Diário da Manhã

segunda, 13 de maio de 2024

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CIDADÃO GLOBAL : Educando e aprendendo ao sul da Índia

31 maio
09:21 2016

Durante dois meses, Otávio Amaral participou de ações voluntárias na Índia. Ele integrou o intercâmbio “Global Citizen”

Por Carlos Cogoy

China, Índia e Marrocos, estavam entre as opções. Mas o contato fluiu com a Índia. Assim, entre janeiro e março deste ano, o pelotense Otávio Amaral esteve residindo e lecionando no país asiático. Ele foi como estudante voluntário através do programa “Cidadão Global” (Global Citizen), da Associação Internacional de Estudantes em Ciências Econômicas e Comerciais (AIESEC). Além de lecionar para crianças e jovens em escolas ao sul da Índia, bem como interagir com a cultura e cotidiano, Otávio também visitou locais turísticos. “Ganhei uma semana de folga e fui viajar. Então, estive em Goa, onde os portugueses inicialmente chegaram na Índia. E lá conheci a prisão de Vasco da Gama. Fiz uma conexão em Mumbai e fui para Delhi, onde fiquei alguns outros dias, hospedado em hotel de pequena rua, na parte considerada como Antiga Delhi. Ali, visitei pontos turísticos clássicos indianos. Embarquei num trem e passei um dia em Agra, a cidade do Taj Mahal. Trata-se de cidade bem pequena e, além do Taj Mahal, através de programa de turismo do governo, fui ao Forte de Agra e outros pontos importantes. Além disso, pessoal da ONG reuniu intercambistas de diferentes projetos, e fomos em excursão para Mysore, cidade famosa por ser de um Mahajara na Índia pré-britânica. Lá, visitamos o zoológico e o Mysore Palace, considerado o segundo mais visitado no país depois do Taj Mahal”.

Estudante pelotense Otávio Amaral participou de intercâmbio na Índia

Estudante pelotense Otávio Amaral participou de intercâmbio na Índia

CONFLITO – Otávio cursa direito na UCPel, e relações internacionais na UFPel. Durante um ano chegou a cursar letras. Disposto a dedicar-se à carreira acadêmica, lamenta que o direito internacional ainda é pouco trabalhado nos currículos dos cursos de direito no Brasil. Atento ao cotidiano e questões políticas indianos, observa acerca do conflito que envolve Caxemira: “É importante ressaltar que a religiosidade é um traço muito presente na evolução da Índia enquanto nação. O que justifica o conflito da Caxemira, que tem muita repercussão ainda hoje. A região da Caxemira, muito rica em recursos naturais continua sendo alvo de tensões entre Índia e Paquistão, os dois reivindicando a sua legitimidade de integração ao território. Inclusive as crianças são educadas a terem um sentimento de nacionalismo exacerbado e a odiar o Paquistão. Um aluno, certo dia, me perguntou se o Brasil possuía algum inimigo. Disse que meu país não tinha nenhum rival, e que havia tido uma participação muito secundária na Segunda Guerra Mundial”.

ESPIRITUALIDADE – “Acredito que o que eu mais tenha notado lá é a espiritualidade. Se houvesse uma palavra que me definisse a Índia, eu diria: espiritualidade. Antes de ir, li alguns livros sobre a história e cultura indiana, pois não somos ensinados em praticamente nada sobre a cultura e história asiática na escola. Em um destes livros, de um jornalista gaúcho, que fez uma viagem pela Índia, ele diz que, num país no qual os direitos sociais mais básicos, são negligenciados e atrasados, a espiritualidade é uma forma de encarar a realidade e um apoio para seguir vivendo”, enfatiza o estudante pelotense.

A experiência em escolas de Bangalore e Mandya

Em Bangalore, Otávio Amaral lecionava de segunda a quarta na escola “PratharnaSchool”. Para alunos de dez a treze anos, ensinava história e cultura do Brasil. Em Mandya, a duas horas de distância, aulas de quinta a sábado na Concorde Internacional School. Nesta, o estudante pelotense também abordava sobre o Brasil para alunos até doze anos. Já aos alunos adolescentes, lecionava gramática de inglês. Sobre Mandya: “Fica bem no interior, muito humilde, onde as pessoas ainda lutam por água e comida, e parece ser elevada a taxa de prostituição”.

Otávio lecionou inglês, história e cultura brasileira

Otávio lecionou inglês, história e cultura brasileira

PARTICULARES – “Nas escolas, as crianças são alfabetizadas em três línguas: oficial Hindi; local Kannara (sul da Índia); inglês. O ensino do inglês visa unificar o País, pois já foram encontrados mais de 1.200 dialetos. Com boa estrutura, inclusive data-show, as escolas que trabalhei eram particulares. No entanto, a sujeira de uma delas foi um pouco impactante, mas nada surreal diante das condições de muitas escolas públicas brasileiras”, compara Otávio.

CONTRASTES

Política, tabus e legislação. Otávio Amaral avalia contrastes da Índia e Brasil.

POLÍTICA – “A Índia é uma república parlamentarista, com eleições diretas a cada cinco anos. A partir dos dezoito anos, todos têm o direito de votar”, diz o pelotense. Gandhi é o herói do país. Quando indagado acerca do vulto brasileiro, ele dizia que não havia liderança comparável, que tenha quebrado paradigmas. “Muitas vezes comentei que, no Brasil, o ex-presidente Lula ficou conhecido pelas políticas de assistência a camadas mais baixas da sociedade”, acrescenta.

SEXUALIDADE é tabu na Índia, e são frequentes os abusos e estupros, bem como a violência doméstica. O governo desenvolve campanhas educativas. É raro mulher na rua após 23h.

LEI – Pesquisador de políticas relacionadas a gênero e sexualidade, Otávio observou que, apesar da seção 377 do Código Penal Indiano, que criminaliza práticas homossexuais, a restrição não é tão severa pois muitos policiais aceitam propina durante abordagens a transeuntes.

PUBLICAÇÃO

A vivência na Índia, registrada através de textos e imagens, muitas vezes divulgados nas redes sociais, poderá ser a base para publicação de Otávio. Ele diz que a ideia é livro que também reúna escritos do período no qual esteve residindo no Rio de Janeiro, bem como alguns dos seus poemas.

PALESTRA – Recentemente, Otávio explanou sobre o trabalho voluntário no Oriente. Ele foi convidado para palestrar na abertura da programação comemorativa aos 25 anos do curso Normal do Colégio Municipal Pelotense. O estudante ressalta que está à disposição de escolas e eventos, cuja proposta seja a troca de ideias sobre o intercâmbio bem como das observações acerca de aspectos da cultura indiana. Contatos podem ser no Facebook, ou através do email: [email protected]

IGUAIS – Otávio recorda a professora de yoga que teve. Ela morou onze anos nos EUA, tem irmão na Califórnia e irmã em Dubai. Com o nascimento dos filhos, a opção pelo retorno à Índia para a educação das crianças. “Logo que a conheci, no primeiro dia, ela me disse que apesar da diferença dos lugares, a vida das pessoas é sempre a mesma e que todos somos iguais”, conclui.

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