EDUCAÇÃO : Matemática para alunos com paralisia
Doutorando na PUC/RS, o professor Dilson Ribeiro leciona no Pelotense, e pesquisa sobre o ensino para alunos com paralisia cerebral
Por Carlos Cogoy
Em cinco anos, conforme levantamento no banco de dissertações e teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), do Ministério da Educação, não foi encontrada pesquisa com “voz aos paralisados cerebrais”. Observação do professor Dilson Ribeiro que, desde 2000, leciona matemática no Colégio Municipal Pelotense. Ele começou a investigar a temática ano passado, e neste ano iniciou o doutorado na PUC/RS. Nesta semana, desde segunda-feira, está na Espanha, onde apresentará estudo. Em Madri, participando do “8º Congreso Iberoamericano de Educación Matemática” (CIBEM), Dilson abordará sobre “o quanto alunos paralisados cerebrais, podem ter capacidade intelectual igual aos demais”.
EXPERIÊNCIA com alunos portadores de paralisa cerebral, foi o que desencadeou a pesquisa de Dilson. Ele explica: “A pesquisa surgiu de uma inquietaçao que tive quando houve a oportunidade de trabalhar com alunos portadores de paralisa cerebral (PC). Esses alunos, mesmo estando numa sala de aula regular do Pelotense, em muitas ocasiões eram confundidos com pessoas de baixo intelecto, ou vítimas do sentimento de pena que qualquer pessoa pode demonstrar, mesmo que involuntariamente. Ora, isso contribui para a segregação desses alunos na sociedade. Minha ideia inicial foi desenvolver um estudo por minha conta, sobre o fato do aluno portador de PC não ser considerado aluno com problema de aprendizado. O objetivo é defender a ideia de que eles têm problema motor, e cabe ao professor encontrar o caminho para que suas práticas de ensino contemplem todos os alunos da turma, inclusive os ‘PC’. Essa busca por peceber as limitações desses alunos, me fez perceber que cabe a nós, professores, entendermos a capacidade de cada aluno, sem deixar de oferecer um ensino sólido que vá ter significação na vida de todos. Assim, a ideia original que mostra o quanto alunos paralisados cerebrais podem ter capacidade intelectual, igual aos outros, serviu de base para o texto que apresento em Madri. Esse argumento está fundamentando a construção da tese de doutorado que busca dar voz aos paralisados cerebrais, os quais, juntamente com as leituras que servirão de fundamentação teórica, responderão a pergunta de pesquisa que deseja saber: O que nós, professores de matemática, fizemos com eles durante sua educação básica? Subestimamos? Ignoramos? Superprotegemos?”. Na PUC/RS, Dilson está sendo orientado pela professora Rosana Maria Gessinger.
Mudança é essencial
O professor Dilson Ribeiro realizou o mestrado na Faculdade de Educação (FaE/UFPel). Em 2013, ele defendeu a dissertação “Inovação e resistência: uma análise do ensino de matemática em uma escola pública”. Sob orientação do prof. dr. Jarbas Vieira, o estudo mostrou o quanto os docentes de matemática são resistentes a mudanças.
Dilson menciona: “Com prática engessada, ano após ano, o professor de matemática se acomoda. Entre os fatores que contribuem para essa resistência, a falta de apoio dos governantes, bem como a infraestrutura na educação, o que abrange desde os meios físicos até oportunidades para aperfeiçoamento. Tudo isso, culminando com os baixos salários. No entanto, possivelmente, mesmo ganhando além do justo, alguns professores talvez ainda continuariam acomodados”.
