CANÇÕES, POEMAS E HISTÓRIAS : Versos com verdades, sonhos e esperança
Nesta terça às 20h, a música de Pedro Munhoz na Casa do Trabalhador – Santa Cruz 2.454
Por Carlos Cogoy
Romper as cercas da ignorância, que produz a intolerância. Versos do compositor e músico gaúcho Pedro Munhoz, que integram a letra de “Canção da Terra”. A música está no disco “Cantigas de Andar Só”, lançado há mais de dez anos e, em 2011, foi gravada pelo grupo Teatro Mágico. Diante do acirramento do extremismo conservador no País, os versos do poeta persistem atuais, e acenam com perspectiva inadiável: educação. Diálogo, leitura e senso crítico, para romper com os clichês de uma juventude reacionária, embalada por interesses de fundações norte-americanas. A “Canção da Terra” de Munhoz, estará no repertório desta noite na Casa do Trabalhador – rua Santa Cruz 2.454. No espaço, partir das 20h, o músico – residiu em Pelotas nos anos noventa -, apresentará o espetáculo “Canções, poemas e histórias”. Participações especiais de Duglas Bessa e Bira Cunha. A realização é de Mariá Produtora, com apoio do Sindicato dos Metalúrgicos. No dia 21, o show será em Pedro Osório. Ingresso a R$10,00.
CARAJÁS – A 17 de abril de 1996, dezenove trabalhadores sem-terra foram assassinados no sul do Pará. O massacre de Eldorado do Carajás, foi lembrado na letra de “Procissão dos Retirantes”, música de Munhoz que venceu o 1º Festival de Música da Reforma Agrária em 1999. Nesta terça, quando transcorre o 22º ano do massacre, a música será interpretada na Casa do Trabalhador.
TRAJETÓRIA – Natural de Barra do Ribeiro, além de Pelotas, Munhoz também residiu em Santa Vitória do Palmar, Porto Alegre e Governador Valadares. Atualmente, está radicado em São Bernardo do Campo. Na trajetória artística, seis discos e duas coletâneas. Atualmente, nos shows ele comercializa DVD que reúne a discografia. Conforme acrescenta, já vendeu quase dez mil. Nas andanças, shows tanto em teatros, quanto em escolas, associações e sindicatos. E Munhoz tem levado músicas como: “A Terra é uma laranja (qualquer dia vai murchar)”; “Dias cinzentos, dias de vento”; “Marias, Charqueadas e Fronteiras”; “Seu colibri”; “Ceder não quer dizer nunca mais”; “Fronteira me voy”; “Te mando notícia de mim”; “Pátria Mundo”; “Senhores de Bronze”. E, na voz e violão do artista que já tocou em países como França, Canadá, Itália, Cuba, Venezuela, Chile, Uruguai, México, Guatemala, bem como em vários Estados brasileiros, também uma música que conta sobre Pelotas. Trata-se de “A outra história da Princesa”, que tem versos como: “Eu prefiro cantar a minha terra, os barracos, vielas deste chão, a miséria beirando o São Gonçalo, porta da frente do rincão, é preciso lembrar o Saladero, e de noite o açoite, a escravidão, charqueada mandando no destino, filho pra Europa, negro no porão”.
CANTAR – Munhoz menciona: “Sou um trovador, atemporal, cantando contra injustiças, desvalores e exploração, sem depender do mercado, da moda, da indústria, da vitrine, mas consciente do papel que exerço na construção da história durante o tempo de vida. É o legado que vai ficar, sendo reconhecido ou não. Mas ficará para as próximas gerações. E hoje mais do que nunca, precisamos estar aí, cantando, denunciando, tocando corações e mentes. A luta é desigual, mas quando temos condições de fazer o enfrentamento, apenas com a voz e o violão, como é o meu caso, a gente se torna um exército disparando verdades, sonhos e esperança. Por isso que o ‘sistema’ detesta quem canta opinando”.
Procissão dos Retirantes*
Pedro Munhoz
Terra Brasilis, continente,
Pátria mãe da minha gente
Hoje eu quero perguntar
Se tão grandes são teus braços, por que negas um espaço aos que querem ter um lar?
Eu não consigo entender
Que nesta imensa nação
Ainda é matar ou morrer
Por um pedaço de chão
Lavradores nas estradas
Vendo a terra abandonada
sem ninguém para plantar
Entre cercas e alambrados, vão milhões de condenados
a morrer ou mendigar
Eu não consigo entender
Achar a clara razão
de quem só vive pra ter
E ainda se diz bom cristão
No eldorado do Pará
Nome índio carajás,
o massacre aconteceu
Nesta terra de chacinas
essas balas assassinas
todos sabem de onde vêm
É preciso que a justiça e a igualdade
sejam mais que palavras de ocasião
É preciso um novo tempo em que não seja só promessa
repartir até o pão
A hora é essa de fazer a divisão
Eu não consigo entender
Que em vez de herdar um quinhão
teu povo mereça ter
só sete palmos de chão
Nova leva de imigrantes
Procissão dos retirantes
Só a terra em cada olhar
Brasileiros, vão com nós
Vão gritando, mas sem voz
Norte a sul
não tem lugar
Eu não consigo entender que nessa imensa nação
ainda é matar ou morrer
por um pedaço de chão
Pátria amada, ó Brasil
De quem és, ó mãe gentil
eu insisto em perguntar
Dos famintos, das favelas
ou dos que desviam verbas
pra champagne e caviar
Eu não consigo entender
Achar a clara razão
de quem só vive pra ter
E ainda se diz bom cristão
*Música vencedora do 1º Festival de Música da Reforma Agrária em 1999