AMIGOS DO CAMINHO : A solidariedade em tempos de pandemia
Associação mantém doações de cestas básicas e café da manhã, mas teve de fechar a sede durante a quarentena
Por Carlos Cogoy
Desemprego em alta, empresas fechando as portas, e uma perspectiva desanimadora diante da lentidão na vacinação contra a Covid 19 no Brasil. Num momento crítico, com a capacidade hospitalar no limite, e o elevado número de óbitos, somente a vacina pode atenuar os impactos sociais e econômicos. Mas, enquanto o País se consolida como a nação que pior enfrenta a pandemia, inúmeros grupos de voluntários, empenham-se em ações para atenuar o desamparo e sofrimento de moradores de rua, e famílias em situação de vulnerabilidade. Em Pelotas, uma dessas iniciativas, a Associação Amigos do Caminho (AMICA), está completando cinco anos em atividade. O trabalho solidário foi adaptado a restrições decorrentes da pandemia. Mas o grupo também convive com um dilema. Afinal, devem ser redobrados os cuidados.
DILEMA – Distanciamento, álcool gel, máscaras protetivas e luvas. As medidas têm sido rigorosamente mantidas. Mas, diante do agravamento da contaminação, também aumenta a preocupação com o risco. Criada em 2016, a AMICA durante período disponibilizou sede para o atendimento aos necessitados. Numa primeira fase, o grupo recebia as doações e realizava algumas das entregas à rua Andrade Neves – entre Major Cícero e Dr. Cassiano. A permanência foi de dois anos no local, até que o proprietário negociou o imóvel. A seguir, nova etapa, também com duração de dois anos. E os atendimentos passaram a ocorrer no espaço à rua Barão de Santa Tecla, esquina com a Senador Mendonça. Integrantes mencionam: “Com pandemia tivemos de parar com a assistência presencial na casa à rua Santa Tecla. Afinal, não fazia mais sentido manter o aluguel. Atualmente, as principais atividades da AMICA, são a distribuição de cestas básicas às famílias cadastradas, e o café aos domingos para moradores de rua. Além disso, pelas ruas da cidade, semanalmente é distribuída janta ao nosso público alvo. Porém, estamos com muita dificuldade em função da pandemia. O medo do contágio é nosso parceiro. Enfrentamos o dilema, nos resguardar? Mas, e os nossos amigos, passando fome? Qual o procedimento correto? São duvidas discutidas e constantemente avaliadas pela diretoria”.
UTILIDADE PÚBLICA – A AMICA mantém atividades mediante as doações da população. O trabalho está formalmente reconhecido, através da Leia no 6.627 de 30 de agosto de 2018. A Associação Amigos do Caminho foi declarada de utilidade pública, na lei foi subscrita pela prefeita Paula Schild Mascarenhas. A Associação dispõe de estatuto, CNPJ, e diretoria. Mas não recebe valor do poder público. Assim, as atividades dependem da abnegação dos sessenta voluntários, e os inúmeros amigos da comunidade. Doação de gênero alimentício pode ser feita à rua Senador Mendona 264. No Facebook, acesse Associação Amigos do Caminho (AMICA), já no Instagram: @ amigosdocaminho. Ainda podem ser feitos depósitos na conta 25437-1, Ag 2959-5 do Banco do Brasil, e a chave Pix é 27255755000193. Informações via WhatsApp: (53) 9 9982.7711.
CAFÉ DA AMICA – Na origem da AMICA, o então grupo “Sopão de rua”, que se reunia para oferecer refeições. Com o surgimento da AMICA, e a sede para atividades, assistidos recebiam roupas, e podiam tomar banho no local. Também houve doações de móveis e utensílios domésticos. Além disso, o grupo realizou campanhas para o resgate da cidadania, como o apoio para viabilizar internações hospitalares, e orientação a quem não dispunha de documentos. “O café da manhã nunca parou. Foi a nossa primeira atividade, aos domingos às 8h, e nunca interrompemos. São quatro grupos que se revezam. Cada grupo organiza os cafés com recursos próprios. Então varia muito, e é difícil precisar quantos são servidos. Mas vai desde café, suco ou achocolatado, até sanduíche, bolo ou cachorro quente. E chamamos o projeto de Café da Amica. O perfil do público que se reúne no Altar da Pátria, à avenida Bento Gonçalves, é majoritariamente masculino, e apresenta alguns abaixo da linha da pobreza. Do Altar da Pátria, muitas vezes saímos pela cidade, e conseguimos atender mais alguns” acrescentam.
CESTAS BÁSICAS – A distribuição de cestas básicas, informa a equipe da AMICA, é para cadastrados pela assistente social. Para evitar aglomeração, cada cesta é entregue na casa do assistido. Em média, mensalmente são distribuídas cinquenta cestas básicas. O grupo também informa que necessita de espaço, para voltar a servir a janta. “O ideal seria um imóvel sem custos, pois a questão financeira é delicada nesse momento. Temos consciência de que é algo bastante difícil, mas ainda temos a esperança de conseguir. Quanto aos gêneros alimentícios, precisamos de tudo. Todos os itens que formam uma cesta básica. Hoje não temos o necessário para a próxima entrega das cestas. Mas estamos na luta”, dizem os voluntários.
COMUNHÃO – AMICA não está vinculada a nenhum credo religioso, mas a solidariedade evoca uma conotação espiritual. O grupo observa: “Normalmente é feita uma oração, junto aos nossos assistidos. Algumas vezes, eles mesmos se oferecem para orar. A AMICA não é ligada a nenhuma religião, mas sempre gostamos de aproximá-los do sentimento de espiritualidade. Afinal, nossos amigos estão na rua e sofrem muito com a falta de um amparo espiritual. Nosso principal objetivo é o amparo diante de uma grave situação que é a fome. Porém, a volta de uma mesa de jantar, é difícil descrever como é maravilhosa a sensação de solidariedade e comunhão. E, após alguns anos de ações, formaram-se laços de amizade e gratidão. Esses laços não se romperam ainda, mas estão muito abalados devido à pandemia”.