AUDIÊNCIA : Prisão humanizada em pauta
Mais um passo para que Pelotas constitua uma prisão humanizada foi dado na última sexta-feira, com a realização de uma audiência pública no Salão Nobre da Prefeitura para discutir a Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac Pelotas) e o atual sistema prisional.
Nos Centros de Reintegração Social (CRSs) mantidos pelas Apacs, os presidiários, chamados de recuperandos, cumprem pena em uma rotina de palestras, cursos e jornada de trabalho. A unidade não tem armas nem policiais ou carcereiros, e são os próprios recuperandos que guardam as chaves das celas. Estima-se que os índices de reincidência ao crime alcancem apenas 10%, contra 80% do modelo convencional. A prefeita Paula Mascarenhas abriu o encontro, cujo tema é “Por uma nova política prisional – matar o criminoso, salvar o homem’, e falou sobre a estruturação do Pacto Pelotas Pela Paz.
“Estamos apostando em diversas maneiras de instituir uma cultura da paz em nosso município. Mas, sem dúvida, o eixo da Prevenção é o maior de todos e que vai efetivamente mudar o futuro”, analisou a prefeita.
O diretor do Foro de Pelotas, Marcelo Malizia Cabral, destacou que deve ser um compromisso de todos os poderes garantir uma execução de pena digna a todos os cidadãos.
“A sanção não deve retirar o amor próprio nem os direitos do ser humano”.
“Em dez anos, passamos de 9 mil para 30 mil presos provisórios em Pelotas. A sensação de insegurança só aumenta”.
O inspetor de metodologia da Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (FBAC), Wellington Silva, contou ao grupo sobre sua trajetória. Ele já foi preso por dois anos e meio, e passou pelo sistema prisional e pela Apac de Itaúna (MG). Há 12 anos, foi convidado a difundir os valores da prisão humanizada pelo Brasil. Hoje a Fraternidade tem 20 funcionários – sendo 11 ex-presos.
“Da prisão comum à Apac, você vai do inferno ao céu. Não há dignidade alguma nas penitenciárias tradicionais. Ao investir em um método diferenciado, o ganho não é para o preso, mas para toda a sociedade”.
Já são 50 Apacs funcionando no país e outras cem em implantação. Só em Itaúna, são 200 presos. A unidade completou 4 mil dias sem fugas e nunca registrou um homicídio. No Rio Grande do Sul, há três Apacs formalmente legalizadas: Porto Alegre, Três Passos e Canoas.
Em Pelotas, líderes de diversas entidades estão se unindo para constituir a Apac. Em dezembro, a associação será juridicamente constituída e terá eleições para definir a presidência. O grupo interessado conta com representantes da Prefeitura, Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Faculdades Anhanguera, IFSul, Foro, Promotoria Pública, OAB, instituições religiosas e sociedade civil. De acordo com a Comissão Nacional de Justiça, há 720 mil presos condenados no Brasil, e dois milhões de presos provisórios.