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domingo, 24 de novembro de 2024

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EDUCAÇÃO : Escola de Canguçu é referência no País

19 abril
08:52 2016

A experiência “Multiplicando saberes e pensamentos”, que iniciou em Canguçu já chegou a escolas do Maranhão

Por Carlos Cogoy

Famílias de agricultores e comunidade quilombola, residentes no 4º distrito de Canguçu, localidade de Rincão dos Marques, tornaram-se protagonistas de ensinamentos ministrados na Escola Municipal Gonçalves Dias. Há quase dois anos, através do projeto “Multiplicando saberes e pensamentos”, moradores e comunidade escolar, passaram a interagir em aspectos como a “interdisciplinaridade e construção da memória”. Para a formação pedagógica diferenciada aos professores, encontros foram viabilizados através da parceria entre a Secretaria Municipal de Educação e a empresa Safra Remix. Como objetivo, informa a secretária de educação Ledeci Coutinho, abordagens acerca da “Teoria dos campos conceituais”. Além disso, a escola recebeu maquinário que agiliza a reprodução de cópias. A teoria e o instrumento de trabalho, geraram a criação do jornal “A Toca da Onça”.

Projeto inovador na escola situada no distrito Rincão dos Marques

Projeto inovador na escola situada no distrito Rincão dos Marques

ILHA – Comunidade e escola, durante décadas, permaneceram distantes. A professora Berenice Machado, integrante da comunidade quilombola de Passo do Lourenço, e ministrante das disciplinas de artes e língua portuguesa, comenta sobre a falta de interação: “Era como se não fizéssemos parte do mesmo espaço. A conexão entre os moradores da região e a instituição de ensino ocorria apenas por meio dos filhos de agricultores em idade escolar. Cessado esse período, a escola voltava a ser uma ilha fechada à riqueza imaterial de saberes daquela localidade”.

Iniciativa foi levada à Fundação Palmares pela secretária Ledeci Coutinho

Iniciativa foi levada à Fundação Palmares pela secretária Ledeci Coutinho

JORNAL “A Toca da Onça” levou os alunos a conhecer e divulgar a comunidade. Conforme a diretora Paula Jacondino: “Eu tinha o sonho de que a escola se transformasse num lugar onde os alunos gostassem de vir, que fôssemos além da produção de textos e das fórmulas matemáticas. E hoje percebemos que isso realmente aconteceu”. Já a educadora Liziane Aquino, professora de língua portuguesa, observa: “Percebemos na prática a função social da escrita. Tu não escreves para que o texto morra na pasta do professor ou retorne simplesmente riscado. Escreves para ser lido. E o nosso texto, que estava na sala de aula, de repente chegou à comunidade. De repente chegou a Brasília. Daqui a pouco ganhará o mundo, porque o céu é o limite”. A secretária Ledeci acrescenta que os relatos dos quilombolas aos alunos, podem contribuir para aulas sobre a história da África.

PRÁTICA – “A partir da formação pedagógica nas oficinas de escrita criativa e leitura com compreensão, os saberes, as aprendizagens e os pensamentos tomam forma. Construída a partir de eixos temáticos, cada edição do jornal destaca um tema específico. A publicação vai além da linguagem escrita, agrupando a maior diversidade possível de áreas do conhecimento. Reportagens, fotos, charges, crônicas, poemas e gráficos dividem espaço com dados sobre educação ambiental e estatística, mostrando que a matemática pode ir muito além das fórmulas, e se conectar às vivências de cada estudante. Houve edição na qual os alunos apresentaram gráfico evidenciando a redução no índice de reprovação, em especial no sexto ano. As matérias de cada edição são construídas de forma coletiva. De câmera e gravador em punho, pequenos repórteres percorrem comunidade em busca de informações. Sem perceber, a cada construção textual, os jovens estão construindo também a própria história e a memória daquela comunidade”, diz a única secretária de educação negra no Estado.

Secretário do MEC Paulo Gabriel Nacif foi entrevistado pela equipe do jornal escolar

Secretário do MEC Paulo Gabriel Nacif foi entrevistado pela equipe do jornal escolar

BRASÍLIA – Ano passado, a escola recebeu a visita de Paulo Gabriel Nacif, secretário de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) do Ministério da Educação (MEC).  Conforme Ledeci Coutinho, ele deslocou-se de Brasília especificamente para conhecer o projeto na escola Gonçalves Dias. Ele salientou que estava diante de uma “comunidade educadora”, e a experiência poderia ser aplicada noutras regiões do País. Na ocasião, o representante do MEC foi entrevistado pelas alunas Caroline e Larissa, e sua presença foi divulgada em edição do jornal escolar. No decorrer de 2015, também as escolas Marechal Floriano e Castelo Branco, passaram a desenvolver o projeto. Neste ano, escolas do Maranhão também começaram o trabalho.

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