Diário da Manhã

domingo, 24 de novembro de 2024

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Atelier comunitário para reuso de tecidos

03 setembro
09:41 2015

Por Carlos Cogoy

Atualmente ela elabora figurino para o show dos músicos Zé e Tatu – José Menna e Tato Ribeiro. Na agenda também a criação de peças para o espetáculo “Palco de Feiras” que integrará o festival “Teatrua” em outubro. No cotidiano segue a confecção de roupas personalizadas.  Conforme expressa, para “mulheres de atitude”. Algumas de suas criações, além da cidade natal, seguiram para Porto Alegre, São Paulo e Peru. Paralelamente às costuras, está cursando o último semestre da formação em Design de Moda na UCPel.

Joana de Leon dos Santos “Doida da Espanha”

Joana de Leon dos Santos “Doida da Espanha”

Joana de Leon dos Santos “Doida da Espanha” – apelido carinhoso de autoria do amigo Jonas Rodeghiero -, está divulgando mais uma boa ideia. Em conjunto com Larih Schiavon, será organizado atelier comunitário na Ocupação Coletiva de Arteirxs (OCA) – Praça da Alfândega. Conforme acrescenta, trata-se de projeto social que oferecerá aulas e núcleo de produção aos interessados em aprender técnicas para reuso de tecidos. Ela menciona: “O principal foco é a presença das mulheres que estão à margem na sociedade. Pretendemos oferecer a elas um suporte profissional. Assim, não permanecerão à mercê dos homens, tampouco dos governantes. O saber popular é o que há de mais rico, e a troca e interatividade geram ideias muitos melhores.

Por isso, eu e a Larih acreditamos que a ideia vai dar certo. O maquinário já está na OCA. O que está dificultando o início, é a quantia para regulagem das máquinas. No entanto, esperamos conseguir em breve. Daí passaremos a profissionalizar os participantes. O objetivo é também trabalhar com o lixo e, dependendo do andamento, poderemos nos cooperativar. E juntos somos mais fortes”. Para conhecer o trabalho de Joana, peças podem ser visualizadas no Facebook. Encomendas e informações no fone: (53) 9101.4596.

Joana de Leon Doida da Espanha  DoisINÍCIO – Moradora do Arco Íris, Joana comenta sobre o início do interesse pela costura: “Eu não tinha me ligado, mas depois que comecei a lidar com as máquinas, redescobri a paixão que tinha quando criança. É o cheiro de óleo e a poeira dos tecidos que haviam na casa da tia Magali. Ela tecia e costurava, e aquilo voltou em mim com uma motivação gigante. Na adolescência costurava algumas coisas, e acho que sempre fui criativa. Porém, não tinha consciência disso até ingressar no curso de artes em 2006. Foi a oportunidade de encontrar pessoas incríveis, com pensamentos e ações parecidos com os meus. Essas relações mudaram o rumo da minha caminhada. E durante um tempo cursei artes. Até que ganhei bolsa do Prouni e fui para o curso de moda. Eu já estava trabalhando com costura. Mas o momento crucial ocorreu mesmo em 2007. Eu meu companheiro encontramos muito tecido no lixo. Levei para casa, lavei e decidi que iria me dedicar à costura. Ganhei uma máquina da minha tia costureira. Daí, foram dias e noites na busca do conhecimento técnico. E, descobrir sozinha, foi determinante para a maneira que desenvolveria meu trabalho. Então, meu trabalho resultou, tanto do material encontrado no lixo, quanto da relação solitária de aprendizado com a máquina”.

CONSUMISMO – O vestuário move indústria poderosa, com grifes que ditam comportamentos e valores. Joana avalia: “A moda é a grande indústria da exploração da vaidade e da força de trabalho. Ela te força a consumir um produto para parecer com fulano ou beltrano. Somos todos ‘Barbies’. Em contrapartida, essa dimensão das criações próprias e da ressignificação do usado, torna a coisa menos sistematizada. Mesmo assim, algumas marcas que começam pequenas e bem intencionadas, acabam caindo no mais do mesmo. E, para revender, passam a produzir produtos em maior escala. Na minha ideia de trabalho isso não rola, pois a massificação não me contempla. Eu tenho muito carinho com os brechós, pois se pode imaginar mil aproveitamentos para uma peça. É muito legal ressignificar, modificar ou manter a história de uma peça. Pode-se até desconhecer a trajetória, mas sabemos que há uma história ali”.

LIXO – E Joana comenta acerca do reaproveitamento: “Considero o lixo como fonte de inspiração. E não apenas os tecidos. Eu gosto de catar coisa na rua. E encontrar outros usos para o material que acho nas lixeiras. A ‘Maria Molambo’ que está em mim, grita quando vê um lixo. Encontro coisas incríveis, e já encontrei até vestido dos anos sessenta com cabide. Sinto-me feliz. Enquanto alguém vai para o shopping, eu vou para os contêineres de lixo. E os tecidos aparecem com freqüência. E me encanto com o povo que trabalha com os restos dos outros”. Ela conclui: “Existe uma nova postura de consumo, que vem com toda essa onda de dar uma sobrevida a nós, humanos, na Terra. E isso reflete diretamente no vestuário. O pessoal está frequentando as feiras, brechós e o armário da avó. É uma forma de resgate da própria história. Também me interessa como os grupos se ‘fantasiam’, o que permite identificar a ideia e postura de alguém. Basta olhar os ornamentos, é algo bem tribal que nos identifica como iguais sem trocar uma palavra”.

 

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