Diário da Manhã

quinta, 26 de dezembro de 2024

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EDUCAÇÃO : Revertendo o insucesso na aprendizagem

31 março
09:52 2015

Repetência, alunos cuja alfabetização não evolui, precariedade na leitura e escrita. A causa pode ser psicomotora

Por Carlos Cogoy

Professor Antonio Ricardo Correa Candiota divulga estudo

Professor Antonio Ricardo Correa Candiota divulga estudo

Em três municípios da região, entre 2013 e ano passado, 643 alunos foram testados. Cerca de 40%, 258, foram considerados “Dispráxicos”. Trata-se de crianças – entre 4 e 6 anos -, com leves dificuldades de aprendizagem, mas apresentando um ou mais sinais desviantes. Do grupo, 83% apresentaram elevada defasagem na “Estruturação espaço temporal”. Com isso, percalços nas noções de simultaneidade, ordem, sequência, duração de intervalos e ritmo. Tal déficit compromete a alfabetização. O estudo foi realizado pelo professor e pesquisador Antônio Ricardo Correa Candiota, que acrescenta: “A defasagem nesse fator influencia diretamente no processo de alfabetização. O déficit compromete a criança na sua locomoção espacial, bem como no domínio dos gestos. Assim, dificuldades na forma dos gestos, bem como na utilização de folhas e cadernos. Ainda, profunda desordenação no futuro, por exemplo ao utilizar as linhas nos cadernos.

Em relação ao ritmo, pode afetar através da rapidez ou lentidão. Já com a dificuldade de memorização auditiva, não consegue absorver o que lhe é narrado. Sem diferenciar sons, dificuldade também no reconhecimento dos sons das palavras. A desordem no caderno, por exemplo, consequência da dificuldade de ordem e sequência, observável na distância entre as palavras e o entrave à sequência no que lê e escreve. Nos outros fatores testados, noção do corpo, tonicidade, equilíbrio, coordenações global e fina. Outra que mais preocupa diz respeito à lateralidade. Muitas das crianças avaliadas apresentaram lateralidade cruzada, ou seja, dominâncias laterais em lados diferentes. Casos como a dominância manual da mão ou lado direito, e dominância visual do lado ou olho  esquerdo. É o que autores denominam ‘Assimetria funcional’, afetando o processo de alfabetização, autonomia da leitura, escrita e cálculo, ordenação da informação codificada, confundindo entre soma e subtração ou entre multiplicação e divisão. A escrita e números são invertidos e, em casos graves, como se estivessem refletidos num espelho”.

JORNADA – Candiota no 1º Congresso de Negros e Negras de Pelotas, explanou sobre o programa que oferece, orientando educadores para detectar as dificuldades, identificá-las, bem como as dicas para instigar o desenvolvimento psicomotor. Em 2014, ele ministrou edições – Pelotas e Rio Grande – da Jornada Pedagógica de Educação Psicomotora. Neste ano acontecerá sequência no segundo semestre. Ele menciona: “O Programa aponta o déficit psicomotor, que entrava as aprendizagens e o processo de alfabetização, que é o início de tudo. Mas as principais causas dos entraves, são a falta de trabalhos específicos, ou seja trabalhos psicomotores, por parte dos profissionais da educação infantil, até porque os procedimentos didáticos-pedagógicos privilegiam muito mais o cognitivo, e muito menos o psicomotor, quando deveria ser ao contrário. Por outro lado os cursos de formação dos profissionais que trabalham com crianças na educação infantil, como a pedagogia, em geral não enfatizam o desenvolvimento psicomotor nos currículos. E o pior é que temos auxiliares, trabalhando com os professores, que tem muito pouco conhecimento.

Então, cuidadores sem qualquer habilitação para promover trabalhos específicos”. Candiota ressalta que é procurado por muitos professores que, diante da constatação das dificuldades dos alunos, procuram saber como proceder. Além disso, também secretarias de educação, tem desenvolvido parcerias para que ele apresente e oriente sobre o programa de educação psicomotora”. Desde os anos oitenta ministrando aulas, Candiota é egresso da educação física, com especialização em ginástica escolar. Atualmente, mestrando em desenvolvimento psicomotor. Atuou em escolas particulares e das redes municipal e estadual. Docente em cursos superiores semi-presencial, trabalha com graduação e pós-graduação em áreas como pedagogia, psicopedagogia e neuropsicopedagogia. No Facebook coordena página “Desenvolvimento psicomotor na escola”. Contatos nos fones:  8442.1008 (Oi); 9142.9539 (Claro e whatsApp). E-mail: [email protected]

Candiota tem ministrado jornadas pedagógicas de educação psicomotora

Candiota tem ministrado jornadas pedagógicas de educação psicomotora

INSUCESSO – Identificar crianças que não possuem competências psicomotoras necessárias à aprendizagem. Identificar e analisar crianças com dificuldades psicomotoras, observando os componentes do comportamento psicomotor nas crianças testadas, identificando o grau de maturidade motora. Sugerir, a partir da identificação das dificuldades psicomotoras, a aplicação de tarefas que visem minimizar tais dificuldades, alavancando o sucesso na aprendizagem.

Etapas do Programa de Testagem do Perfil Psicomotor e suas Interferências nas Aprendizagens. Candiota observa: “Alfabetização deficiente leva, com certeza, aos insucessos na vida escolar. Hoje não temos evasão, em razão das obrigatoriedades jurídicas, que pressionam os pais a manterem as crianças estudando, ou na escola, mas mesmo assim, os terceiro e quarto anos estão ficando lotados. As crianças estão parando nestes anos, por conta das alfabetizações deficientes. Outro aspecto é que os processos são muito arcaicos, salvo a boa performance de alguns abnegados e responsáveis professores, que sempre buscam subsídios para melhoras. Sinto isto pois tenho alguns alunos que me procuram, falam comigo, da graduação e mesmo da pós-graduação. Eles necessitam de informações e subsídios. Mas estes são pequena parcela de interessados. Infelizmente, a sociedade é que logo estará sentindo o resultado dessa grave questão”.

SUPERAÇÃO para o professor Candiota: “Atualmente temos algumas coordenações pedagógicas que são meramente figurativas. Mas quem optou pelo magistério já estava ciente sobre as questões salariais. O que não justifica o descaso. Além disso, vejo negligência, aspectos físicos e materiais, com a educação infantil. As escolas de educação infantil, são verdadeiros depósitos de crianças. A questão é complexa e somente haverá superação com a mudança de grades curriculares. Em especial, na educação física e pedagogia. Afinal, professor até identifica os problemas, só não sabe dar o nome e como atuar”.

 

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