ESPIRITISMO : A prática do acolhimento e amorosidade
Hoje às 20h, Marcelo Gil palestrará sobre “Preconceitos e reencarnação”. Segunda-feira o tema foi “Psicofobia”
Por Carlos Cogoy
O projeto “Luz para todos” do Centro Espírita Jesus – Praça José Bonifácio 52 -, terá sequência nesta quarta-feira. A terceira conferência será com o pesquisador e escritor Marcelo Gil. Ele estará explanando sobre “Preconceitos e reencarnação”. Está programada apresentação artística da Comunidade Terapêutica Renascer. Na segunda palestra do projeto, cujo temática deste ano abrange os “Preconceitos”, houve a participação do psiquiatra Sérgio Lopes. O Centro Espírita Jesus ficou lotado segunda à noite, e Lopes abordou sobre a “Psicofobia”. Trata-se do preconceito aos portadores de transtornos como a depressão, esquizofrenia e síndrome do pânico. Ele mencionou que, entre os maiores receios, está o de não sermos aceitos.
Como contraponto à dor da rejeição, sugeriu o acolhimento e amorosidade. O representante da Associação Médico Espírita (AME/Pelotas), ressaltou: “O que muitas vezes impede alguém de pedir ajuda, é o medo de ser criticado. Sem acolhida, teme não ser compreendido. Desde criança aprendemos a esconder nossas fraquezas. E somente nos mostramos, quando o ambiente é amoroso”. O seminário “Luz para Todos” terá atividades até dia 5 deste mês. A entrada é franca, mas organizadores sugerem a doação de quilo de alimento não perecível. Apoiadores: Federação Espírita do Rio Grande do Sul (FERGS); Liga Espírita Pelotense (LEP); programa Terceiro Milênio; Associação Médico Espírita (AME/Pel.); 1ª Promotoria Criminal de Pelotas; DIÁRIO DA MANHÃ; rádio Concórdia; TVC; Comunidade Terapêutica Renascer; Comunidade Terapêutica Santa Fé. Na internet: centroespiritajesus.org
ENFERMIDADES PSÍQUICAS – De perto ninguém é normal, diz a letra de Caetano Veloso. E o verso bate com a realidade. Conforme Sérgio Lopes: “Não existe ninguém 100% normal, tampouco 100% perturbado. Os transtornos mentais não se constituem em atribulações qualitativas. É mais a quantidade do que a qualidade. Por exemplo, a tristeza ou medo excessivos. No âmbito da medicina, ao contrário de outras especialidades, o maior preconceito é com os doentes mentais. Na rua, ao avistar cardiologista, alguém comenta, aponta e acena. Em relação ao pediatra do filho também. Porém, se falar que é o ‘seu psiquiatra’, os outros poderão pensar que piorou. O preconceito é gerado porque ninguém gosta de se sentir alterado mentalmente.
Como ofensa, é comum a discriminação: ‘Ele é louco, não bate bem da cachola’. O aspecto mental é usado para discriminar alguém. Mas, sob o ponto de vista psiquiátrico, sabemos que, assim como não se escolhe a hipertensão, diabete ou gastrite, ninguém é depressivo porque quer, ou esquizofrênico por opção. O transtorno do pânico não tem escolha. Assim como o diabete evidencia alteração, com o excesso de açúcar no sangue, a enfermidade psíquica pode sinalizar para alteração nos neurotransmissores, sendo necessária ajuda especializada.
Mas a psicofobia é um dos mais graves preconceitos. Quem já sentiu depressão e ansiedade, sabe como é o sofrimento. No entanto, até saber o diagnóstico, geralmente são consultados diferentes especialistas, e feitos exames de sangue, eletro e ressonância. Como nada aparece, o psiquiatra é o último da fila. E muitas vezes a discriminação também acontece entre os profissionais do campo da saúde. Se o clínico, cardiologista e pneumologista, nada encontraram, então surge a indicação: psiquiatra. E, para piorar, soando quase como condenação, a dica para o psiquiatra pode estar acompanhada da sugestão para também ir ao centro espírita”, brincou Lopes.
SOFRIMENTO – No mundo são quarenta milhões sofrendo de transtornos mentais. No Brasil, 1% padece com a esquizofrenia. Em torno de 3% da população, sofrem com a síndrome do pânico. Já o transtorno emocional mais frequente é a depressão. No País, atinge quase 15% da população. A depressão, conforme Lopes, muitas vezes precede enfermidades físicas como o câncer. E geralmente não há uma causa ou motivo aparente para a depressão. Para agravar, o portador do transtorno ainda ouve que, ao redor, há casos piores com famílias passando mais dificuldades. Tal comentário aguça o sentimento de culpa daquele que já está enfermo. Como a causa pode ser fator genético, então não consegue reagir sozinho.
SUICÍDIO – O Rio Grande do Sul tem a maior taxa de suicídios do País. E a região de Pelotas, a maior do Estado. “Quando alguém se mata, é porque está com algum tipo de transtorno psiquiátrico. Nove em cada dez casos. Os homens se suicidam quatro vezes mais do que as mulheres. Mas elas tentam três vezes mais do que os homens. Como a mulher, em geral, recorre a medicamentos, tem mais chance de ser salva. Quando é comentado que alguém se matou, por vezes surgem comentários que era camarada e contava piadas, o que desperta surpresa. Mas isto decorre do sofrimento que estava guardado. O que podemos dizer é que ninguém se suicida por estar feliz. É claro que também podem estar associados fatores espirituais”, disse Lopes.
ESPÍRITAS – A doutrina espírita ajuda a vencer o preconceito. Porém, disse Lopes, o trabalhador não está imune a oscilações. E exemplificou com senhora, palestrante espírita, que aos sessenta anos não se animava a sair da cama. Ela já frequentava o centro cinco vezes por semana, mas algo não estava bem. Então alguém disse para que fosse mais vezes. No entanto, ela permanecia com sintomas depressivos. Daí outro palpite é que deveria ter mais fé. “Ora, o espiritismo ensina a sermos compreensivos e tolerantes, mais severos conosco do que com os outros. Alguns transtornos emocionais são piores do que 40ºC de febre. O trabalhador espírita não está blindado e somos iguais aos outros. Mas, assim como a academia favorece a saúde física, a espiritualidade contribui para a saúde espiritual.
Porém, não sabemos o que o espírito traz de outras encarnações. Às vezes, alguém tem a fisionomia entristecida, mas é porque está na luta, esforçando-se para superar obstáculos. Então temos de ser solidários, incentivando, mostrando otimismo. Dificilmente alguém está bem e alegre o tempo todo. A casa espírita não pode ser ambiente que prometa a resolução dos problemas dos outros, acenando com emprego, dinheiro e moradia. Não se pode falar em cura, pois depende de aspecto médico e não temos como avaliar a extensão”, afirmou. Ele também comentou sobre o intelectual que, vaidoso pelo saber acumulado, poderá reencarnar com alguma deficiência para que exercite mais os sentimentos. E mencionou casos nos quais há a opção pela reencarnação numa experiência como a “Síndrome de Down”, cujo perfil demonstra amorosidade.