Diário da Manhã

sábado, 27 de abril de 2024

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ARTIGO: Pílulas de memória política

ARTIGO: Pílulas de memória política
10 dezembro
21:14 2023

Marcus Vinícius Martins Antunes

O coronel Pedro Américo Leal, carioca de nascimento, era deputado estadual, com posições conhecidas pela dureza de apoio ao regime. Mas também homem afável e digno do sobrenome. Convivi com ele como assessor jurídico para reforma do Regimento Interno da Assembleia do Rio Grande do Sul. Nessa ocasião, em meio a alguns debates, como remédio aos oradores renitentes em se retirar da tribuna, quando esgotado o prazo regimental, propôs que se instalasse um alçapão no plenário. Quando o orador se passasse no tempo, seria acionado e o orador despareceria chão abaixo. Nunca se soube bem se a proposta era mesmo ironia.

Mas está em questão certa sessão de debates nesse mesmo Plenário.  Eram outros tempos. Pelotas pelo MDB tinha representação de alto nível, por João Carlos Gastal, Presidente, e Lélio Souza, como Líder da Bancada estadual. Getúlio Dias era deputado federal. Pela ARENA, estavam Oscar Westendorff, Pederzolli Sobrinho e Vitor Bacchieri, se não falha a memória. Na Assembleia Legislativa tinham acento mais ou menos 55 deputados, entre eles uma só mulher, Dercy Furtado, que depois se tornou conhecida também por mãe do cineasta.

Ela estava presente na sessão em que se discutia certo assunto polêmico. Os oradores se sucediam, entre os representantes dos dois únicos partidos permitidos pelo regime militar. Pedro Américo, pela ARENA, assoma à tribuna, em passo marcial, veemente, e faz uma frase a seu gosto, com resto de sotaque carioca, para desafiar os colegas: “Os deputados tem de ter a coragem testicular de votar desse modo!”.

A deputada Dercy, em sua posição distante, moveu a cabeça, em voz baixa: “Não concordo”.

 

Advogado

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