CAMPESINATO NEGRO : Tese premiada pela Capes vira livro
A técnica-administrativa da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Claudia Daiane Garcia Molet acaba de publicar o livro “O Litoral Negro do Rio Grande do Sul: campesinato negro, parentescos, solidariedades e práticas culturais (do século XIX ao tempo presente)”. A obra é fruto de sua tese, que conquistou o Prêmio Capes de Tese na área de História em 2019.
O livro versa sobre o campesinato negro, no Litoral Negro do Rio Grande do Sul, sendo suas histórias e memórias investigadas de 1816 ao tempo presente. De acordo com a autora, o desafio foi perceber as estratégias para manutenção das terras legadas por escravizados no século XIX e que atualmente abrigam seus descendentes, remanescentes quilombolas: Csaca, Limoeiro, Teixeiras e Capororocas. Desse modo, o trabalho insere-se no campo dos estudos sobre pós-Abolição, embora recue para o século XIX para compreender a formação desta região que está sendo denominada de Litoral Negro. Para isso, foram acionados alguns núcleos de escravizados que conquistaram liberdade e terras através de registro nos testamentos senhoriais. A autora aponta os arranjos familiares tecidos no cativeiro, mas também com escravizados da vizinhança e com libertos. Acionou, ainda, a memória quilombola para investigar as experiências de racialização nos bailes rurais de “brancos” e de “morenos”.
A LUTA pela cidadania foi iluminada a partir da discussão dos efeitos da Reforma Agrária, da década de 1960, quando foram movidas ações judiciais pelas famílias negras, resultando medições, expropriações, além de disputas com vizinhos. A longevidade das experiências camponesas também se fez presente na análise da Festa de Nossa Senhora do Rosário e do Ensaio de Pagamento de Quicumbi realizados ainda na atualidade pelos quilombolas. Nestas manifestações, percebeu-se uma rede de fé na Santa que une o campesinato negro a partir do compartilhamento de práticas culturais. Por último, mas de suma importância para a manutenção do campesinato negro, a autora pontua as experiências de mulheres negras, matriarcas, proprietárias de terras, benzedeiras e parteiras que circularam saberes e ancestralidade pelo Litoral Negro. Para que as redes fossem analisadas, foram utilizadas diversas fontes, como registros de batismos, de casamentos, cartas de alforria, registros paroquiais de terras, processos judiciais e entrevistas com os quilombolas.
O PREFÁCIO da obra, escrito pelo professor Flávio Gomes (UFRJ), destaca: “O fascinante estudo de Claudia Molet recupera ecologias socioeconômicas originais. Sua pesquisa subverte as definições (aparentes e improvisadas) de um campo de estudos ainda sob construção, no caso denominado pós-abolição. Sem alardes apresenta contribuição potente sobre a formação de espaços escravistas, localizando experiências e seguindo trajetórias num tempo histórico também como reinvenção dos seus sujeitos: camponeses negros. Algo tomado também entrecortado de memórias, rugas e cicatrizes. A historiadora identifica um espaço – o litoral do Rio Grande do Sul – e nele opera pontos de partida. Recordações, experiências, esperanças e expectativas encontram famílias – descendentes de africanos escravizados – que vão conhecer o cativeiro, a liberdade e o sonho de terras legadas por senhores ou arrancadas pelos mocambos erguidos e mantidos. Impressiona o fôlego da historiadora fazendo aumentar ou diminuir tempos históricos para juntar registros e memórias, acompanhando rastros e silêncios das fontes”.
A TESE de Claudia Molet foi defendida no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGH/UFRGS), com orientação da professora Regina Weber.
A AUTORA
Claudia Daiane Garcia Molet é mãe do Malê, doutora em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ganhadora do Prêmio Capes de Tese, na área de História, no ano de 2019, com a tese “Parentescos, solidariedades e práticas culturais: estratégias de manutenção de um campesinato negro no litoral negro do Rio Grande do Sul (do século XIX ao tempo presente)”. É mestra em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Pelotas, é especialista em Educação Profissional pelo Instituto Federal Sul-rio-grandense e bacharela em História pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande. É integrante da Rede de Historiadorxs Negrxs, do GT Emancipações e Pós-Abolição da ANPUH/RS e do Movimento de Resistências UFPRETA. Atua como técnica-administrativa em Educação na Universidade Federal de Pelotas. Pesquisa as seguintes temáticas: histórias da escravidão e do pós-Abolição, mulheres negras, comunidades quilombolas, educação étnico-racial.
PARA ADQUIRIR
O livro pode ser comprado diretamente com a autora, pelo e-mail [email protected].