Campanha para trocar o nome de rua que homenageia escravagista
Está chegando ao Legislativo, petição para mudar nome de rua no Cruzeiro
Por Carlos Cogoy
Moradores como Nailê Machado e Carlinhos Nogueira, com apoio do ex-vereador Luis Carlos Mattozo – coordenador do Projeto Museu do Percurso Negro -, desde o começo de julho, lançaram campanha para a mudança do nome da rua Barão de Cotegipe no bairro Cruzeiro do Sul. A ideia é tirar o nome do escravagista, e homenagear a fundadora do Instituto São Benedito, Luciana Lealdina de Araújo (1870/1930), pioneira na assistência social em Pelotas, cujo sesquicentenário de nascimento transcorreu a 13 de junho. A petição com mais de quinhentas assinaturas, está chegando à Câmara Municipal. Conforme Mattozo, os vereadores negros Ademar Ornel (DEM), e Daiane Dias (PL), manifestaram apoio à mobilização, e estarão apresentando o projeto no Legislativo.
CONTRASTE – O senador carioca João Maurício Wanderley (1815/1889), o Barão de Cotegipe, é lembrado através de ruas em cidades como Rio Grande e Porto Alegre. E no Estado também designa município. Porém, com a mobilização internacional contra o racismo, que já derrubou as estátuas de Jefferson Davis – presidente dos Estados Confederados da América – na Virgínia, e de Edward Colston na cidade inglesa de Bristol, estão sendo questionadas as homenagens a escravocratas. O Barão de Cotegipe entra na lista, pois representou interesses escravagistas no Senado. Opositor do abolicionismo, foi o único senador a votar contra a Lei Áurea. Na campanha pela mudança, população pode participar através do abaixo-assinado. Acesse www.change.org, e busque Mudança do Nome da Rua Barão de Cotegipe no Bairro Cruzeiro para Luciana de Araújo.
MÃE PRETA – Filha de mãe escrava, ao chegar em Pelotas, a porto-alegrense Luciana de Araújo deparou-se com meninas negras órfãs. Ela estava enferma, com tuberculose, e fez uma promessa a São Benedito. Se fosse curada, auxiliaria as crianças negras. Recuperada fisicamente, em 1901, esteve à frente da fundação do Asilo de Órfãs São Benedito. Para manter o espaço, Luciana era quitandeira, e também percorria a comunidade para angariar doações. Em 1908 ela mudou-se para Bagé e, em 1951, o asilo passou a chamar-se Instituto São Benedito. A pioneira está homenageada com a designação da Escola Municipal Ensino Fundamental Luciana de Araújo.
BAGÉ – Em 1909 na Rainha da Fronteira, Luciana Araújo criou o Orfanato São Benedito. Após período na direção, entre 1922 e 30, Luciana coordenou uma creche para criança pobres. Em Bagé, ela é homenageada com nome de rua.