COPA DE 1970 : O melhor time em outros tempos
Nas reprises durante a quarentena, a esquadra tricampeã mundial levanta debates
Por: Henrique König
O canal por assinatura Sportv teve a ótima ideia de reprisar todos os jogos da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1970. A conquista do tricampeonato mundial foi repleta de polêmicas e 50 anos depois ela reacende outras: será que foi o melhor time posto em campo como representação nacional com as camisas amarelas? Sem comparativos com os nostálgicos defensores de 1982 nessa resposta, aqui estão alguns pontos que enaltecem a esquadra do gaúcho João Saldanha, posteriormente assumida pelo ‘Lobo’ Zagallo.
Extracampo, foi uma Copa recheada de teorias e discussões. O Brasil estava em plena ascensão da ditadura militar, após o Ato Institucional 5 (AI-5), de 1968, que aumentava os poderes da presidência, permitia fechamento do congresso e de assembleias legislativas pelo país, anulando suas participações na sociedade, resultou em retiradas de reitores e outros cargos, limitava habeas corpus e avançava a censura sobre a arte, na música, na literatura e no cinema. Para o Mundial do México, João Saldanha seria o técnico, somando vitórias nas preparações para o campeonato, mas acabou também restituído do cargo. Fato é que suas opiniões políticas eram desagradáveis ao governo e parte da imprensa contestava o poderio de sua equipe.
Zagallo assumiu como treinador e colocou em campo um Brasil praticamente impecável durante o Mundial de 1970. Foram seis vitórias em seis jogos. A começar pelos pontos baixos, a defesa era o setor contestável, levando gols em todos os triunfos, com exceção do duro 1×0 sobre a atual campeã do mundo, a Inglaterra. A dupla de zaga composta por Wilson Piazza, que de origem era volante, e Hércules Brito, nem sempre cumpriu com suas obrigações à frente da meta e mesmo o grande goleiro Félix levou um ou outro gol defensável.
Apesar disso, os três primeiros defensores mantiveram um alto nível de atuação para levar o time ao tricampeonato. Nas laterais, Carlos Alberto Torres, o capitão, pela direita, e Everaldo, único jogador gaúcho na conquista, na esquerda. O lateral porto-alegrense foi homenageado como estrela solitária na bandeira do Grêmio, seu clube. Veio a falecer em acidente em 1974.
Na Copa do Mundo do México, Everaldo e Carlos Alberto eram seguros, laterais de bom posicionamento e jogadas simples, mas muito práticas. No meio de campo, o show começava pelos desfiles de Clodoaldo, um volante de grande domínio de bola, visão de jogo, distribuição e também idas ao ataque. Durante a Copa do Mundo era acompanhado por Gerson, do São Paulo. Quando este sentiu dores resultantes das verdadeiras caçadas dos adversários, Paulo Cézar, futuramente somando ao nome a alcunha de Caju, ganhava a posição.
A meia cancha ainda tinha o talento do corintiano Roberto Rivelino, outro canhoto, a exemplo de Gerson. Dribles curtos para proteger a bola e finalizações precisas eram seu trunfo. O mineiro de Três Corações, santista Pelé, mais experiente que nos mundiais anteriores, quando era garoto nas conquistas de 1958 e 1962, e saiu lesionado em 1966, estava no auge da maturidade aos 29 anos. O rei do futebol teve menos explosão, mas ainda mais visão de jogo, olhar que antecede jogadas, pifador e distribuidor da carga para o fascínio dos homens de frente e de quem chega pelos lados (que diga Carlos Alberto no histórico gol da final contra a Itália).
Outro organizador e abridor de espaços pelo meio era Tostão. Como tem se destacado nos debates, não era um fazedor de gols, um atacante nato, pois ele também gostava muito de buscar o jogo. Hoje, o cruzeirense de passes esplêndidos e magistrais se dedica a colunas de jornalismo. Manteve o nível.
Se o meio dos gramados mexicanos era o ápice do controle da seleção brasileira, a quem cabia a tarefa de colocar a bola na rede? O maioral nessa função pelo Brasil na Copa de 70 foi ele, Jairzinho. O atacante botafoguense marcou em todas as partidas, mas o artilheiro geral foi Gerd Müller, da 3ª colocada Alemanha, com 10 gols. Pelé foi quem mais teve participações diretas para gols brasileiros: 4 feitos e 6 assistências.
CAMPANHA EM 1970
Primeira fase:
- Brasil 4×1 Tchecoslováquia
- Brasil 1×0 Inglaterra
- Brasil 3×2 Romênia
Quartas: Brasil 4×2 Peru
Semifinal: Brasil 3×1 Uruguai
Final: Brasil 4×1 Itália