foi presenteado com canecas, que têm gravadas a sua imagem da primeira vinda à cidade.
LABORATÓRIO – Lúcido e disposto, Divaldo apenas se locomove com lentidão, em decorrência de hérnia de disco. Conforme explicou, é algo congênito mas que somente se manifestou recentemente. Para ele, há leis inexoráveis no universo, que gradativamente a ciência vai demarcando. Ele disse: “Ignorávamos as ondas Hertz, mas sempre existiram. Não sabíamos sobre as micro e macro partículas, bem como vírus que dizimaram milhões. Mas vamos descobrindo. E assim acontece com leis inexoráveis. Nossa pequenez percebe, mas finge não entender. Porém, ninguém pode fugir dessas leis. Trata-se de uma lógica de bronze, ferro, grandeza que afirma: somos imortais. Nada morre. O psiquismo não morre. Na questão 540 do Livro dos Espíritos, Kardec diz que o átomo primitivo provém de uma estrela. E passa pelo meu corpo, assim como passou pelo corpo de Cristo. Numa recente conferência, Deepak Chopra disse aos alunos, que é necessário reinventar o nosso corpo, pois tanto temos átomos que estiveram no corpo de Jesus Cristo, quanto também de criminosos terríves como Nero e Calígula. Então, como a vida deveria morrer no ser que pensa? Ora, a natureza é sábia e estamos no laboratório de transformações. Na massa encefálica, mais de oitenta bilhões de neurônios ativam a inteligência. Que magia foi essa que, através de neurônio eletroquímico, nos possibilitou a capacidade de pensar? O espiritismo nos diz que somos o princípio inteligente do universo. Deus é energia, o espírito e a matéria também”.
Uma nova chance
Divaldo abriu a conferência retomando tema que abordou há dois anos. Ele contou a história vivenciada pelo autor escocês A. J. Cronin (1896/1981). No início do século vinte, recém formado em medicina, ele foi chamado para socorrer menina enferma. Ela padecia de difteria, e residia nos arredores de Londres. O jovem médico, que havia sido chamado por madre superiora, ao chegar ao local, percebeu que teria condições precárias para a cirurgia. Mas, foi apresentado à enfermeira, que o ajudaria no atendimento. Ela, no entanto, também era inexperiente e estava iniciando a profissão.
PERDÃO – O médico fez traqueostomia, e a menina pode respirar. À enfermeira, foi solicitado que zelasse para que a menina, durante a noite, não tirasse o tubo. Mas, na madrugada, o médico foi acordado pela enfermeira. Atônita, ela comunicava que a menina havia falecido. O médico foi verificar, e constatou que o tubo estava ao lado da cama. A enfermeira assumiu que foi vencida pelo sono. O médico então, disse que teria de relatar o ocorrido para o conselho de medicina. Ele elaborou relatório e, por três vezes, esteve prestes a colocar no correio, mas acabou desistindo. Não sabia explicar, mas sentia impulso para evitar a comunicação. Os anos transcorreram, ele tornou-se romancista premiado e, num hotel, ao ler grande jornal da Europa, soube da história de mulher que havia salvado quatro mil vidas, cuidando de crianças órfãs da guerra. No relato, ela dizia que não dormia à noite, para zelar pelas crianças. Assim, repousava poucas horas durante a tarde. Além disso, também contava sobre a vida que perdera, quando não suportou o cansaço e dormiu. Ela aguardou pela punição do conselho de saúde, mas sempre que procurava saber se havia chegado algum comunicado, era informada que não havia novidade. Com isso, percebeu que havia recebido uma nova chance.
Em defesa da vida e justiça social
À humanidade houve revelações de Confúcio, Lao Tsé e Buda. Mas na trajetória judaico-cristã, observou Divaldo, destacam-se revelações em três momentos: a “lei” com Moisés; o amor de Jesus; o espiritismo com a caridade. Ele contextualizou a abordagem espírita, a partir do século 19, num mundo tanto marcado por conflitos, quanto aberto a descobertas científicas. E, conforme o palestrante, na relação com a ciência, o espíritismo acrescenta o amor.
IGREJA – Elogiando o Papa Francisco, que busca “restaurar o cristianismo no coração” do homem, Divaldo elencou diferentes fases históricas da igreja, desde Constantino (272 d.C./337 d.C.), que “adulterou a palavra sublime dos evangelhos”, passando pelas cruzadas e inquisição, culminando com a pretensa infalibidade papal desde o século 19. E Divaldo ressalta que um Papa, latino-americano, vai manifestar: “Quem sou eu para julgar”. Além disso, também já expressou “Todas as religiões são válidas, desde que falem sobre Deus, e o Amor”.
ABORTO – “Uma civilização que se diz culta, mas mata no ventre. É paradoxal, pois se trata de crime hediondo. A mulher tem direito sobre o seu corpo, mas não sobre o outro corpo que está gestando. Uma sociedade que mata a criança, talvez também, no futuro, poderá aniquilar o idoso. Afinal, este tem trombose, Alzheimer, torna-se fardo. E para isso, fala-se em eutanásia. E não se trata de algo insondável, pois Hitler eliminava os jovens que urinavam na cama até dez e doze anos”, afirmou o médium.
SOCIALISMO para Divaldo, é o cristão. Ele discorda de Marx e Engels, e ressalta a caridade como caminho para a justiça social.
Presenças à mesa
No palco do Guarany, à mesa com Divaldo: Carlos José Machado Jardim (presidente do Hospital Espírita); Maria Elisabeth Barbieri (vice FERGS); Gabriel Salum (presidente da FERGS); Juan Danilo Rodrigues (Mansão do Caminho/BA); Fernanda Farias (LEP); Paulo Salerno (S.E. Luz, Paz e Caridade/PoA).