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sábado, 23 de novembro de 2024

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Campanha “Kilombo fica” é lançada em audiência pública

Campanha “Kilombo fica” é  lançada em audiência pública
30 junho
14:53 2022

Plenário do Legislativo esteve repleto na solidariedade ao “Canto de Conexão”

Por Carlos Cogoy

Pela permanência do Kilombo Urbano Ocupação Canto de Conexão, que completou cinco anos, e transformou o prédio abandonado – esquina das ruas Álvaro Chaves e Benjamin Constant -, num espaço que, tanto fomenta atividades artístico-culturais, quanto realiza mutirões para erguer chalés a famílias sem moradia, bem como proporciona centenas de refeições a desempregados e famílias sem-teto, o plenário da Câmara Municipal, esteve repleto na terça à noite. Dezenas de representantes de movimentos sociais e lideranças comunitárias, expressaram solidariedade ao Kilombo Urbano, que está ameaçado de remoção, já que há um pedido de reintegração de posse – embora, juridicamente, existam muitas questões em aberto. Como contraponto ao público que lotou o Legislativo, a presença de apenas quatro vereadores: Carla Cassais (PT), proponente da audiência; Paulo Coitinho (Cidadania); Fernanda Miranda (PSOL); Jurandir Silva (PSOL). A íntegra do evento, com três horas de duração, e momentos de emoção e reflexões sobre ancestralidade, igualdade racial, direito à moradia, e luta por justiça social, pode ser assistido no Facebook, acessando TV Câmara Pelotas.

Comunidade defende o Kilombo

KILOMBO FICA é campanha que, através de material de divulgação, foi lançada no evento. O tema, durante as falas do público, foi recebendo apoio de participantes como Eva Santos (Coletivo 8M), professor André Pereira (Comissão de Reestruturação do Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra), pesquisador Nino Rafael Medeiros Kruger (Observatório dos Conflitos da Cidade/ UCPel), Catharina Motta (Coletivo Antirracismo O Melhor de Cada Uma), Ìyá Sandrali (Conselho Municipal do Povo de Terreiro de Pelotas), professor Maurício Polidori (diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAUrb/UFPel), Griô Dilermando Freitas, secretário municipal Paulo Pedrozo (SECULT), escritora Helena Manjourany (CONCULT), Barbara Hypolito, representando o Comitê de Desenvolvimento do Loteamento Dunas (CDD), Kitanji Goulart Nogueira (Fórum Nacional de Segurança Alimentar dos Povos Tradicionais de Matriz Africana), Isadora (Rede de Habitação de Interesse Social e Eficiobra), ex-reitor Mauro Del Pino (UFPel), ator Cid Branco, educador Otávio, morador Jairo. O vereador Jurandirsugeriu que os participantes, além das moções de apoio, também expressassem num documento, a necessidade de defesa do Kilombo Urbano.

COMUNIDADE NEGRA – O professor André Pereira (IFSul), leu a manifestação do Conselho da Comunidade Negra. Trecho: “A Comissão se solidariza com a defesa da permanência do Kilombo Urbano Ocupação Canto de Conexão, na estrutura que hoje ocupa. Considerando a realidade evidente de que o Kilombo rompe com as lógicas de segregação e desigualdade, e propõe alternativas de sociabilidade que propiciam, que, as pessoas que ali encontram acolhida, possam retomar o sentido da noção de vida digna. E isso não se resume apenas ao trabalho de caridade ou voluntariado, mas também a disposição para refletir sobre o direito à cidade. A cidade precisa ser um espaço de uso coletivo, racional e equânime. O Kilombo tem esse modelo por princípio e vem demonstrando nestes anos de atuação que é possível fazer desta lógica uma forma estrutural de aproveitamento da cidade”.

ANCESTRALIDADE foi representada na fala emotiva da senhora Claudete Lessa, que destacou o quanto o espaço estava degradado, e o quanto já foi realizado de forma coletiva. Já a Ìyá Sandrali, que concorreu à vice-prefeita em 2020, em nome do Conselho do Povo de Terreiro, fez um apelo à designada elite pelotense. “O espaço é ocupação daquilo que nos pertence, não foi de graça e não é invasão. Nossa emoção é propositiva. Nós cansamos de derramar lágrimas por vocês, elite dessa cidade. Porque desde que aqui chegamos, temos derramado lágrimas por vocês. Temos abençoado essa terra, com as nossas lágrimas, e com o nosso sangue. Portanto, cabe a vocês, agora, retribuir minimamente a construção que inicia com o trabalho do nosso companheiro, do nosso líder, daquele que, muitas vezes, a gente tem alguns embates mas, que, com certeza, estaremos juntos nessa luta. Uma luta que é forte e contundente, como a súplica dos nossos deuses. Nessa luta que nossas vozes, e nossos sons, se conectam no Kilombo Urbano, que tem o nome conexão. E conexão é o maior princípio da humanidade, que está ligado a tudo que existe, as pedras, matas, rios, vivos e não vivos. Esse Kilombo Urbano que se encontra numa encruzilhada, pois rompe com uma linearidade, que se apresenta para a elite, o sistema branco, e não falo das pessoas brancas, ou seja, o sistema racista, machista, LGBT fóbico, denominações que não foram criadas por nós, mas pelo próprio sistema. O Kilombo Urbano, enquanto estávamos nos protegendo em casa, estava se expondo, auxiliando aqueles que se colocaram nas ruas, à mercê da falta de política pública de moradia, saúde, educação. É tempo de cruzar com Ogum, senhor das inovações tecnológicas. E o Kilombo mosta que a inovação só tem sentido, se estiver à disposição daqueles que mais necessitam”.

VULNERABILIDADE – O pesquisador Nino Kruger, apresentou números sobre o empobrecimento, da população e a questão a habitação no País. Conforme afirmou, são 142 mil famílias ameaças de despejo. Segundo Nino: “Os despejos são mais uma camada da violência estrutural”. No Estado, mais de quinze mil famílias, estão em conflito com a posse da moradia, e oito mil ameaçadas de despejo. Em 2019, conforme a Secretaria Municipal da Habitação, 1/3 da população pelotense vivia de forma precária, como áreas irregulares e sem serviços básicos como água e luz. De acordo com Nino, 33 mil famílias necessitam de investimentos em habitação. Em contraponto no município, constam como vazios, 11.805 prédios e lotes que não cumprem função social.

EXEMPLO – Para o diretor da FAUrb/UFPel, professor Polidori, a experiência do Canto de Conexão é exemplo de aproveitamento do espaço, com viés coletivo, e criatividade em várias frentes. O diretor acrescentou que integrantes da ocupação, já palestraram na faculdade de arquitetura, e frisou que o conceito de propriedade é relativo, devido à necessidade de inserção social. Sobre a segurança no local que, antes da ocupação, agregava criminosos, manifestaram-se o produtor cultural Manoval, médico Luciano Texeira, historiadora Sana Gasparatto (UFPel), residentes nas imediações. Eles destacaram que o

Kilombo contribui para a sensação de segurança. A vereadora Fernanda Miranda observou que a situação jurídica sobre a posse do local, envolve a Marinha, e precisa ser esclarecida, inclusive diante da possível falta de pagamentos do IPTU.

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