A esperança que Rayssa Leal nos trouxe
Por: Henrique König
Eu não sabia que precisava do skate na Olimpíada até acompanhar o skate na Olimpíada. Na madrugada pelo horário de Brasília, correspondente ao dia 26 de julho (segunda-feira), a maranhense Rayssa Leal entrou para história. A brasileira de apenas 13 anos conquistou a medalha de prata no skate street olímpico. Com o feito, se tornou a mais jovem atleta do Brasil a medalhar em Jogos Olímpicos. Também é a 3ª mais jovem atleta da história a subir em pódio.
Rayssa esbanja carisma. Se divertiu enquanto competia. Conquistou amizades no próprio circuito de disputa. Recebeu o apoio das companheiras de seleção, as skatistas mais velhas Leticia Bufoni e Pamela Rosa, que ficaram de fora da decisão por medalha. A maranhense fez os melhores saltos, mas os jurados interpretaram que a japonesa Momiji Nishiya (também de 13 anos) mereceu as melhores notas, portanto, ela foi a vencedora. A também japonesa Funa Nakayama fechou o pódio com o bronze.
Os brasileiros pararam o que estavam fazendo para torcer por Rayssa. A menina encantou a todos com sua irreverência. Se a Olimpíada terminasse ali, já estava sentimentalmente ganha para o Brasil. Ela evocou memórias de infância em cada um mais velho. Ela representou o jeito infantil e ao mesmo tempo maduro de lidar com a situação. Uma conexão que só seria possível na união dos detalhes: a primeira Olimpíada do skate street, sua exata idade de 13 anos, seu jeito de ser que cativou a quem assistiu.
Rayssa será lembrada por décadas pelo que já apresentou em sua primeira Olimpíada. Se tornou a 10ª brasileira a conquistar medalha em competições individuais. História recente para o esporte do Brasil, pois começou com a ainda competidora Ketleyn Quadros, judoca que conquistou o bronze em Pequim 2008.
Tantas competidoras brasileiras, no calor da exaltação das vitórias, colocamos na balança da conquista serem mulheres em um Brasil que é tão repleto de preconceitos. De violência. Rayssa ainda menina. Rayssa com tanto a ensinar e talvez nem perceba. A cada movimento, a cada manobra que executa como poucas ou como nenhuma, porque o sentimento é de que o ouro, em uma avaliação menos parcial, deveria ser dela. A cada erro, nas
naturais quedas que o skate obriga, a cabeça erguida, o sorriso no rosto, a esperança para um país que tanto sofre nos últimos tempos.
Em um mundo que precisou aprender a sorrir com os olhos, por conta das máscaras, e que está envolto em tantos problemas que afastam o mostrar dos dentes, o sorriso de Rayssa, para o planeta inteiro ver, encantou pela naturalidade, pela esperança que é carregada (e recarregada) nele.
A expectativa por dias melhores. A importância do investimento no esporte. O skate que sofreu preconceito ao longo da história por sua polêmica prática. O skate que ainda é mal visto por milhões de pessoas. Em poucas palavras, Rayssa, na entrevista após a competição, nos disse que o skate é para meninas, é para qualquer pessoa que deseje praticar. Novamente ela dando aulas.
Raysa que nos deixou sorridentes. Rayssa que nos deixou reflexivos. Rayssa que nos deixou esperançosos. E, pelo outro lado da janela onde estiveres lendo este texto, consegues encontrar a esperança? Não tenho dúvidas de que no sorriso de Rayssa é possível.