CINEMA : Em nome do poeta Lobo da Costa uma incômoda Pelotas caridosa
Entre a desventura e a genialidade, curta narra os últimos dias de Francisco
Por Carlos Cogoy
Estigmatizado como boêmio, mas admirado como literato. Rejeitado como bêbado, mas reverenciado como autor romântico. Ao fim do século XIX, o poeta pelotense Francisco Lobo da Costa (1853/1888), era deus e o diabo na terra da umidade. Uma Pelotas caridosa, tanto reuniu versos no livreto “Charitas” – cuja venda arrecadou recursos para os custos da internação de Lobo da Costa -, através do Grêmio Literário dos Lunáticos, quanto suspirou aliviada com a morte do conterrâneo inconveniente. No imaginário, um arranjo cínico, pois partia o homem Francisco, mas prosseguia a obra de Lobo da Costa. Nos anos oitenta, a dramaturgia de Valter Sobreiro Jr “Em nome de Francisco – Evocação de Lobo da Costa”, que também virou livro, abordou o contraste dessa relação da cidade com o escritor. E a peça teatral de Sobreiro, premiada como melhor espetáculo no Festival do Teatro Gaúcho em Novo Hamburgo em 1987, foi a base para o curta “A Pelotas Caridosa / Poemas Lidos de Lobo da Costa” (26 minutos), lançado ao fim de outubro. O filme foi viabilizado através de edital da Universidade Feevale/SEDAC RS – financiamento de Projetos Culturais Digitais FAC DIGITAL RS. Link para acessar o filme: https://youtu.be/vaEH5zJ9bns
TALENTO de Flávio Dornelles que integrou o elenco da peça nos anos oitenta e, comunicado sobre o edital pelos amigos Andrea Terra e Vagner Vargas, teve a ideia do
curta. À frente da pesquisa, produção e direção, Flávio conta que o texto foi gentilmente cedido por Valter Sobreiro, que aprovou o resultado final. Para a equipe, Flávio convidou Claudio Ferreira (áudio/montagem/finalização), e Luis Fabiano (fotografia). A gravação ocorreu em setembro, durante dois sábados à tarde. Flávio menciona sobre o filme: “A história de Francisco foi festejada em teatros, casarões e saraus, mas a cidade esquece do homem que ‘atravessou uma quadra de extrema miséria’ vindo a morrer como indigente. O meu apreço pelo artista é de longa data. Atualmente, nessa conjuntura epidemiológica, temos outros Franciscos, pela cidade”. O curta foi gravado em preto-e-branco, e teve como designer Valder Valeirão.
ELENCO reúne: Flavio Dornelles (lunático/ Francisco); Andréa Terra (DeLorme); Luís Fabiano (Osório); Claudio Ferreira (cavalheiro); Igor Neves (Amadeu); Teci Pereira Jr (o violeiro); Katiane Cardoso (Alzira); e Rodri Aliandro (Aliandro/garçom). Produção executiva de Vagner Vargas e Isadora Passeggio.
PATRIMÔNIO – Conforme a pesquisadora Carla Ávila: “O filme é um breve apanhado dos últimos momentos de Francisco Lobo da Costa, com uma narrativa poética de sua glória e desterro. Pelotas do século XIX ao XXI. Uma face da cidade oculta nos becos, bares e boemia. Lugares férteis ou matéria-prima para um dos maiores escritores da jovem Princesa do Sul. Um poeta que muitos aceitavam, suas palavras articuladas numa sofisticada composição! Um Francisco esquecido. Um Lobo da Costa eternizado no patrimônio artístico e cultural pelotense”.