ENTREVISTA : Julinho diz “Vamos jogar de igual para igual”
Julinho Camargo aponta Londrina como o adversário mais forte da chave do Pelotas no Campeonato Brasileiro da Série D
Com menos de dois meses de trabalho no Pelotas, o técnico Julinho Camargo acredita que já conseguiu dar uma identidade ao time, “que sabe o que faz dentro de campo”. As atuações diante de Penapolense e Boavista, nas duas primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro da Série D – empates por 1 a 1 e zero a zero, respectivamente – foram satisfatórias. Mas agora é preciso mais. É necessário vencer o Londrina, neste domingo, na Boca do Lobo.
“Vamos enfrentar a equipe mais forte da chave”, diz o treinador. Contra o atual campeão paranaense, Julinho Camargo espera que o Pelotas possa jogar de igual para igual e, com o apoio da torcida, buscar a vitória – resultado que deixará o Lobão na liderança do Grupo A8. Ao mesmo tempo em que pede a presença dos torcedores, o treinador alerta que sua equipe “é simples e com defeitos”.
Júlio César Valduga Camargo, 43 anos, natural de Porto Alegre, já tem 25 anos na carreira de treinador. Durante 15 anos trabalhou nas categorias de base da Dupla Gre-Nal, formando jogadores, ganhando títulos e aprimorando seu gosto pela parte tática. Nesta entrevista ao DIÁRIO DA MANHÃ, o treinador fala do estágio deste trabalho no Pelotas, aborda as dificuldades enfrentadas na Boca do Lobo e aponta a tendência de evolução tática a partir da Copa do Mundo de 2014.
DIÁRIO DA MANHÃ – Depois de três amistosos e dois jogos pelo Brasileiro da Série D, como você define o estágio do Pelotas em termos percentuais?
Julinho – Não em relação aos jogos, mas em relação ao processo que a gente viveu, acho que a gente está num caminho de chegar numa melhor condição. Equipes como Londrina, Penapolense e Metropolitano, principalmente essas três, que vivem uma sequência do estadual com o mesmo treinador e tem investimento duas, três, quatro vezes maior do que o nosso, estão num processo mais adiantado. Eu acho que nós e o Boavista são equipes mais parecida. Em alguns momentos em minha carreira, eu tive a oportunidade de fazer um processo de ano inteiro – me lembro do Caxias em 2010 -, quando é muito vantajoso dar sequência ao teu trabalho. Aqui no Pelotas, a gente montou uma equipe nova e pegamos o clube num momento de descenso.
DM – Qual seria a principal preocupação deste momento: acertar as finalizações?
Julinho – Acho que não. É claro que as pessoas batem nesta tecla, mas cada jogo é um jogo. Agora domingo, a gente vai enfrentar uma equipe que é a campeã paranaense. Isso não é brincadeira. A minha felicidade é que estamos enfrentando de igual para igual qualquer equipe. Não é fácil fazer isso num momento em que o clube está se refazendo. O grande ponto de se trabalhar para domingo é a gente fazer o enfrentamento de igual para igual. Acho que todas as outras situações são importantes, são plausíveis, como essa que tu me falou (melhorar as finalizações). Mas veja bem, poucas pessoas tiveram lá no Rio para ver o jogo e para poder comentar de verdade. Nas quatro, cinco situações de gols que a gente teve – uma a bola parou no poste, duas rasparam a trave e as outras o goleiro pegou. Em nenhum momento, o goleiro deles nos deu o canto, nos entregou a possibilidade do gol.
DM – Antes do campeonato, você disse que o Pelotas teria uma equipe organizada. Isso está ocorrendo na prática?
Julinho – Acho que sim. É uma equipe que sabe o que faz, sabe como se posiciona, sabe o momento de reter a bola, como tirar a bola do adversário. A gente sabe que tem alguns defeitos, que a gente trabalha muito para minimizá-los. É uma equipe que trabalha muito forte. Para vocês terem uma ideia do nosso cotidiano aqui, a gente chega sete, oito horas da manhã e sai sete da noite. As pessoas do clube são muito boas, desde o funcionário mais simples ao mais importante… A gente bate na limitação técnica nossa, de processos aqui no clube que falta dinheiro para uma coisa ou para outra; jogar fora de casa. Acho que se eu tivesse contado com a força da minha torcida completa, a gente teria batido a Penapolense. E sei o que vamos enfrentar neste domingo é bicho grande e eu preciso que nossa torcida venha ajudar, mesmo sabendo que nosso time é simples e nem é muito bonito de se ver. Mas que se entrega. Eu, como treinador, estou vivendo isso de me entregar pelo clube. Às vezes se tem dificuldade na hora do pagamento de salário, mas em momento algum eu vou enfraquecer, porque confio nas pessoas, até que provem o contrário.
DM – A forma de jogar, com dois volantes e três meias, é uma convicção sua ou uma escolha em função do que tem disponível no elenco?
Julinho – É uma concepção em cima do que eu tenho. Eu gostaria de ter mais dois atacantes de velocidade, mas a gente teve dificuldade em termos de investimento.
DM – Como um estudioso da parte da tática, você viu algo novo na última Copa do Mundo.
Julinho – Vi, o que vejo há muito tempo. Eu tenho 25 anos de profissão e venho de um mundo tático que o futsal. Como garoto e adulto fui jogador de futsal e no campo eu joguei só até juniores. O meu agrado para me tornar treinador de futebol é porque eu via no futsal um mundo tático muito mais forte que o do campo. Tive treinadores como o Barata, o Ferrerinha, o Espanhol que me passaram muita leitura tática e eu acabei levando isso para o futebol de campo e ai, no campo, eu encontrei alguns treinadores nos meus 15 de anos de Dupla Gre-Nal que me deslumbraram. O Caprpegiani é um treinador com um poder de xadrez fantástico, tive o prazer também de trabalhar como auxiliar do Falcão. Vejo no sul do Brasil uma concepção muito mais tática. De São Paulo para cima é um futebol mais técnico, mas alegre, mais solto e menos tático. Acho que a Copa do Mundo reforçou essa concepção do entendimento tático individual, por posição e coletivo que se tem aqui, e eu sou fruto disso.
DM – Qual a tendência tática que fica desta Copa do Mundo?
Julinho – Eu vi na Copa do Mundo concepções que já são usuais, mas com um poder de entendimento coletivo melhor. A grande mensagem que a Alemanha nos deixou é que ter uma concepção tática forte não te tira o poder de qualidade individual. Esse é o desafio. Mas sempre falo que a gente às vezes passa por um clube e não tem tempo de colocar isso. Eu aqui no Pelotas não sei se vou chegar nesse nível, porque você precisa dois, três, quatro meses para colocar seu modo de pensar. Aqui a gente vai viver três, quatro meses e vai acabar a competição.