DIVERSIDADE : Desconstruindo preconceitos na escola
Debate “Inclusão e diversidade na formação de professores”, esteve entres os destaques da 21ª Jornada Pedagógica no Pelotense
Por Carlos Cogoy
Preconceito e discriminação, pensamento e ação. Concepções e posturas expressando intolerância com o diferente. A escola, um dos principais espaços de convívio em sociedade, reproduz valores conservadores. Cabe ao educador, provocar a desconstrução do senso comum, em relação a questões étnicas, sexualidade e aceitação dos deficientes. A temática foi debatida na mesa “Inclusão e diversidade na formação de professores”, que integrou a Jornada Pedagógica do curso Normal – habilitação anos iniciais – no Colégio Municipal Pelotense. A questão étnica foi abordada pela professora Marielda Medeiros. Já a sexualidade foi o enfoque do pesquisador Luciano Pereira dos Santos. E a inclusão do deficiente foi explanada pela educadora Patrícia Pinheiro.
ETNIA – Marielda abordou sobre a sua trajetória, como professora e coordenadora no curso Normal do Pelotense nos anos noventa. Atualmente, a filha é aluna do colégio. A partir de episódio com a menina em sala de aula, ela desenvolveu abordagem sobre a questão étnica. A filha fez tranças e foi para a escola.
Em aula, porém, alunos riram do cabelo. Para a mãe e educadora, além do desapontamento, a situação serve para desconstruir preconceitos. Educadora ativa na luta pela igualdade étnica, Marielda exibiu vídeos que abordam a desigualdade social, e o respeito à diversidade. Mencionando Charles Taylor, ela expôs ao público: “Um indivíduo ou grupo de pessoas podem sofrer um verdadeiro dano, uma autêntica deformação, se a gente ou a sociedade que os rodeiam lhes mostram como reflexo, uma imagem limitada, degradante, depreciada sobre ele”. E a educadora acrescentou: “Diferenças físicas, étnicas, culturais, de gênero e identidade sexual, são fatos. Mas o ponto crucial do debate sobre inclusão e diversidade, é a percepção, a reflexão e a atuação sobre mecanismos sociais, que transformam as diferenças em igualdade”.
MUDAR – No Maranhão há poucas semanas houve linchamento público. Marielda comentou a violência, salientando que a ação coletiva exterioriza tensão velada na sociedade. Como exemplo local, citou manifestação num ônibus urbano. Mulher branca ao levantar do assento, deixou cair o celular. Menino negro que estava ao lado, tratou de avisá-la. Do fundo do ônibus, alguém expressou: “Bah!, o negro devolveu o celular”. De acordo com Marielda, trata-se da mesma concepção daqueles que protagonizaram o linchamento.
O preconceito, afirmou a palestrante, é “naturalizado” pela mídia e reforçado na escola. Para desencadear mudança em sala de aula, há mais de dez anos está em vigência a lei federal que estabelece o ensino da história e cultura afro-brasileira. “A implementação da lei, no entanto, depende do comprometimento do poder Executivo. Enquanto falta vontade política, persiste a violência simbólica de sociedade que não admite diferentes. E as crianças evadem da escola pois, quando afeta a estima, ninguém resiste. A escola pública brasileira ignora a origem de seus alunos, transmitindo-lhes conteúdo que perpetua a hegemonia cultural do europeu. Então cabe à educação, desenvolver ampla abordagem. E, ao invés de unidades didáticas, pauta para todo o ano letivo.
Tenho pedido para que não me convidem mais para palestras em novembro. No mês da consciência negra é que somos lembrados. Então, como alternativa, e também chamando os não-negros, precisamos construir conhecimento e fazer pedagógico. É preciso revisar e transformar o currículo, com qualificação dos professores e constante aperfeiçoamento. Não há receitas mas necessidade de diálogo”, frisou.
DEFICIENTES – Patrícia Pinheiro abordou, em relação à educação especial, sobre aspectos legais e concepções conceituais. A perspectiva inclusiva, conforme disse, perpassa todos os níveis. No ensino regular, o deficiente deve ser inserido através do Atendimento Educacional Especializado (AEE). O aluno com deficiência, de acordo com Convenção da ONU é aquele que apresenta “impedimento de longo prazo de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”.
SEXUALIDADE – Luciano Santos identificou conceitos: “O gênero é como alguém se vê. A orientação sexual é a quem se deseja. O biológico implica as diferenças fisiológicas. A identidade de gênero abrange lésbicas e travestis. O papel de gênero pode ser menino ou menina. A orientação pode ser hetero, homo ou bissexual. A relação sexual pode ser para procriar, por prazer ou amor”. Na sociedade, explanou Luciano, a sexualidade está presente desde a expectativa pelo feto que está no útero. Na infância, o treinamento é heterossexual, com bola e azul para menino, boneca e rosa para menina. Em sala de aula, abordou o pesquisador, a construção é para não pensar. No entanto, o professor que não enfoca as situações envolvendo a sexualidade, contribui para que o opressor vença duas vezes. Calando, além de não dialogar sobre direitos, esclarecendo e contribuindo com a tolerância, também reforça o preconceito do senso comum.