PROGRESSO : Nos olhares de Paulo Marques
Por: Henrique König
Para quem acompanha futebol e outras modalidades, está cada vez mais comum o termo analista de desempenho. Mas este cargo ainda gera muitas dúvidas e Paulo Cego, analisador do Progresso FC, é quem nos ajuda a entender esse importante denominador no esporte de alto rendimento.
Paulo Ricardo Marques, mas mais conhecido como Paulo Cego. Ele explica que o apelido veio na adolescência, ao não reconhecer ou confundir gente na rua, as amizades zombeteiras não pouparam. Ironia do destino ou não, o Paulo ‘Cego’ hoje é o principal observador no Progresso, o rubro-negro das Três Vendas, clube formador na cidade de Pelotas. Por ele transitam os principais dados e estatísticas que fomentam o desempenho dos atletas.
Paulo possui um grande currículo. Formação em educação física (licenciatura e bacharelado), especialista em ensino e treinamento de esportes coletivos, especialista em fisiologia do exercício e nutrição esportiva. Estava no mestrado na linha de pedagogia do esporte, membro do LeeCol (laboratório de estudo em esporte coletivo) da ESEF/UFPel. Possui estudos com fatores motivacionais que levam à prática de futebol (com os atletas do Progresso e do Brilhante), efeito da idade relativa (EIR), formação de professores/treinadores e formação de treinadores (coaches). Está formulando um projeto de formação de atletas para o Progresso. Trabalhou no G.E Brasil com preparação física, específica para setor defensivo, e treinador dos Juvenis e dos Juniores. Foi técnico da categoria Mirim na Agremiação Pelotense de Esporte (APE) e treinador/responsável pelo projeto de futsal feminino da UFPel. Atualmente, trabalho na escola Mário Quintana com futsal masculino e feminino. De bom tamanho, não?
O ANALISTA
Mas sobre o cargo de analista de desempenho: “é uma função recente aqui em Pelotas e mesmo no Brasil. Na verdade sempre houve alguém responsável pelos dados e estatísticas. Ou era o auxiliar técnico, ou o chamado de ‘scout’ e com o tempo vieram mais funções e o termo ‘analista de desempenho’. Analisamos o todo, não só a nossa equipe, mas também os adversários, coletivamente e individualmente, pontos fortes e pontos fracos”, resume Paulo.
O profissional do Progresso conta que a troca de informações é constante. O contato com os demais analistas de desempenho forma um grande apanhado de dados. Formações táticas das equipes, as formas de transições com e sem a bola e até mesmo as substituições mais comuns estão entre os pontos vistos.
“Comecei no Progresso pelo meu bom contato com o clube, fui atleta na época. O Vinicius Farias, que fazia essa parte, teve que voltar à sua cidade, Uruguaiana. Meu nome foi citado para essa função, por já ter trabalhado e estudado essa área na universidade. No Progresso, além da demanda que qualquer clube possua, ainda há a questão da formação de atletas, então a gente analisa desde as primeiras categorias e observa a evolução dos jogadores até chegar ao sub-17: o que melhoraram, o que podem melhorar, isso tudo fica registrado, até para uma possível negociação dos atletas”, avalia o trabalho no Rubro-Negro, clube que revelou Daniel Carvalho, Taison, volante Josimar, zagueiro Heitor e outros grandes nomes.
NETWORKING
“Eu brinco que analista de desempenho não dorme. Muitas vezes estamos trocando informações na madrugada. Adversário que um colega já enfrentou, entro em contato, recebo vídeos, recebo jogos. E enviamos também para os que pedem, trocamos materiais.”
Paulo Cego e os demais analistas de desempenho trabalham em conjunto com as comissões técnicas de seus clubes. Passam os dados individuais de cada atleta do time e também informações dos jogadores adversários. Coletivamente, possuem os scouts de posicionamento, transições ofensivas e defensivas, tudo repassado para a comissão, no trabalho com treinadores, preparadores físicos, preparadores de goleiro, etc.
TECNOLOGIA
O software Sportscode é o utilizado pelo Progresso. Ele possui três versões, da mais básica a mais completa. O Rubro-Negro trabalha com a versão intermediária. A base da função são as imagens, a gravação dos jogos e dos treinos. O software monitora estatísticas, por exemplo, posse de bola, quantidade de passes, roubadas de bola, tudo isso através dessa tecnologia.
O Progresso também possui os coletes com monitoramento em GPS, trazendo informações de quanto os atletas percorreram, de desgaste, de maiores ou menores exaustões. Isso ressalta que a análise não é especificamente do tático, mas o físico também é integrado. Os preparadores e fisiologistas ficam atentos.
CARACTERÍSTICAS DO ANALISTA
“Gostar de assistir aos jogos, não só de futebol, mas de outras modalidades, entender o porquê cada item é analisado e saber analisar, o que é um constante aprendizado, feito na prática. É preciso uma constante comunicação com a comissão técnica, um networking bem amplo, na grande comunicação com os colegas de outros times. Por questões éticas, não pedimos informações dos que vamos enfrentar, nem eles entregariam assim.”
PERÍODO PARADO?
“Essa parada está sendo de planejamento, deixando conceitos organizados para utilizarmos este ano, trabalhando no projeto de formação de atletas para o Progresso, para integrar as categorias no mesmo padrão. A gente continua, mesmo sem o futebol propriamente dito, mas na prática trabalhando com os recursos que temos para programar o retorno após a parada”, completou Paulo ‘Cego’ Marques.