Diário da Manhã

sábado, 23 de novembro de 2024

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Athos critica calendário e falta de incentivos: “Não nos ouvem”

09 abril
08:51 2021

Por: Henrique König

A pandemia parecia que se afastaria, mas segue em 2021 com tudo. Os problemas no futebol do interior gaúcho e brasileiro não são exclusivos dela. São de longa data. Mas na pandemia se agravaram. A conversa foi com o meia-atacante Athos, hoje com 40 anos, que garante: “Eu estou com a carreira feita. Penso é no sonho da juventude sem oportunidades. Queremos lutar por eles”.

Desde 2020, com a interrupção do futebol, treinadores e capitães da Divisão de Acesso organizaram-se em grupo virtual. Athos, carioca com grande passagem pelo interior gaúcho, incluso em 2011 pelo Xavante, hoje morando em Santa Catarina, acompanha as movimentações. Também mantém contato com Gabriel Schacht, presidente do Sindicato dos Atletas.

“Desde o ano passado, com a decisão da Federação Gaúcha e dos clubes, houve o cancelamento da Divisão de Acesso e muitos ficaram sem trabalhar. A principal competição no Brasil cancelada foi a Divisão de Acesso, pelo acordo de não haver rebaixamento no Campeonato Gaúcho. Muitos atletas desistiram da carreira de jogador. Estão sobrevivendo de bicos, procurando empresas. Quem ficou fora da primeira divisão estadual está fora do futebol. Hoje são motoristas de Uber, serventes de pedreiro, procuram algum empregador. A maioria dos jogadores não fez faculdade ou mesmo curso profissionalizante. A exigência da carreira, de estar sempre viajando e trocando de lugar, complica”, analisa Athos.

A organização com atletas e membros de comissão técnica é o Movimento Todos pelo Interior Gaúcho. “Infelizmente os clubes pensam só no

dinheiro, mas não nos atletas e em seus familiares. Com a pandemia, apostávamos em correções de calendário. Competição de pelo menos oito meses, de 27 a 30 jogos. Se tu analisares hoje, um time chegar até a final do Acesso mal dá 14 jogos. Se for eliminado antes, são menos partidas.”

E como corrigir isso, Athos? “É preciso criar atrativos. Nos repasses das federações durante a pandemia, os clubes aceitaram merrecas. Estão nem aí para o interior. A FGF poderia pegar patrocinadores master para a Divisão de Acesso, por exemplo, um Sicredi. Chama a competição de Divisão de Acesso Sicredi, ou o nome da empresa que fechar contrato. Propomos um calendário e ideias para o acesso, de dividir o patrocínio entre os clubes. Mas não nos ouvem.”

A situação do interior gaúcho definha faz temporadas, não é exclusividade da pandemia. “Sem atrativos e incentivos, a Copa RS vale nada. Muitas vezes pagam abaixo do piso salarial para os atletas. Às vezes, o futebol amador está melhor do que o profissional. Pagam até mil reais por jogo. Então existe uma acomodação da Federação e dos clubes em buscar recursos”, aponta o experiente atleta.

“Pessoas assumem clubes por política, para colher interesses pessoais adiante.”

Athos foi campeão pelo Inter de Lages em 2014 (foto) e tem passagens pelo Xavante, pela Chapecoense, pelo Criciúma e pelo Esportivo
Foto: Divulgação / Inter de Lages

Um dos assuntos vigentes em 2020 foi o pagamento do direito de arena aos jogadores. Uma Medida Provisória (MP) deixaria a cargo do clube mandante a possibilidade de transmissão e pagamento de direito de arena aos jogadores envolvidos na partida. Os atletas foram e continuam sendo contra. O modo como funciona o pagamento passa pelo Sindicato dos Atletas. Athos prefere assim:

“O direito de arena tem que passar pelo Sindicato. As alternativas de internet são ótimas para visibilidade, os clubes podem negociar a transmissão dos jogos, mas não é para o dinheiro das transmissões ficarem a cargo dos clubes, para eles nos passarem a hora que quiserem. Os jogadores do interior seguido ligam para o Sindicato, solicitando mil, dois mil reais. Enquanto isso, os de Inter e Grêmio recebem 50, 80, 100 mil reais. Isso que já possuem os altos salários. Quer dizer, as pessoas inverteram os valores da coisa.”

Athos considera justo que Grêmio e Inter recebam valores a mais, pois existe o mérito. Mas a diferença não deveria ser tão exorbitante. “Nas situações coletivas, como o direito de arena, deveria haver uma maior igualdade na distribuição entre os clubes”, pontua. A MP 984/2020 caiu em outubro, perdendo a validade. Ela dividia a opinião dos presidentes dos clubes. Acabou não avançando no Congresso e o direito de arena segue com os sindicatos dos atletas.

Com algumas pequenas vitórias e muito trabalho para o futebol das espalhadas praças do RS seguir existindo, Athos e os demais entusiastas do movimento Todos Pelo Interior sabem que haverá muitas batalhas: durante e após a pandemia.

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