EMPATIA, REFERÊNCIA, INICIATIVAS E OPORTUNIDADES : O ponto de vista do atleta e estudante Marcos Oliveira
Por: Henrique König
“A importância tem que ser todos os dias”, avisa Marcos Oliveira, de 22 anos, estudante de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas, natural da cidade de Camaquã e jogador do Antiqua Rugby, projeto vinculado com a UFPel. Sobre a temática do negro no esporte, Marcos destrincha seu ponto de vista.
Segundo o atleta de rugby, a luta constante é para gerar um mundo de mais empatia, de mais visibilidade, de mais referências para os negros na sociedade, e, para além das palavras, um mundo de mais iniciativas e oportunidades.
Marcos foi um dos convidados para uma roda de conversa da ESEF em 2019, juntamente com Camila Freda, irmã do atacante Taison, pelotense que é destaque no esporte internacional, atuando na Ucrânia e por vezes vestindo a camisa da seleção brasileira de futebol. Na oportunidade daquela fala, Marcos destaca poder compartilhar as experiências vividas dentro de campo.
O jovem relata que o rugby era uma modalidade de elite nas suas origens, mas isso vem mudando. “A última campeã mundial foi a África do Sul.
Quando ela ganhou lá em 1995, apenas um atleta da equipe era negro. Nessa última conquista, o capitão que levantou a taça era negro”, destaca a mudança. “É muito importante essa representatividade.”
Segundo Marcos, o Antiqua apresenta maior representação negra na equipe, principalmente em relação a adversários da serra gaúcha. Ou seja, é uma responsabilidade de renovar a equipe com oportunidade e representatividade. “Existe o projeto Vem Ser Pelotas, que busca potenciais atletas em escolas públicas. O Antiqua possui a equipe juvenil através dessas visitas às escolas. Esse projeto oportuniza o jovem e cria referências, é preciso criar um ciclo. Tem que haver a continuidade. Não adianta as pessoas falarem que é possível, que você consegue. Os caminhos precisam ser trilhados.” Marcos destaca o professor Eraldo Pinheiro, da UFPel, único professor negro na ESEF. “Ele aprimorou o Antiqua com a Universidade. Essas parcerias são necessárias”.
Os jovens podem ser inspirados pelos grandes atletas negros, como Lewis Hamilton, maior campeão de Fórmula 1, e LeBron James, maior nome do basquete atual, mas também se espelharem nas pessoas da região. Professores, treinadores, atletas, jornalistas locais que deem representatividade.
“O mundo hoje é voltado para as mídias e redes sociais. Manifestações são importantes, mas tudo tem que ser a longo prazo. Falta mais empatia no futebol, esporte mais visto no mundo, por exemplo. Gerar o poder de luta e resistência nas pessoas”, afirma Marcos Oliveira.
“E as lutam precisam fazer sentido, saber pelo que está se lutando. Precisamos ler e evitar sermos manipulados. Uma pergunta que fica: Depois que você passa o seu feed na rede social, você continua se importando com a causa?”, questiona. “Viver sem ler é perigoso, te obriga a acreditar no que dizem”, cita a personagem argentina Mafalda.
Na luta pela maior empatia das pessoas, no incentivo aos negros serem cada vez mais referências para a criação de um ciclo positivo, através de iniciativas e oportunidades, Marcos deixa o seu recado final: “temos que lutar sempre. Buscarmos os espaços dentro da lei, como nas eleições. Agindo conforme as leis, já tentam nos criminalizar, agindo fora é pior”, denuncia o racismo institucional.