Orgulho de ser “Gato Pelado”
Natural de Santa Vitória do Palmar, Dilson estudou na Escola Municipal Marechal Castelo Branco, e no Colégio Estadual Santa Vitória do Palmar. Ele recorda da alfabetizadora Tereza Enedir, que o marcou na formação e despertou para a “beleza em ser professor”. Aos onze anos, na então sexta série, Dilson foi reprovado em matemática. A experiência seria a base para cursar a graduação. Desde então, especialização na FURG (2001/02), aperfeiçoamento em pedagogia e formação social pela FaE/UFPel (2011). Na trajetória destaca o exemplo da professora Ilsa Auch. “Sempre trabalhei sessenta horas, atendendo no mínimo dez turmas, dedicando ao estudo as noites de fim de semana e qualquer dia livre”, diz.
PELOTENSE – Dilson também já lecionou nas escolas Antonio Joaquim Dias, João José de Abreu, Cassiano do Nascimento, Sylvia Mello e Joaquim Duval. Sobre o “Gato Pelado” afirma: “Lecionar no Pelotense é uma honra. Quando entrei, o então diretor, professor Adinho, me deu um botom dizendo: Pelotense minha paixão. Outros diretores passaram, como a Marita e Maria Helena. E o atual, é o Arthur Katrein. Sempre fui feliz no Pelotense, porque entendo que somos uma família. Numa familia existem brigas e opiniões divergentes. Mas o propósito de todos é o bem da escola. Quando entrei, ouvi: ‘O Pelotense é uma escola pública que deu certo’. E hoje acrescento que isso é possível, porque todos amam estar no Pelotense”.
Suporte eletrônico aos alunos. Para a geração que está navegando “online”, a matemática está acessível no Facebook. O professor Dilson criou o espaço “Matematicaextracmp”, que aborda diferentes questões.
PROJETOS – O autor acrescenta: “No primeiro trimestre trabalhamos a história da matemática, direcionada a mulher matemática e sua ausência numa sociedade machista. A atividade foi elaborada para o projeto ‘Sábado em Foco’, que mobiliza a escola. Também desenvolvi, em parceria com alunos do curso de graduaçao em licenciatura em computaçao do IFSul, coordenado pela professora Claudia Caldeira, uma atividade em que os alunos do primeiro ano do noturno, tiveram a matemática com auxílio do ‘GeoGebra’, permitindo até que a prova fosse feita com o auxílio do computador. Com o uso dos ‘smartphones’, aprendizado de funções”.
Dica de estudo para o semestre
A matemática é considerada como “vilã” por muitos alunos, que penam para obter aprovação. O professor Dilso Ribeiro, observa que muitos alunos não se comprometem com o estudo. E salienta que o estudante deve ir além do que o professor oferece. “Atualmente com a tecnologia a favor do aluno, acredito que o raciocínio lógico possa ser muito mais desenvolvido. O que acontece é que ainda prevalece o sistema mecanicista, do exemplo e exercício, desconsiderando o entorno”, explica.
ESTUDAR – Dilson recomenda: “O segundo semestre vai começar, e está na hora de muitos prestarem mais atenção aos estudos. Outros, no entanto, deverão prosseguir com o esforço demonstrado desde o início do ano. A dica é sempre acreditar no que se faz, ser capaz de entender o quanto poderia ter sido feito, mais ou melhor, e compreender que a escola é uma prepração para os desafios da vida. Todos poderemos ter interpretações e facilidades diferentes. No entanto, todos nós devemos ter a obrigação de entender o quanto somos capazes de vencer nossos desafios. Como método de estudo, sempre digo aos meus alunos: dedique umas quatro horas semanais, durante uns três dias por semana, para revisar, exercitar e até mesmo para navegar na internet a fim de saber mais um pouco daquela matemática dada em aula. Já é um bom começo. Em relação aos professores, creio que todos são capazes de fazer o diferente. Acredito que muitos já pensam igual a mim, quando entendo que não basta aquilo que a faculdade nos ofertou, há de se ter a necessidade de agregar isso a nossa prática, bem como ao que acho mais importante, nossa capacidade de tentar fazer o novo. Sem medo do fracasso. Se fracassamos uma vez, tentemos de novo, o que não podemos é fracassar sempre, ensinando de um jeito que alguém, algum dia, nos disse que era certo”.