Brasil inverte lógica do futebol
Resultados de campo alavancam crescimento do clube, contrariando a tese de que forte investimento financeiro é o ideal
O Brasil contraria uma tese lógica do futebol: ao invés da estrutura do clube sustentar a evolução do futebol é o futebol que alavanca o crescimento do clube. Em quatro temporadas, o Rubro-Negro saiu da segunda divisão gaúcha para estar entre os primeiros colocados do Brasileiro da Série B. No vácuo do sucesso do time de Rogério Zimmermann, o clube encontra saída para atacar carências históricas, como a reativação das categorias de base, manter as contas em dia e colocar em prática o arrojado projeto de construir um novo estádio.
“É inacreditável tudo que está acontecendo no Brasil”, espanta-se o presidente Ricardo Fonseca, que está com seu nome registrado na história do clube. Primeiro porque é o dirigente que por mais tempo se manteve no cargo na história de 105 anos (data a ser comemorada nesta quarta-feira). Ele está comandando o Xavante desde novembro de 2011 e vai para mais dois anos de gestão e só aí (no final de 2018) irá passar a “faixa presidencial”, porque estará impedido legalmente de concorrer a mais uma reeleição.
A lei que concede isenção fiscal ou permite que os clubes recebam verbas públicas (o Brasil aderiu o Profut – Programa de Renegociação de Dívidas Fiscais) limita, a partir de 2016, em quatro anos o mandato de dirigentes de entidades esportivas. Isto é: dois mandatos de dois anos, permitindo apenas uma reeleição.
CAMPO – Ricardo Fonseca é também o dirigente mais vitorioso da história recente do Brasil. Ele tem uma sequência de quatro acessos, dois títulos do Interior no Gauchão e três participações em Copa do Brasil (classificação inédita no clube até 2013). O time rubro-negro está muito perto de garantir matematicamente sua permanência na Série B em 2017 e pode sonhar com a conquista de vaga na primeira divisão nacional. Basta manter a condição atual no Brasileiro.
O dirigente sabe, no entanto, que é preciso continuar evoluindo. “O clube tem que estar preparado para uma situação em que os resultados de campo não sejam bons. Até agora foi o futebol que segurou o clube. Já avançamos bastante, mas temos que fazer mais, aproveitando esse momento ótimo do futebol”, afirma.
Reativar categoria de base
O Brasil já foi um clube formador de jogadores até a década de 80. Depois, a base foi perdendo força até desaparecer em função da falta de dinheiro para sustentar o setor. Agora, a proposta é retomar essa atividade – sempre considerada essencial, mas deixada em segundo plano.
Além da questão estratégica do clube, a adesão ao Profut cria a necessidade de os clubes investirem na base. A primeira parte do projeto é a criação dos núcleos de escolinha de futebol, que são destinados a crianças e aos adolescentes de quatro a 16 anos. A primeira franquia está firmada com o professor de educação física Fábio Borba, que ficou com o núcleo Centro.
O presidente Ricardo Fonseca diz que serão feitas outras parcerias para implantar núcleos nos bairros. “Depois pretendemos criar núcleos nas cidades da região”, diz.
Outra parceria em fase de conclusão é o aluguel da estrutura do Fragata Futebol Clube para ser a sede da base – a partir da categoria sub-15. “Vamos ter um vice-presidente do clube, mas a administração será profissional”, garante Fonseca. O atual gerente administrativo Armando Desessards deve assumir coordenação da base.
Campanha anula risco de oposição
O mês de setembro é de eleição no Brasil. Antes da aclamação de mais uma reeleição de Ricardo Fonseca, haverá a escolha da mesa diretora do Conselho Deliberativo para a gestão de 2017. O atual presidente do CB, Adriano de León Soares, já adiantou que não irá seguir na função, depois de quatro anos no cargo. O contado para substituí-lo é o ex-presidente Cláudio Andrea.
Ricardo Fonseca entende que a volta de Andrea à presidência do Conselho Deliberativo (exerceu o cargo em 1987/1988) será uma homenagem ao dirigente histórico do clube. “Será uma forma de homenagear um dirigente com história no clube, num momento em que o Brasil está muito bem”, destaca.
Já a reeleição de Fonseca é algo natural. O momento do clube, especialmente do futebol, anula qualquer hipótese de oposição. Desde que assumiu a presidência no final de 2011, o presidente nunca encontrou opositor na disputa pelo comando do Brasil. O único ensaio oposicionista ocorreu no final do ano passado, quando Elsi Junior chegou a lançar candidatura, mas recuou diante da reação da torcida, que, pelas redes sociais, repudiou a possibilidade de mudança na direção do clube.