COVID NO BRASIL : Vacinação já evitou mais de 40 mil mortes de idosos
O avanço da campanha de vacinação contra a COVID-19 está associado a quedas progressivas na proporção de mortes de idosos por coronavírus no Brasil, segundo novas estimativas divulgadas nesta quinta-feira em estudo realizado pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas em parceria com a Universidade Harvard e o Ministério da Saúde.
Para avaliar a efetividade da campanha de imunização no país, os pesquisadores analisaram as tendências de mortes por COVID-19 e por outras causas não relacionadas ao coronavírus ao longo do período de 3 de janeiro a 27 de maio de 2021, com base em dados sobre óbitos e cobertura vacinal registrados pelo Ministério da Saúde. Nesse intervalo, o país registrou 238.414 óbitos por COVID-19 e 447.817 mortes por outras causas.
Os resultados mostram que o número de óbitos por COVID-19 em todas as idades aumentou a partir do final de fevereiro em decorrência da rápida disseminação da variante gama (antiga P.1) para todo o país – a cepa havia sido identificada pela primeira vez em dezembro no estado do Amazonas.
Os níveis nacionais de cobertura com a primeira dose da vacina alcançaram metade dos idosos de 80 anos ou mais na primeira quinzena de fevereiro e superaram os 80% na quinzena seguinte, estabilizando-se em torno de 95% a partir de março. Em paralelo, o percentual de mortes de idosos caiu de 28% do total de óbitos por COVID-19, em janeiro, para 12%, em maio, com início de queda acentuada a partir da segunda metade de fevereiro. A proporção de mortes nesse grupo por causas não relacionadas à COVID-19 permaneceu estável em quase 30% no mesmo período.
Para as pessoas de 70 a 79 anos, a cobertura vacinal com a primeira dose atingiu metade da população nessa faixa etária na última semana de março, alcançando 90% na primeira metade de maio. A proporção de mortes por COVID-19 nesse grupo permaneceu em torno de 25% do total de óbitos pela doença até a segunda semana de abril. A partir daí, começou a diminuir acentuadamente, chegando a 16% na última semana de maio. Entre esses idosos, a proporção de mortes por outras causas permaneceu estável em pouco mais de 20% do total de mortes por causas não relacionadas à COVID-19.
O avanço da cobertura de imunização entre as pessoas com 70 anos ou mais de idade é consistente com a priorização dos grupos populacionais mais idosos, enquanto a cobertura entre as faixas etárias mais jovens ficou restrita a grupos prioritários, como trabalhadores da saúde, povos indígenas e pessoas que vivem em instituições.
A vacina CoronaVac representou 65,4% e a AstraZeneca/Oxford 29,8% de todas as doses administradas ao longo do mês de janeiro, enquanto as porcentagens foram de 36,5% para CoronaVac e 53,3% para AstraZeneca/Oxford no período entre meados de abril e metade de maio. Os imunizantes da Pfizer/BioNTech (Alemanha) e do Instituto Serum (Índia) responderam pelas doses restantes no período mais recente.
Os pesquisadores estimam que o avanço da vacinação seja responsável pela prevenção de mais de 40 mil mortes de idosos em um intervalo de trezes semanas no Brasil. Segundo os cálculos, se o número de mortes entre os mais idosos houvesse seguido a mesma tendência observada para os brasileiros mais jovens, seriam esperadas 70.015 mortes de pessoas de 80 anos ou mais contra 37.401 registradas no período. Entre as pessoas de 70 a 79 anos, a expectativa de óbitos seria de 20.238 contra 13.838 registrados. Somando as estimativas para ambas as faixas etárias, foram evitadas as mortes de 43.082 idosos no país.
“Encontramos evidências de que, embora a disseminação da variante P.1 tenha levado ao aumento das mortes por COVID-19 em todas as idades, a proporção de óbitos entre os idosos começou a cair rapidamente a partir da segunda quinzena de fevereiro de 2021. Até então, essa proporção tinha se mantido estável em torno de 25% a 30% desde o início da epidemia, mas agora se encontra abaixo de 13%. Além disso, nossas análises de óbitos por outras causas mostram que o declínio proporcional entre os idosos é específico para as mortes por COVID-19”, comenta o epidemiologista e líder do estudo, Cesar Victora, da Universidade Federal de Pelotas.
“A principal contribuição de nosso estudo é fornecer evidências sobre a efetividade do programa de vacinação no Brasil como um todo, em um cenário onde a variante gama atualmente predomina, confirmando os achados de estudos anteriores realizados em grupos populacionais mais restritos. Como o distanciamento social e uso de máscara estão sendo adotados de forma limitada na maior parte do país, o rápido aumento da vacinação permanece como a abordagem mais promissora para controlar a pandemia em um país onde quase 500 mil vidas já foram perdidas para a COVID-19”, conclui o autor.