ARQUIPÉLAGO : Território coletivo à arte contemporânea
Intercâmbio, exposições, debates, residência artística e oficinas de desenho, pintura e cerâmica. Ações na casa “Arquipélago”
Por Carlos Cogoy
Dia 20 deste mês acontecerá a primeira atividade da casa/atelier Arquipélago – rua 3 de Maio 765 -, neste ano. No território coletivo, que reúne os artistas Francis Silva, Cláu Paranhos, Rejane Brayer Pereira e Mario Schuster, acontecerá defesa de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), da artista Mariane Davila. Até lá, permanecem em atividade no atelier, os artistas Schuster e Cláu. Para conhecer o espaço, e visitar as criações do grupo, agendamento pode ser feito via Facebook: Arquipélago Casa/Atelier/Espaço de Arte.
PROJETOS – Francis Silva informa sobre as atividades deste ano: “Tivemos uma pré-reunião em dezembro e deixamos alinhavada uma programação para este ano. Ao retornarmos em março teremos dois eventos para sinalizar o ano. E, ao longo do ano estaremos propondo oficinas de desenho e pintura, de ‘Bonecas Feias’ e de cerâmica. Em maio teremos a residência artística de Antônio Augusto Bueno do atelier Jabutipê de Porto Alegre, que culminará com uma mostra dos trabalhos feitos no ‘Arquipélago’. Depois, o grupo, ainda sem data prevista, fará um trabalho no Jabutipê. Em junho vou participar de uma mostra na República Tcheca, e provavelmente o coletivo participará de uma exposição no Rio de Janeiro. Em nossa programação também projetos de exposições no atelier, encontros de leituras, workshop com assuntos emergentes na área de arte e cultura. E vamos tentar trazer um profissional da área para compartilhar um pouco de seus saberes, e alimentar nossos conhecimentos. Está previsto um festival de inverno para julho. Nos meses seguintes trabalharemos num projeto de autoria de Rejane Brayer chamado ‘O Muro’. Há alguns meses que o grupo tem, em conjunto com a Rejane, pesquisado, anotado, e debatido o projeto”.
COLETIVO – Potiguar radicada em Pelotas há mais de vinte anos, Francis cursou a licenciatura em artes na UFPel. Em 1999, participou da coletiva Desenho III do projeto Arte e Cultura, na sala do então Instituto de Letras e Artes (ILA). Em 2004, despontou na etapa regional do Salão Jovem Artista da RBS. Em 2008, venceu o prêmio “Novos Talentos” do Salão Jovem Artista. Na capital gaúcha, menção honrosa no Salão de Arte da Câmara de Porto Alegre. Entre 2009 e 2015, integrou a coordenação dos projetos internacionais “Entrelínguas” e “5x5”. As experiências instigaram o surgimento do “Arquipélago”. Ela explica: “As necessidades dos projetos pediam um lugar para abrigar os trabalhos, disponibilizando-o à comunidade e pesquisa. Esses projetos precisavam de um lugar para a elaboração de novas edições, com espaço para que pudéssemos orientar os artistas convidados locais, na interpretação e realização das propostas vindas de outros artistas. Enfim queríamos um espaço para receber os artistas que participaram das edições. Aqueles que quisessem vir ao Brasil para expor ou fazer residências, pois havia muitos deles solicitando a vinda, entre outros desejos. Durante a adaptação, minha e dos parceiros no Arquipélago Casa Atelier em 2016, notamos que seria difícil juntar completamente as necessidades, do ‘EntreLinguas’ principalmente, com as nossas como artistas. Vimos que a casa não possui ambientes suficientes para o acervo. Priorizamos então, a acomodação dos nossos trabalhos, bem como a criação de cada integrante, projetando a realização de mostras, palestras e oficinas”.
ARQUIPÉLAGO – A artista menciona sobre os convites para integrar o grupo: “Buscamos o lugar e convidamos alguém que pensasse como a gente e precisasse de um lugar e do coletivo para produzir. A Cláu Paranhos, artista multimídia e arte-educadora, que trabalha com as ’Bonecas Feias’, há três anos veio cursar o mestrado em Pelotas. Então a convidamos para participar dos projetos e dividir um atelier. Em seguida, foi convidada Rejane Brayer Pereira, artista que trabalha com objeto, escultura, fotografia e vídeo-arte. Ela que teve a ideia do nome ‘Arquipélago’. Atualmente estamos puxando para a nossa roda de ciranda, a artista Zenilda Cardoso, que se dedica ao desenho escultórico do corpo”.
MEXICANO Jay Alfonso Vélez (Foto), participou da abertura do “Arquipélago” em julho do ano passado. Ele acompanhou o evento “O mercado de arte”, debate organizado por Cláu Paranhos, que reuniu representantes de diferentes segmentos. O artista mexicano, entre 9 de julho e 9 de agosto, realizou residência artística na casa/atelier.
Contato com Jay começou em 2015, quando participou do “EntreLínguas”. Ele foi convidado através da mexicana Ruth Gonzalez, residente em Valência, que já participara do projeto internacional. Como um dos compromissos é que, após participar, o artista convide mais cinco, Jay foi um dos indicados pela conterrânea. No Casarão 6, duas de suas obras foram interpretadas pelos realizadores Ana Paula Maich e Zeca Nogueira. Com a criação do Arquipélago, ele fez contato para expor, e houve a sugestão da residência. Na estada, ele criou arte conceitual e expôs sobre a arte contemporânea no México.
ARQUIPÉLAGO CONTEMPORÂNEO – Na esteira de espaços como o “Mafuá das Artes”, Casa Paralela, Triplex, Ocupação Coletiva de Arteirxs (OCA), e o grupo Superfície que atua no Ágape, o “Arquipélago” surgiu comprometido com a arte contemporânea (Foto).
REFLEXÃO – “Somos feitos de sons, cores, imagens, movimentos, formas, gestos, estilos e sonhos. As artes visuais contemporâneas fazem o ser silencioso, e lhe pedem a curvar sobre si mesmo num silêncio para buscar seu conhecimento e articulá-lo diante da obra. As artes visuais desafiam para ver o sentido do mundo, e o sentido do mundo de outro jeito. Ela agrega todas as outras áreas do conhecimento e confronta seu saber, tanto de quem a cria quanto de quem a visita nos espaços de exposições. Isso acontece enquanto o tempo, mesmo veloz e atual, nos apresenta conteúdos de fácil acesso sem carecer de pensamento para elaborar coisas e coisas. Quer desenhar uma casa? A internet te mostra mil ideias prontas etc. Trabalhamos com, e, para a arte contemporânea, que é a área em que nos formamos, porque senão não sobrará muita gente para defendê-la, o que não nos impede de valorizar os colegas que trabalhem numa linha mais formal ou moderna, artesanal, assim como valorizamos e aplaudimos as outras áreas da cultura”.
Leis de incentivo
O circuito da arte marcou Pelotas na década de oitenta. Mostras, galerias e mercado. O contexto mudou, mas as políticas públicas podem contribuir. “O Arquipélago não é uma ONG e ainda não temos CNPJ. 2016 foi nossa primeira experiência como coletivo e optamos por cuidar da produção e da cultura. Pretendemos sim acessar os programas de incentivo à cultura, e saberemos como aplicar, ou seja, devolver a própria comunidade os recursos vindos dos programas, sejam do município, Estado ou de outras esferas”, conclui Francis.