Diferenças que maltratam a Santa Casa
Demandas pelos serviços prestados e defasadas tabelas do SUS caminham juntas na centenária instituição
Os problemas enfrentados pela Santa Casa de Misericórdia de Pelotas não são exclusividade da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas: eles vêm de longe, existem há tempos, e também assolam outras instituições na área da prestação de serviços voltados à saúde pública, em todo o País. Pode-se até dizer que o principal e grande vilão chama-se Sistema Único de Saúde (SUS) e suas defasadas tabelas de valores pagos pelos serviços prestados.
“Enquanto há um crescente aumento na demanda pelos serviços, há também uma preocupante e assustadora defasagem na tabela”, confirma Lauro Melo, provedor da centenária (1847/2017) instituição filantrópica. Há tabelas que não são reajustadas há 20 anos.
Assim, a atual diferença entre o custo dos serviços prestados pela Santa Casa e o valor repassado pelo SUS é um tipo de “dodói” que se transforma em doença do tipo crônica, dessas que lotam enfermarias e UTIs. Isso no campo da gestão administrativa. Um raio X, por exemplo, custa R$ 18,00 para o SUS e R$ 32,00 para a Santa Casa. A diferença cai na conta do hospital.
O parcelamento no pagamento nos salários dos servidores não tira apenas o sono dos servidores. Preocupa também os gestores, que buscam alternativas para superar o problema. O pagamento parcelado dos salários é motivado pelo atraso nos repasses, pelo SUS. O aumento na demanda de alguns procedimentos de alta complexidade, que estão contratualizados, é uma saída que pode render R$ 700 mil mensais a mais à instituição hospitalar que possui estrutura para o atendimento de mais serviços nas áreas cardiológicas, oncológicas e traumatológicas. E há demanda, só que não chega à Santa Casa.
Alguns itens contratuais também estão sendo reformulados para constar na renovação de contrato com o SUS, o qual será renovado ainda neste mês. E podem melhorar a arrecadação financeira. Com isso, também será possível recuperar e ampliar alguns procedimentos no âmbito da urgência e emergência já a partir do mês agosto.
De acordo com o provedor, a defasagem na tabela do SUS é co-responsável por uma conta negativa com o corpo médico que chega a R$ 1.300,00 mensais. Dentre os 1.077 funcionários da Santa Casa estão 450 médicos.
Recentemente, alguns profissionais da traumatologia cancelaram seus contratos com a instituição. No entanto, o serviço não foi paralisado. Houve a reposição de novos profissionais.
“Felizmente temos conseguido manter os serviços, com a mesma qualidade”, salienta Lauro Melo.
Ainda no contexto da prestação dos serviços, pela Santa Casa de Misericórdia, Melo observa que em alguns municípios da região houve o fechamento de diversos setores. O que fez aumentar a demanda na instituição. Só a tabela do SUS permanece a mesma.
IMÓVEIS À VENDA
Um fôlego nas dividas da instituição poderá chegar com a venda de dois de seus imóveis. Os valores arrecadados vão amenizar as “dores” sentidas pela Santa Casa.. O corpo diretivo do hospital já aprovou a venda. Mas a conclusão da negociação ainda depende da aprovação em uma assembleia da irmandade. O valor que será arrecado está destinado ao pagamento da dívida que a Santa Casa possui com alguns médicos.