CPI DO PRÉ-CÂNCER : Secretaria de Saúde silenciou diante das suspeitas dos exames
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Municipal que apura as suspeitas de irregularidades nos resultados de exames preventivos do câncer de colo de útero tomou ontem os depoimentos de seis servidores da Unidade Básica de Saúde (UBS) da vila Bom Jesus, responsáveis pela elaboração do memorando 02/2017 que alertou a Secretaria de Saúde (SMS) sobre possíveis erros nos resultados dos exames de pacientes do posto. Os três médicos e as três enfermeiras deixaram claro que a secretária sabia das suspeitas e, no entanto, nunca deu qualquer retorno à equipe.
Durante três horas a equipe foi sabatinada pelos vereadores presentes à sessão – dos 11 membros titulares da CPI apenas o representante do DEM, Ademar Ornel, não compareceu – e respondeu à questões sobre a elaboração do memorando que originou a denúncia publicada na imprensa no mês passado, o encaminhamento dado ao documento, respostas dadas pela Secretaria de Saúde, rotinas de atendimento e coletas de exames, público atendido e detalhes sobre a origem das suspeitas da equipe.
“Começamos a estranhar e a discutir a normalidade dos resultados em reuniões de equipe. O trabalho da doutora Júlia Recuero chamou atenção que nenhum exame vinha com resultados positivos. A secretária foi informada sobre isso e pediu para encaminhar por escrito e oficialmente, o que foi feito pelo memorando assinado por todos nós”, declarou a médica Marta Zambrano. O documento da equipe da Bom Jesus foi entregue à Secretaria de Saúde no final de julho de 2017, porém até o caso ser explorado pela imprensa nenhuma resposta ou retorno do memorando foi dada pela chefia da Saúde.
A chefe do posto, na época da elaboração do memorando, enfermeira Geruza Appel afirma que a elaboração do documento foi motivada pelo fato de uma paciente que havia recebido exame laboratorial negativo para malignidade (sem suspeita de câncer) apresentar lesões graves e acabar diagnosticada com câncer de colo de útero. “A equipe já tinha insegurança com relação aos resultados desde alguns casos mais simples de exames não baterem com a situação da paciente e, quando aconteceu o caso dessa paciente isso nos motivou a fazer o documento para enviar para nossa secretária”, esclareceu.
Conforme médicos e enfermeiros, antes da elaboração do memorando, o assunto foi amplamente debatido em reuniões de equipe com a presença da Gerente da Rede Bem Cuidar, Aline Geppert e do gerente distrital da SMS da área Areal/Praias, Cícero Eduardo Moraes. “Tudo foi registrado nas atas que estão com o Ministério Público”, reafirmou Geruza.
VISTORIA DA VIGILÂNCIA E TRANSFERÊNCIAS – Conforme a equipe da UBS Bom Jesus a única ação tomada pela secretaria no caso, apesar de não ter sido comunicada como relacionada ao memorando com as suspeitas, foi uma vistoria no laboratório responsável pelos laudos feita pela Vigilância Sanitária. Para médicos e enfermeiros a ação não foi a mais adequada já que o importante seria checar os laudos e forma de realização das análises.
Entre os depoimentos chamou atenção dos vereadores o fato de que três dos seis servidores que assinaram o memorando encaminhado a Secretaria de Saúde foram transferidos para outras unidades pouco tempo depois de levantarem as suspeitas sobre os resultados dos exames. Geruza Appel foi transferida para UBS Dunas, Elisabete Fuente foi para o Obelisco após 15 anos na UBS Bom Jesus e Francielle Lima foi enviada para o Barro Duro. A todas a justificativa dada pela secretaria foi a necessidade de alterar equipes.
SUSPEITAS E NOVOS DEPOIMENTOS – Para o presidente da CPI, vereador Marcos Ferreira, o Marcola (PT) através dos depoimentos da equipe foi possível constatar que o encaminhamento dado pela Secretaria de Saúde às suspeitas não foi o mais adequado. “Naquele momento não era a vigilância sanitária que deveria atuar, mas sim era preciso refazer os exames”, disse. Marcola declarou, ainda, receber com preocupação as informações sobre o remanejo de servidores que assinaram o memorando da unidade. “Fica a preocupação sobre uma possível perseguição aos funcionários que assinaram o documento e vamos ter que apurar isso também”.
Na próxima semana a CPI pretende ouvir a ginecologista Regina Laura Barbosa, que atendeu a paciente diagnosticada com câncer após receber exame negativo, além da gerente da Rede Bem Cuidar e do Gerente Distrital da SMS.