Diário da Manhã

domingo, 24 de novembro de 2024

Notícias

ARTE NA OCA : Práticas experimentais “UrbaNômades”

ARTE NA OCA : Práticas experimentais “UrbaNômades”
26 agosto
09:54 2015

Mostra “MaLoCa.Lab” na Ocupação Coletiva de Arteirxs (OCA) – Praça da Alfândega -, até dia 14

Por Carlos Cogoy

Arte de Rogério Marques desafia restrições

Arte de Rogério Marques desafia restrições

Amanhã acontecerá ação estético-ético-política em área central. Trata-se de desdobramento da mostra “Laboratório de Práticas Experimentais UrbaNômade e Outras Maloqueiragens” (MaLoCa.Lab). Na sede da Ocupação Coletiva de Arteirxs (OCA) – imediações do Porto -, visitação poderá ser feita até dia 14. No primeiro andar do sobrado que acolhe práticas alternativas de artistas e estudantes, estão criações dos pesquisadores e autores Maurício Ploenals, Rogério Marques e Cristiano Araújo. Como convidados: Vitor Pavan e Renato Uveda. No local, luneta, barco, bicicleta, tonéis, fotografias, estruturas cujo objetivo é desde moradia até microgaleria. Saiba mais: malocalab.tumblr.com

OKUPA em área de “interesse urbanômade”. Será amanhã, e a área consta da catalogação realizada neste mês por Rogério Marques. No trabalho “Desobediência urbana” ele cartografou áreas ociosas e abandonadas. O “Okupa”, como define, é a “ocupação urbana com disposição anarco-libertária”. Na quinta-feira, a ideia é que uma das várias zonas urbanas detectadas pelo mestrando em artes visuais na UFPel, receba a estrutura de autoria de Cristiano Araújo. Trata-se de “caixa” com a designação “Espaço de Arte Contemporânea Cao”. No terreno que será colocado o CAO, acontecerá exposição do artista “Aeroguinomo”. Rogério aborda sobre a ação: “Será uma Okupa relâmpago como proposição de arte. Uma crítica ao sistema verticalizante promovido pela estrutura da cena atual. Onde você detém poder político para deter poder sobre o capital cultural, ou você dispõe de poder financeiro para submeter o capital cultural à promoção de um ou outro. Em ambos os casos os fins não legitimam os meios. E o meio da arte acaba refém de uma meia dúzia de personalidades divididas entre políticos e detentores de recursos financeiros. Mas cansamos desses aplicadores de ataduras. Isso por um lado. Por outro, para além da crítica umbilical, entendemos que o processo de gentrificação dos espaços comuns da cidade, promovido pela aliança entre o poder público-privado em favor da especulação imobiliária, vem submetendo uma população de inquilinos a condições de existência subespaciais. Os materiais utilizados na ‘microsquat’ e no Espaço Cao fazem referência a essas duas situações. Vidro e Policarbonato para fachada e material de construção civil para área de vivência. Também continuará a ocupação da margem de Rio Grande do Canal São Gonçalo, proposição do Mauricio. Por isso, o barco e a luneta. O barco para atravessar o canal e luneta para avistar a ocupação”. A “Okupa” será documentada em fotos e vídeo.

Maurício morou na “Crotoca”

Maurício morou na “Crotoca”

OCA – Na “MaLoCa.Lab”, Rogério Marques também participa com o “Micro-Squat Periplaneta Americana”, e a criativa cadeira “Confortablescape”. Criada ano passado, a cadeira é fixada em gradis. Na mostra estão fotos do Rogério e amigos, bem acomodados sobre grades em áreas públicas de Porto Alegre. O artista acrescenta: “Minha posição política é antiautoritária, antidisciplinar.  Espontaneamente sou anarquista, mas todos esse rótulos são só rótulos se não antecedidos por uma prática. Perceba que minhas práticas dizem a que se propõem. Acho mais interessante assim do que a necessidade prévia de defini-las”. Cristiano, além do CAO, também expõe a micro-habitação “Crotoca”, estrutura que habitou durante um ano. Outra criação é a “Flotoca”, projeto de embarcação à base de tonéis. A ideia é navegar pelo São Gonçalo e Lagoa dos Patos, deslocando-se até Porto Alegre, onde a embarcação integrará mostra. Projeto e tonéis estão na “MaLoCa.Lab”. Já os convidados Renato Uveda e Vitor Pavan, participam com o dispositivo de moradia portátil “A posse simbólica da Terra”, que está colocado à frente da OCA.

QUESTIONAMENTOS – Rogério menciona a arte nômade: “Tudo aqui é puro deboche ou fina ironia ao que se passa com o circuito artístico de Pelotas. E também a questões outras e tão graves da cidade. Ao mesmo tempo é uma exposição de arte que, não poderia se dar antes, por falta de um contexto adequado com as ideias articuladas pelos trabalhos expostos. Entendo que é hora de pensar a arte em diferentes contextos. Um enorme bloco da arte de agora parece mover-se em uma consciência de si e do outro. Para mim está bueno esse movimento. Para além do glacê, hoje insinuamos em Pelotas a possibilidade de uma cena potente. Somos os viajantes, se Maloca.Lab fala de algum lugar, é do lado do que se move. Depois nada está tão mofado assim, me parece que estamos mais próximos de um ajuste de condutas do que de um conflito bélico, me parece que é necessário só quebrar um silêncio aqui e uma má vontade ali. Isso nas artes visuais, porque nesse lugar amplo e esvaziado que chamam de cultura, já se sente o cheiro de pólvora e eucalipto queimado nas ruas do Porto, uma nuvem cinza insinua um longo inverno na cidade”.

MUDAR – “Vivemos a espetacularização do espetáculo e isso é péssimo. A arte traz uma informação potente. Política… o dadaísmo já fez um século, e os pintores da comuna quase dois, e mesmo assim ainda se tem uma enorme dificuldade em gingar sobre a sua atuação nos processos de ruptura em sistemas autoritários. Propagar mal entendidos é uma arma potente de controle. Estamos na época das grandes revisões. Não vejo por conta disso, dessa potência de ruptura da arte, e não só das artes em geral, mas também da filosofia e das ciências humanas modernas como a geografia e suas ramificações, uma solução estatal massiva para esse problema dos mal entendimentos históricos. Me parece que nenhum governo vai minar a si mesmo. Nesse sentido sou mais sensível a práticas diretas. Uma horta na praça ali, uma OCA aqui, um espaço autônomo lá. Uma pedra que encontra uma vitrine do capitalismo especulativo acolá. Confio que essas pequenas constelações tenham a potência de explodirem em galáxias. Me parece importante que existam pessoas fazendo coisas acontecerem, iniciando processos ressonantes. Mas com desapego, porque plantar um limoeiro na calçada defronte a casa pra depois vender limonada pro vizinho é uma tremenda sacanagem né?”, indaga Rogério.

Embarcação e bicicleta são parte da criação de Maurício Ploenals

Embarcação e bicicleta são parte da criação de Maurício Ploenals

 

Notícias Relacionadas

Comentários ()

Seções