CRISE : Hospital Espírita protesta e paralisa suas atividades
Serviços serão paralisados hoje
Apenas o atendimento a pacientes internados não serão afetados pelo protesto
Um grito de socorro, talvez o primeiro de uma série, ainda que a torcida seja para que fique apenas no de hoje. É que a situação chegou no limite, em função de gritos anteriores não terem sido ouvidos, de o agravamento da situação não ter sido percebido. Assim, esta terça-feira será marcada por um protesto em forma de paralisação nas atividades externas do Hospital Espírita de Pelotas. Apenas os pacientes internados receberão a atenção dos servidores e gestores da instituição hospitalar nesta terça-feira.
A paralisação que começa às 8h vai até amanhã, no mesmo horário. Ou seja, serão 24 horas de protesto. Apesar de relevante, o motivo é simples: a falta de recursos que dificulta a prestação dos serviços à comunidade.
Atualmente, o Hospital Espírita de Pelotas possui cinco unidades: uma voltada a pacientes do sexo masculino com transtornos psiquiátricos; uma unidade com pacientes do sexo masculino em situação de sofrimento oriundos do uso de álcool; uma unidade com pacientes do sexo masculino em situação de sofrimento oriundos do uso de drogas; uma unidade destinada a pacientes do sexo feminino com transtornos psiquiátricos e em situação de sofrimento oriundos do uso de álcool ou drogas, e uma unidade de convênios médicos e particulares também para pacientes com sofrimento decorrente do uso de drogas e álcool e transtornos psiquiátricos.
No total, a instituição, a instituição possui 199 leitos, sendo que 160 são destinados a pacientes do Sistema Único de Saúde, que recebem o serviço de internação sem nenhum custo.
“Importante ressaltar que num passado recente, o Hospital Espírita de Pelotas mantinha 100% de seus leitos destinados ao SUS. Entretanto, face a impossibilidade de sustentar os custos de manutenção de seus serviços apenas com o Sistema Único de Saúde, teve que reduzir este percentual para 80% de sua capacidade instalada”, aponta o administrador, Tiago Martinato, lamentando ter de paralisar os atendimentos externos para tentar sensibilizar as autoridades. As internações também estarão suspensas no dia de hoje.
H O S P I T A L E S P Í R I T A D E P E L O T A S
Carta aberta a população de Pelotas e região sul
Nos idos de 1940 a cidade de Pelotas já enfrentava o problema de ver pessoas com transtornos psiquiátricos perambulando pelas ruas da cidade sem a perspectiva do recebimento de tratamento humanizado.
Naquela época os pacientes eram recolhidos ao presídio municipal até a passagem do trem de passageiro com destino a Porto Alegre, momento em que os pacientes embarcavam rumo ao Hospital São Pedro, muitos lá permanecendo até o final de suas vidas.
Entendendo esta situação como injusta de desumana, a recém criada Liga Espírita Pelotense reuniu esforços e solicitou a prefeitura da época a doação de um terreno para fundar um Hospital psiquiátrico, que se encarregaria de cuidar das pessoas nessas condições.
Passados 67 anos o Hospital Espírita de Pelotas segue cumprindo seu papel enquanto instituição de saúde, ciente também de seu papel social e humanitário no seio da comunidade de Pelotas e região sul do estado.
Entretanto, nesta ocasião, imperativo se faz trazer ao conhecimento de toda a população, assim como da sociedade civil organizada, informações sobre a gravíssima situação em que o Hospital Espírita de Pelotas se encontra, e alertar a todos sobre o risco iminente de supressão de serviços ou fechamento de leitos.
O Hospital Espírita de Pelotas, pelo simples fato de ser um hospital especializado em psiquiatria, sofre limitações de acesso a verbas e políticas públicas de saúde. Viu ao longo dos últimos anos emendas parlamentares destinadas por senadores e deputados estaduais ao nosso Hospital, serem negadas, viu recursos também estaduais importantes serem suprimidos no primeiro semestre de 2015, e outros, serem pagos com atraso no ano de 2016. Se vê obrigado a trabalhar com valores de diárias de internação que não sofrem reajuste há mais de 05 anos, quando tudo, materiais, insumos, alimentos, medicações, salários, entre outros sofreram inúmeros reajustes.
Recebemos um valor de diária de R$ 55,20, importância esta que deveria cobrir todas as necessidades do paciente durante sua internação, dentre as quais podemos citar as cinco refeições diárias que toma no hospital, serviço de hotelaria, rouparia e lavanderia, o material de higiene pessoal que o Hospital lhes fornece, tais como absorventes, escova e pasta de dentes e lâminas de barbear por exemplo, toda a medicação psiquiátrica e clínica que recebe, exames complementares de diagnósticos, transportes e remoções, equipe multiprofissional completa, manutenção e conservação dos espaços do Hospital, entre outros.
Desnecessário afirmar que tal valor não cobre nem metade das necessidades acima elencadas. O custo do paciente/dia é de R$ 159,70, de tal forma que o Hospital experimenta um prejuízo de R$ 104,50 por diária de internação.
O Hospital acumulou nos últimos dois anos resultados financeiros negativos na ordem de R$ 2.000.000,00, encontra-se com um endividamento bancário de R$ 1.000.000,00 e possui ainda débitos de outras naturezas que também se aproximam a R$ 1.000.000,00.
O Hospital não tem mais condições seguir operando nestas condições e corre risco iminente de cancelar serviços ou diminuir a oferta de leitos SUS.
O Hospital já se reuniu com a Secretaria Municipal de Saúde expondo toda a situação e dificuldades enfrentadas. A Secretária se comprometeu em tentar ajudar o Hospital.
Nos reunimos também com a Secretaria Estadual de Saúde, onde igualmente repassamos ao Coordenador da Saúde Mental do Estado, que ao receber todas as informações sobre a delicada situação do Hospital, também se comprometeu em tentar ajudar o Hospital ficando de dar uma resposta o mais breve possível.
Esperamos que, em conjunto, seja possível construir uma solução para este problema, a qual se traduza em uma forma de conseguir viabilizar a manutenção dos serviços do Hospital e que, se necessário, os chefes do executivo e os representantes do poder legislativo, tanto da esfera municipal quanto estadual, tomem parte neste processo e que ajudem a manter vivo o Hospital Espírita, uma Instituição de quase 70 anos, que faz parte da história da nossa cidade, que gera aproximadamente 220 empregos e receita para o município e estado, que movimenta uma microeconomia no bairro Areal mas, principalmente, porque é a principal referência do munícipio em tratamento hospitalar em psiquiatria, em especial para o tratamento de dependência ao crack, álcool e outras drogas, por possuir o único serviço de pronto atendimento psiquiátrico 24h do município e por possuir 92% do total de leitos do município e 46% do total de leitos da região sul Estado, onde é referência para outros 21 municípios e para uma população de quase 1.000.000 de habitantes.
Pelotas, 21 de março de 2017.
A Direção