CASA NA ÁRVORE : Bioconstrução para mudar paradigma
Por Carlos Cogoy
Em maio acontecerá o lançamento da “vaquinha” Catarse. A ideia é difundir o projeto “Casa na Árvore”, recebendo doações online para arcar com o custo final da construção. A informação é de Paulline Winkel que, desde a primavera de 2013, está à frente de construção diferenciada na “Balsa” – imediações do campus Anglo da UFPel. No espaço de 500m2,ela optou por técnicas de permacultura e bioconstrução. À rua Silveira Calheca, a edificação chama a atenção. A estrutura recicla materiais, já está com dois pavimentos, preserva cinamomo e oferece alternativas de energia.
MUDANÇA – A construção da cozinha no térreo, sob o “sobrado”, há poucos dias contava com o empenho do uruguaio Juan. Ele, Paulline, francês Matt e o paulista Cristiano, revezavam-se nas atividades. O trabalho coletivo caracteriza o projeto, e a casa tem contado com a colaboração dos amigos, moradores das imediações e visitantes de países como Argentina, Suécia, Espanha, Venezuela, Chile e Bolívia. Na contramão do mercado de construção, que padroniza edificações e impõe materiais e técnicas, uma “bioconstrução” que visa a sustentabilidade, integração com a natureza, autonomia energética e a mão-de-obra solidária.
ALTERNATIVAS – Na casa – nove metros de altura e oito de diâmetro – da Paulline ainda faltam os dormitórios. No primeiro pavimento, amplo salão para oficinas e eventos. Acima, será o ateliê. Ao fundo do terreno, treiler está improvisado como cozinha. Também jardim com diferentes chás, ervas e hortaliças. Paulline menciona que as madeiras que revestem a estrutura, são de postes descartados pela CEEE – atualmente são acessíveis através de leilão. A casa tem energia elétrica, mas não há televisão. À noite é acesa fogueira, o que atrai a gurizada da Balsa. A alimentação é vegetariana, e os resíduos orgânicos são direcionados à compostagem. No prédio, telhado vivo. Numa estrutura de madeira, impermeabilizada, aproveitamento do espaço para o cultivo de plantas medicinais. A água captada vai para tonéis, sendo posteriormente utilizada em variadas circunstâncias. Com a técnica do “banheiro seco”, resíduos são colocados em decomposição. As câmaras com serragem e viradas para o norte, sob o calor do sol, após seis meses transformam os resíduos em húmus.
LIBERTÁRIO – Paulline menciona que as técnicas expandiram-se através dos anos setenta e oitenta, diante da necessidade de comunidade sustentável. A origem, porém, é remota e pode ser identificada na relação de tribos indígenas com a natureza. A Casa da Árvore, diz ela, tem caráter pedagógico. Crianças, jovens e moradores da redondeza, espiam curiosos, aproximam-se desconfiados, até que são convidados a entrar e logo estão auxiliando na construção. No espaço já houve aulas de cerâmica do Centro de Artes da UFPel.
BIOCONSTRUÇÃO é conceito que desafia o artista visual Cristiano Araújo Abreu. Egresso da formação em artes visuais na UFPel, desde 2010 interessa-se pelas experiências das ecovilas. Seu projeto [CIDADE (cidade)], inspira-se na matemática. Então primeiro é necessário resolver o “micro”, que pode ser a casa e depois o bairro. Internalizando a mudança, constribui-se numa rede para mudar o paradigma.