Diário da Manhã

domingo, 24 de novembro de 2024

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CRIAR NA CIDADE : Observar a cidade e escutar o outro

09 outubro
09:21 2015

Dias 13, 14 e 15 das 14h às 18h, artista pelotense Priscila Costa Oliveira ministrará oficina de Ação Urbana na Secult

Por Carlos Cogoy.

Ação “Falar de tempo para falar de arte”

Ação “Falar de tempo para falar de arte”

Integrando o projeto “Criar na Cidade”, que está oferecendo oficinas gratuitas à comunidade, artista visual Priscila Oliveira reunirá grupo para Ação Urbana.  A oficina acontecerá dias 13, 14 e 15, com encontros de quatro horas no prédio da Secretaria Municipal de Cultura (SECULT) – Praça Cel. Pedro Osório 2. Talentosa, Priscila já realizou oficina similar ano passado. A prática ocorreu com alunos do curso de design de móveis do IFSul – disciplina Experiência Estética. Neste ano também ministrou no curso de artes visuais da UFPel. Ela menciona sobre a proposta: “A ação urbana é indivisível entre a ação e sua localização, demandando a presença e interação do público para gerar sentido no contexto ao qual está inserida. Ela acontece no momento que está sendo construída. Para participar da oficina as pessoas só precisam estar dispostas a observar a cidade e escutar o outro”. O “Criar na Cidade” conta com financiamento, mediante seleção em edital, do Programa Economia da Cultura e Diversidade da Secult.  A produção executiva é de Ana Maia. A divulgação está a cargo da equipe Maria Bonita Comunicação. Formulário para inscrição está disponível na Secult. Também é possível efetuar a inscrição através do email: [email protected]

ENCONTRO – Sobre a oficina ela menciona: “O que está pré-definido na oficina é que no primeiro dia haverá uma conversa para nos conhecermos e nos escutarmos. A partir desse encontro vamos elaborar uma ação urbana coletiva. Partindo das necessidades que o grupo identificar na cidade. A localização da ação também será escolhida pelo grupo participante. É uma forma simples de autogestão coletiva”.

RESISTÊNCIA – A artista enfatiza nova relação com a convivência na cidade: “As ações de conversação em espaço urbano, propõem-se a pensar e agir para cidade mais humana. Espaço no qual o cidadão comum possa ter voz e agir sobre sua cidade. Então, sem ficar à mercê de órgãos gestores. A falta de tempo, a insegurança e a arquitetura hostil das cidades foram levando as pessoas cada vez mais para dentro de suas casas, atrás de suas portas e grades, transformando a calçada em um espaço unicamente de passagem. Como contraponto, desenvolvi as ações do projeto ‘Sentar à Porta’. Trata-se da volta à escuta da fala pública, o exercício mais caro da democracia, onde é o cidadão quem pode falar. Para isso, é feito convite pessoalmente, onde bato de porta em porta convidando os moradores dos bairros e centro a sentarem em frente a suas casas, pelo menos por cinco minutos. O projeto busca reviver esse hábito e, através dele, discutir e ocupar o espaço urbano. A ideia é que o movimento se espalhe e, cada vez mais, se vejam pessoas ocupando as calçadas.

“A condição de espera/estado de presença” em 2014

“A condição de espera/estado de presença” em 2014

O projeto nasceu em 2014, a partir de andanças pelas ruas do Porto de Pelotas. Na sua grande maioria, as calçadas permaneciam vazias, com exceção de alguns casais com mais idade. Assim, fui percebendo o quanto as pessoas não conhecem mais seus vizinhos e é nisso que se baseia a apropriação de espaço: na relação com as pessoas. Só assim, o espaço público deixará de ser refém de uma política partidária que se baseia em interesses econômicos e não humanos. Apos um ano promovendo a ação, percebi pontos relacionados ao espaço, bairro e vizinhança, como a diminuição da criminalidade. Em ruas onde há esse costume entre os moradores, durante o momento que estão nas ruas, não há menção de assaltos. O movimento de ‘sentar à porta’ se torna intimidatório para ações violentas, fazendo com que os criminosos optem por ruas desertas. Como diz Bourriaud (2009): ‘Parece mais urgente inventar relações possíveis com os vizinhos de hoje do que entoar loas ao amanhã. E só, mas é muito’. Entendendo que as calçadas podem ser uma arquitetura de discurso público, que faz o povo se empoderar daquele Lugar.

