DOCUMENTÁRIO : Shows, financiamento e produção, nas estratégias que projetaram Zudizilla
Por Carlos Cogoy
Há mais de dois anos radicado em São Paulo, o rapper pelotense Julio Cesar “Zudizilla” Correa Farias, conquistou reconhecimento no Estado e, através de parcerias como o DJ Nyack, chegou ao centro do País, onde tem sido aclamado como um dos artistas negros mais talentosos da nova geração. Essa trajetória, que contrasta com vários MCs e DJs pelotenses que, desde os anos noventa, dedicam-se a divulgar sua arte, ainda está sendo sedimentada, mas foi sendo construída através de estratégias. É o que relata Valdir “Manoval” Robe Jr – sócio-proprietário do Galpão Satolep -, que, durante seis anos, esteve atuando na produção cultural de Zudizilla. O trabalho, inicialmente com fomento local, posteriormente estadual e, gradativamente, mirando a divulgação nacional, transformou-se numa relação de amizade, e está no documentário “Rap e Produção Cultural, uma conexão possível e necessária” (28 minutos). A produção da equipe Mundo Atlântico Filmes, foi viabilizada através do edital nº 01/2020 – Universidade Feevale/SEDAC-RS. Link para assistir: https://www.youtube.com/watch?v=7-vDu1JQWfM
ARTE – Como produtor cultural, Manoval esteve à frente de eventos como a Primavera Cultura Livre, Grito Rock, Festival Satolep Circus. A atenção para o Rap, aconteceu ao assistir uma apresentação do grupo Banca CNR. Sobre Zudizilla, Manoval menciona como um artista que tem expressividade também noutras linguagens. “Considero ele um artista muito completo, pois é designer, grafiteiro, sabe direcionar a sua arte por caminhos que considera legais. Atinge um público que não é necessariamente o público ouvinte do Rap. Como exemplo disso, a grande aceitação de seu trabalho em festivais de rock. Acredito sim que pode ter sido um elemento a mais que contribuiu para essa projeção”, diz.
PAÍS – Em 2013, Zudizilla lançou a mixtape “Luz”, que integrou lista dos quarenta melhores discos do País. Em 2015, com dezoito faixas, o disco “Faça a coisa certa”, com influências do diretor de cinema Spike Lee, e o artista visual Jean-Michel Basquiat. O disco mais recente, “Zulu, Vol. 1: De
Onde Eu Possa Alcançar o Céu Sem Precisar Deixar o Chão”, tem doze faixas e pode ser ouvido online. Manoval observa: “Zudizilla esteve em espaços na TV Cultura, Show Livre, Laboratório Fantasma, e tem sido mencionado por artistas consagrados do Rap nacional. É difícil precisar a exata dimensão, ainda mais nesse período pandêmico. Mas, vários fatores nos levam a crer que está num caminho muito interessante, em termos de projeção nacional”.
CENA LOCAL – As ferramentas da tecnologia foram um suporte para a divulgação do Rap de Zudizilla. “Pelotas sempre teve excelentes grupos e artistas, em todos os períodos históricos do Rap local. Penso, por exemplo que, lá no início, com o grupo Calibre 12, se tivéssemos os instrumentos para fazer chegar de ponta a ponta do Brasil que se tem hoje, este e outros artistas teriam tido outra dimensão, no aspecto profissional, porque no simbólico, independente do alcance, sempre foram excelentes. Então, considero que investir nisso, em streamings e redes sociais é parte fundamental do trabalho. Se tu tens trezentos seguidores no Instagram, terás um determinado resultado, para vender um boné ou uma camiseta do grupo. Se tens três mil, a perspectiva é bem melhor, então é preciso estar forte e ativo nas redes. Mas penso que conseguir circular é também fundamental, conseguir ir além da nossa região. Quando falo em não desanimar, é no sentido de que, se não temos um suporte de produtor, selo e afins, é necessário seguir em frente, pois podemos dominar todas as etapas para um trabalho qualificado”, aconselha Manoval.
ATLÂNTICO Filmes contou com a equipe: Alexandre Mattos Meireles (direção e imagens); edição com Alexandre Meireles e Renata Wotter; som direto e imagens do Davi Batuka; Guile Farias (design). Agradecimentos: Duda Keiber; Otroporto; Guido CNR; DJ Micha CNR; Pok Sombra; Jair Brown Correa; DJ KL Jay.