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terça, 19 de novembro de 2024

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ARTE URBANA : Livro registra o efêmero das paredes

01 junho
09:07 2016

Dez anos de intervenções urbanas, com cartazes, adesivos e grafites, no livro de Felipe “Povo”

Por Carlos Cogoy

O personagem recorrente é facilmente visualizado em diferentes ruas e bairros. Olhar entristecido contrastando com o nariz de palhaço. A boca silenciada numa máscara rudimentar. Criação do grafiteiro e artista visual Felipe “Povo” Silva, a imagem questiona as contradições contemporâneas. Arte urbana que, inscrita nos muros e paredes, está sob o risco do efêmero. Conforme Felipe, devido a alterações na paisagem da cidade, algumas já desapareceram.

Imagem que metaforiza solidão e penúria e o autor Felipe “Povo” Silva

Imagem que metaforiza solidão e penúria e o autor Felipe “Povo” Silva

Para registrar os dez anos de criações, que começaram através de “lambes” (cartazes), passaram pela fase com “stickers” (adesivos), e desde 2009 são elaboradas através do grafite (técnica com spray), ele está divulgando o livreto “Arte Manifestação Pública” (96 páginas). Lançamento programado para domingo, durante o 33º Piquenique Cultural, foi adiado devido à chuva. Assim, informa o autor, a nova data será dia 26 de junho. Como local, persiste a Praça da Rodoviária a partir das 13h. Antes disso, quem desejar adquirir exemplar a R$20,00, pode encontrar no “Libre” (Bici, Café, Pan), à Praça Cel. Pedro Osório 61/A. Também é possível encomendar diretamente com o autor no email: [email protected]

INTERVENÇÃO – Felipe acrescenta: “A ideia inicial era trabalhar nas ruas através de imagens críticas ou reflexivas. Pretendia mudar, de alguma forma, o cotidiano e mexer com o imaginário das pessoas. Então, mudar a rotina massificada que a sociedade apresenta, buscando informações visuais diferentes do cotidiano. No início me utilizava de técnicas com stencil, o molde vazado, e os adesivos. Em 2009 comecei a trabalhar com a técnica do spray, realizando os desenhos que fazia no papel em casa. E dividia essas ideias com os cidadãos que transitam pelas ruas. No livro também constam textos, bem simples. A dimensão é de 15cmx13cm, com a capa em papel Kraft, e folhas internas em couche fosco e impressão colorida off-set”.

RUAS – Muitas das imagens criadas por Felipe, estão em espaços e ruínas nas imediações do Porto. Para organizar o livro, ele reuniu fotos que havia feito para registrar as imagens. Também amigos colaboraram com fotografias de alguns dos seus desenhos. Sobre a arte na rua, observa: “Vejo as intervenções urbanas como uma forma de expressão necessária e vital. Há diversas discussões sobre o tema, questionando se é arte ou não. Considero apenas como uma necessidade. Afinal, desde a pré-história nos comunicamos através das paredes. E, trabalhando com arte nas ruas, o resultado é instantâneo, a resposta das pessoas é direta e sem hipocrisia. Alguns param e conversam, outros passam e falam até xingamentos e afins. Mas a atmosfera de resposta ao trabalho, é o que mais motiva. A rua é um espaço público e democrático. Assim, ouvir o que as pessoas pensam de verdade é muito bom. Trata-se de saber onde vivemos, o que pensamos, tentando, de alguma forma, entender por quê somos diferentes. É um autoconhecimento e uma percepção da aldeia na qual vivemos. Então, apesar de diversos contratempos durante o trabalho nas ruas, houve mais momentos bons do que trocas de energia ruim”.

Felipe PovoOvop 4TRAJETÓRIA – Formado em artes visuais na UFPel, Felipe começou a desenhar na infância. Em casa ou na escola, desenhava carros, casas e paisagens. Ao fim dos anos oitenta, skatista, reparou nas figuras que adornavam o “shape”. Aquela expressão aguçou o imaginário do jovem. Já a pintura somente despertaria, ao se deparar com livro sobre Van Gogh na escola. “Na universidade busquei conhecer e aprimorar técnicas e práticas. A opção pela licenciatura foi para repassar o que havia aprendido, acreditando que através da sensibilização do imaginário é que podemos estimular um mundo diferente aos alunos. Naquela época, não havia muito espaço para abordar sobre o grafite e intervenções. Atualmente, no entanto, a arte urbana é mais comentada nas revistas, jornais e outros meios. E os alunos estão realizando trabalhos relacionados ao grafite”, diz Felipe que, em Herval, desenvolve o projeto “Ctrl A: Inclusão e Arte”, com oficinas de grafite e desenho. A iniciativa é da administração municipal.

Felipe PovoOvop 6MOSTRAS – Em 2011 no Ágape, exposição em conjunto com Junior “Asnoum”. Em 2013, participou de coletiva na Casa de Cultura Mário Quintana. A mais recente ocorreu no Espaço de Arte Daniel Bellora.

GRAFITE – Felipe “Povo” reflete: “Estão valorizando o grafite, em muitas situações, para diminuir com as pichações. Mas o grafite não foi feito para tapar pichação, ou seja, tapar o sol com a peneira. A arte do grafite é um trabalho social e político por excelência, e uma ótima forma de democratizar a arte para todos. Assim como os muralistas mexicanos, que acreditaram que a arte era para todos, e todos poderiam ser representados nos murais, isto é, mulheres, trabalhadores, índios, mouros, negros… E não apenas os senhores donos de alguma coisa”.

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