Como exemplo: no bairro porto-alegrense, as pessoas acabaram por se aglutinarem em uma ou duas casas e acabaram por debater o bairro, com suas histórias e mudanças. Para algumas foi a primeira oportunidade de comunicar com seus vizinhos. Isso torna o espaço mais humano, criando laços afetivos entre moradores. E são nessas relações que nos tornamos resistência a violências institucionais. Assim, a proposição continua a buscar estratégias de empoderamento pela fala, analisando e debatendo a conversa como linguagem artística”.

CONTEMPORANEIDADE – Priscila reflete e cria a partir de conceitos como descontinuidade e desaceleração. Ela cita Milton Santos: “O mundo de hoje parece existir sob o signo da velocidade. O triunfo da técnica, a onipresença da competitividade, o deslumbramento da instantaneidade, na transmissão e recepção de palavras, sons e imagens e a própria esperança de atingir outros mundos contribuem, juntos, para que a ideia de velocidade esteja presente em todos os espíritos e a sua utilização constitua uma espécie de tentação permanente. Ser atual ou eficaz, dentro dos parâmetros reinantes, conduz a considerar a velocidade como uma necessidade e a pressa como uma virtude. Quanto aos demais não incluídos, é como se apenas fossem arrastados a participar incompletamente da produção da história”.

Priscila Oliveira ministrará oficina

Priscila Oliveira ministrará oficina

Trajetória ligada à arte e educação

 Atualmente residindo em Florianópolis, Priscila Oliveira prepara-se para o mestrado em Processos Contemporâneos. Na formação, magistério no Assis Brasil, comunicação visual no IFSul e licenciatura em artes visuais na UFPel. Em 2013, atuou como mediadora artística na 9ª Bienal do Mercosul.

O interesse pela arte foi estimulado em família. “Desde criança houve interesse pela criação artística, fosse desenho, pintura ou invenções de objetos. Sempre fui estimulada pela minha família, principalmente pelo meu pai que dedicava horas do dia acompanhando minhas invenções cotidianas. Ao longo do meu percurso, nunca consegui separar arte e educação. Quando no Magistério, entre 2004 e 2009, misturava proposições artísticas com outras disciplinas. Durante o curso de comunicação visual no IFSul Pelotas, realizei meu estágio em uma escola particular de Pelotas, produzindo materiais didáticos. Ao entrar na faculdade de artes visuais, me envolvi em produção cultural e mediação artística”, diz ela

Em relação à produção cultural, Priscila sinaliza para desdobramentos contemporâneos: “Como produtora cultural, organizei exposições e eventos em espaços precários e percebi a aproximação da comunidade naqueles locais. As pessoas eram atraídas pela curiosidade, para saberem o que havia sido feito com aquele espaço, que antes era uma fábrica em que sua família trabalhava ou a casa de um conhecido e, a partir desse encontro, se iniciava uma conversa sobre arte”.

Entre 2011 e 2012, a artista participou do grupo “Patafísica: mediadores do imaginário”. O grupo atuava na galeria A SALA do Centro de Artes da UFPel. Em 2012 e 2013, estágio em escola. Ela avalia: “Durante o estágio, me deparei com uma série de questões, tais como: organização do espaço em sala de aula, a obrigação de ensinar do professor e do aprender do aluno, a pressa por cumprir todas as tarefas em uma pequena porção de tempo e toda a pressão que a instituição escola põe aos seus envolvidos”. Ainda em 2013, integrando o coletivo Viração, promoveu “Exposições afetivas” no DCE da UFPel.

 

 

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