Diário da Manhã

Oficinas gratuitas de teatro, fotografia, ação urbana e “narrativas híbridas”, com limite de 25 vagas em cada modalidade

Por Carlos Cogoy

Revisitar Pelotas numa trilha demarcada pela memória de tempos e lugares. Muito além do jardim da praça do coronel, o reencontro com o mosaico de sensações e sentimentos. Para percorrer a subjetividade, estímulo estético através da gestualidade teatral, bem como da contemporaneidade digital. No projeto “Criar na Cidade” – financiamento através do Programa Economia da Cultura e Diversidade da Secretaria Municipal de Cultura (Secult) -, diretora teatral Tainah Dadda estará ministrando as oficinas de teatro e narrativas híbridas – datas e horários, veja box. Ao DM ela contou sobre a formação, trajetória artística, relação com Pelotas e a perspectiva de criação sem os clichês que exaltam a “cidade do doce”.

TRAJETÓRIA – Tainah é de Porto Alegre, e a relação com o teatro começou na escola. A menina introvertida passou a participar das peças montadas por colega de aula. Na sequência, a formação em teatro – habilitação em direção – pela UFRGS. A estreia na direção aconteceu com “Desvario”, texto do chileno Jorge Diáz em 2009. No ano seguinte, dirigiu “Sobre Saltos de Scarpin”, espetáculo que foi apresentado no Estado através de parceria com o SESC. Em 2012, montou “Sr. Kolpert”, texto alemão até então inédito no Brasil. Também venceu o concurso para novos diretores do Instituto Goethe e coordenação de artes cênicas de Porto Alegre. Em 2013 com Thais Fernandes, criação do coletivo de artes integradas “Cena Expandida”. A parceria obteve o prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz, viabilizando a peça “No que vocês está pensando?”, com direção conjunta. O espetáculo estará em nova temporada em novembro. A montagem gerou a ação urbana e videoarte “No que você está pensando? – narrativas urbanas”. O trabalho, que conta com Patrick Tedesco, ano passado foi apresentado na Feira do Livro em Pelotas. Em Canoas, também em 2014, durante nove meses ministrou oficinas de experimentação e montagem teatral. A experiência propiciou, com a participação dos alunos, o espetáculo “Interferências”. Atualmente, a diretora orienta oficina em Porto Alegre, cuja conclusão está prevista para dezembro. Na internet, a divulgação do projeto coletivo com Thais: cenaexpandida.com.br

Tainah Dadda ministrará oficinas de teatro e narrativas híbridas

PELOTAS – Tainah menciona sobre a relação com a cidade: “Meu avô trabalhou na cidade até os anos sessenta. Ele tinha muitas lembranças de coisas que nem existem mais. Eu só fui visitar Pelotas pela primeira vez em 2011, desde então tenho visitado anualmente. Conheci a cidade através de um artista pelotense, por quem tenho profunda admiração, o compositor, cantor e produtor musical, Luciano Mello. Ele é o autor da trilha sonora de dois espetáculos que dirigi. Conheci também o artista visual e fotógrafo Patrick Tedesco, que é um grande amigo e um importante parceiro de trabalho. Eles me apresentaram uma Pelotas de recantos encantadores, comidas deliciosas e artistas interessantes, mas também repleta de estagnação e carências em muitos âmbitos e, por isso mesmo, a criação na cidade me parece urgente e possível. Há muito a ser realizado. Assim como grande parte dos municípios brasileiros, o espaço e a vida urbana em Pelotas, precisa ser debatido e repensado. É preciso olhar para cidade buscando novos ângulos, novas possibilidades. O passado jamais deve ser esquecido e é preciso preservá-lo, mas nos interessa ir além da velha Pelotas aristocrática, da tradição do doce etc. Não queremos falar de uma Pelotas para revista de turismo, queremos é estimular que as pessoas tragam seus pontos de vista diversos, contrastantes sobre o cotidiano no presente da cidade”.

TEATRO – A diretora menciona sobre a oficina de teatro: “Os exercícios enfocam jogos teatrais e exercícios corporais, de improvisação e composição cênicas. As práticas vão ser calcadas principalmente no método ‘Viewpoints’, que é uma espécie de treinamento para atores, bailarinos e performers. Surgiu nos anos sessenta, na dança, e foi adaptado para o teatro nos anos noventa, pelas diretoras norte americanas Anne Bogarth e Tina Landau. Trata-se de nove princípios de relação com tempo-espaço. Com essas ferramentas de criação,  serão construídas intervenções cênicas, com forte caráter plástico, visual, a partir de improvisações dos participantes sobre suas memórias afetivas da cidade. O foco principal será a memória individual sobre o espaço urbano atual, não a ‘história oficial’ da cidade e, sim, as relações subjetivas de cada um com lugares existentes, desaparecidos ou só imaginados e desejados em Pelotas. A quantidade e  duração das intervenções dependerão de quantas pessoas fizerem a oficina e o que elas criarem. Todos os participantes poderão estar na apresentação final, que ocorrerá às 17h do dia 24 no Casarão 2. Na véspera,  ensaio geral para detalhamento das performances”.

