CONVERSA COM O ESCRITOR : Talento para motivar novos leitores
Amanhã às 15h na Bibliotheca Pública Pelotense, escritor Jorge Braga será o convidado do “Conversa com o autor
Por Carlos Cogoy
Criação literária que não aguarda pelo interesse de editoras. Publicações que não persistem cristalizadas nas estantes. Personagens que saem das páginas e revivem através de desenhos e interpretações cênicas. Autor que, ao invés de esperar pelas manifestações dos leitores, mantém-se em constante interação com o público. Perfil do escritor Jorge Braga que, amanhã, será a atração no “Conversa com o Autor” da Bibliotheca Pública Pelotense (BPP). A programação acontecerá na sala de literatura uruguaia, e Braga abordará sobre a criação literária para jovens. ENTRADA FRANCA.
TRAJETÓRIA – O escritor menciona sobre a formação, influências e criação literária: “Comecei a escrever muito cedo e, com treze anos, criei minha primeira prosa. Fui muito incentivado pela professora Maria Helena. Também tive a influência de uma tia que me deu um caderno de poemas. Desde então, apaixonei-me pela poesia. A escrita iniciou como necessidade de dizer a uma menina que eu estava apaixonado. Não tinha coragem de falar a ela, então resolvi escrever um poema. Daí em diante nunca mais me vi sem escrever. Já o que me moveu à criação foi uma tentativa de escrever um romance. Mas, como é muito extenso, resolvi escrever um conto, pois seria ‘menor’ a história. A partir daí peguei gosto e não parei mais. Como autores que me influenciaram, cito Vinicius de Moraes, Ernest Hemingway, Fernando Pessoa, Lobo da Costa, Gibran e Pablo Neruda”.
PUBLICAR – Braga já presidiu a Associação Gaúcha dos Escritores Independentes há dez anos. Ele avalia sobre os percalços para o autor que busca publicar seu trabalho: “Quando morei em Porto Alegre, fiz parte da AGEI. Realmente a publicação é batalha árdua, pois o livro é um ‘produto’ que dá muito dinheiro… para as editoras. É muito difícil uma editora se interessar pelo seu trabalho. O negócio é se ‘arremangar’ e ir para a produção independente, mas, literalmente se arremangar e ir para o mercado. Então procurar um público alvo e se entregar de alma. Outro aspecto muito delicado, refere-se à questão: até onde uma ‘criação’ literária é uma criação literária? É difícil tratar com as pessoas que querem editar seu trabalho. Qual é o crivo que baliza a produção ou não de um livro? O mercado não está nem aí para quem não é conhecido, a não ser salvas exceções, apadrinhamentos, indicações de outras mídias, e por aí afora. Muitas vezes criam-se autores para vender! Claro, existem os que têm seus méritos literários também. Mas não participo mais da Associação pois, no decorrer do mandato, meus interesses pessoais divergiram do propósito da entidade”.
LEITORES – Obras de Braga podem ser encontradas na Livraria Vanguarda. O escritor enfoca a motivação de novos leitores: “Venho nessa batalha há onze anos, passei por quase oitenta escolas. Em torno de seis mil alunos já fizeram parte do projeto. E, além de Pelotas e Capão do Leão, já levei a várias cidades na grande Porto Alegre. O resultado é que, em todas, a experiência foi muito satisfatória. Minha principal distribuição é fazer parcerias com escolas. Assim, a escola aceitando o projeto, compra um, dois, cinquenta livros. Algumas vezes as escolas não têm dinheiro para a compra, nesses casos, eu empresto alguns exemplares para que o projeto siga adiante. Posteriormente, os alunos trabalham a obra por uns trinta dias, aí sim vou na escola falar sobre o livro, de Jorge Braga, de literatura, em síntese o projeto é assim. A principal experiência que trago comigo, é despertar nos alunos a vontade de ler e escrever. Isso é muito importante para o desempenho do projeto, pois tenho como objetivo fazer jovens perderem-se ‘loucamente’ pelos livros. Essa é minha função social. E considero que a leitura é o princípio básico para que uma sociedade se estabeleça o mais próximo da igualdade social”.
POLÍTICA cultural na interpretação do escritor: “Nesses vinte e poucos anos que estou às voltas com a edição dos meus livros, participei de muitas ‘tentativas’ de levar a cultura. Independente do gênero, notei que, em quase todas, sempre os amigos do rei é que são contemplados! Então, acredito é no autor na sala de aula. No meu caso é o real propósito do autor, ou seja, levar livros, despertá-los, lá na fonte, dentro das escolas. O resto, muitas vezes, torna-se hipocrisia onde alguns autores querem uma promoção própria, ou apenas mostrar seus livros para outros escritores. Claro, sempre há exceções. Algumas pessoas realmente querem ver seu trabalho reconhecido pelo público. Por pensar assim, muitas vezes sou crucificado. Mas, não agradamos a todos”.
BIBLIOTHECA – Sobre a “Conversa com o autor”, Braga declara: “Na realidade para mim é mais um desafio, pois estou acostumado a falar aos alunos sobre minhas obras. Nesse evento vamos conversar sobre ‘criação literária infantojuvenil’, então será uma experiência nova. Estou muito ansioso até porque sou autodidata, não tenho embasamento acadêmico necessário, ou seja, será um papo descontraído, para quem realmente gosta de escrever para crianças, quer começar e, melhor ainda, pretende levar seus escritos para dentro das escolas. Meu lema é: somos o que lemos!”.