HÍBRIDA – Sobre as narrativas híbridas ela diz: “A ideia da oficina de narrativa híbrida é uma extensão da pesquisa e prática de produção do ‘Cena Expandida’. O desafio é viabilizar uma integração, criando obra una. O que usualmente observamos, são peças de teatro que apresentam o vídeo como adereço. Então não é essencial para a narrativa. Isso acontece por inúmeras razões, que passam pelas condições precárias de ensaio que temos aqui no Estado, o que dificulta muito o uso de tecnologias em cena, e também pelo ‘modismo’, ou seja, fazer para parecer ou se sentir ‘vanguarda’. Ou, então, querer usar um recurso sem conhecimento. Nossa oficina não quer pregar um método, quer sugerir e pensar coletivamente acerca de ferramentas e novas formas para produção e difusão de conteúdo artístico. Acreditamos na justaposição das artes, não para diluir o que há de específico em cada linguagem, mas do contrário, para potencializar. Então para participar, o aluno deverá ter um smartphone ou tablet com espaço na memória. Os participantes terão um dia de aula teórico e outro prático. Serão criadas breves performances cênicas com elementos da composição teatral, que serão adaptadas à linguagem audiovisual. No dia 24, exibição dos vídeos”.

ARTE conforme Tainah: “Considero o teatro como a minha principal forma de contato e comunicação com o mundo. Entendo como motivação primitiva, a fuga da solidão. A arte não é utilitária, não tem o poder de redimir ou salvar a humanidade, mas penso que ela é capaz de promover reflexões importantes, despertar debates, além de oferecer momentos de suspensão da realidade, da crueza do dia a dia, o que é essencial. O fazer artístico é ainda muito romantizado, mas a verdade é que é um trabalho árduo, cheio de percalços e dificuldades. Ainda assim, é inegável que a relação com a criação artística, ao mesmo tempo que auxilia no processo de autoconhecimento e amadurecimento, sociabiliza e promove um olhar para as relações de alteridade”.

Inscrições abertas para as oficinas

Atividades terão início na próxima semana e serão realizadas no prédio da Secult – Praça Cel. Pedro Osório 2. Para participar das oficinas, idade mínima de catorze anos. A produção executiva é de Ana Maia. A divulgação está a cargo da equipe Maria Bonita Comunicação. Formulário para inscrição está disponível na Secult. Também é possível efetuar a inscrição através do email: [email protected]

FOTOGRAFIA com Patrick Tedesco: dias 5, 7 e 9 de outubro, com encontros das 14h às 18h. Participantes deverão levar câmera ou aparelho celular.

NARRATIVAS híbridas com vídeo, internet e performance. A oficina será ministrada por Thais Fernandes e Tainah Dadda. Dias 9 e 10 de outubro das 14h às 18h. Participantes deverão levar aparelho celular com câmera ou tablet.

AÇÃO URBANA será oficina com Priscila Costa Oliveira. Dias 13, 14 e 15 de outubro das 14h às 18h.

TEATRO com Tainah Dadda nos dias 6, 17 e 18 de outubro. Encontros das 14h às 18h.

ENCERRAMENTO na mostra “Criar na cidade”, que apresentará o resultado das oficinas no dia 24 de outubro das 14h30min às 18h.

IDEIA do “Criar na Cidade” conforme divulgação: “A proposta é do artista visual e designer pelotense Patrick Tedesco e a diretora teatral Tainah Dadda, do coletivo de artes de Porto Alegre, Cena Expandida. Os dois uniram esforços na intenção de fomentar a pluralidade de visões e meios de pensar o espaço e a vida urbana de Pelotas, através de diferentes linguagens artísticas”.

APOIO – A continuidade poderá ocorrer, bem como a itinerância do “Criar na Cidade”, chegando a outros municípios. Para isso, no entanto, a necessidade de parceiros e apoiadores. Em Pelotas, além da aprovação no edital da Secult, o projeto também conta com apoiadores: “Café Libre”; “A Vapor Estúdio”; “Flat7 Hotel” e “Now Café Estilo”.