ESPIRITISMO : Fé raciocinada para conhecer, crer e sentir
Enquanto o tempo escorre, ainda é possível a reconciliação com o adversário. Dica de Edmilson Ferreira no projeto “Luz para todos”
Por Carlos Cogoy
Num final de tarde, com o sol sendo ofuscado pela força da lua, a noite se anunciava. Brisa soprava o ar, e esvoaçava os cabelos daquele homem que olhava o horizonte. Cabelos brancos e longos, estava refletindo. Com a pele maculada pelas vicissitudes da vida, avaliava os anos passados. Lembrava da mocidade, fase da pele macia e corpo viril. Atraía todas as mulheres, entregando-se ao sexo e também as drogas. Mas o tempo não perdoou, e agora ele questionava Deus. Respirava sereno, percebendo o fim da existência terrena. Sentindo-se só, refletia que o presente resultava de todas as ações, com o próximo e também consigo. Enfraquecido, pedia luz que mostrasse o caminho. Então surgiu uma bela mulher, pele sedosa, cabelos soprados pelo vento.
Ele surpreende-se e ela diz: “Vim para te ajudar, estive contigo em todos os momentos da tua vida”. O homem solitário duvida: “Como poderia mulher, se entreguei meu corpo para o sexo e o uso de drogas? Estou doente, solidão no coração, como veio?”. A desconhecida acrescenta: “Vim porque te amo. E como te amo!”. O homem reitera: “Como me amar num momento tão difícil?”. Enquanto perguntava, piorava seu abandono, e bichos já andavam entre os dedos dos seus pés. Ela respondeu: “Estou aqui, te amo. E a partir de agora serei a referência na tua vida”. O homem exaspera e indaga: “Como apagar o passado obscuro da minha vida, o que fiz? Quem é, qual teu nome? É meu último pedido”. Ela então menciona: “Te amo e sou aquela para ficar por todos os momentos da tua vida. Meu nome é… esperança”.
Abordagem de Edmilson Ferreira (Sociedade União e Instrução Espírita), na palestra “Preconceitos na visão espírita”. Sobre a história que encerrou sua explanação, acrescentou que “precisamos alimentar nosso coração, com a certeza que vale a pena”. Edmilson foi um dos palestrantes na sétima edição do projeto “Luz para todos”, realizado no Centro Espírita Jesus (CEJ) – Praça José Bonifácio 52.
SÓCRATES bem antes de Cristo, já recomendara “Conhece-te a ti mesmo”. Já no Evangelho de Mateus, capítulo 5, versículos 25 a 27 consta: “Reconcilia-te com teu adversário, enquanto ainda é tempo, e estão na mesma estrada. Com isso, ele não te entregue ao juiz, que te conduzirá ao ministro da justiça, que te levará à prisão, de onde só sairás após pagar o último centil”. Referências mencionadas por Edmilson, que acrescentou: “Quem é o adversário? O mais profundo e maior adversário, somos nós mesmos, a nossa consciência. Em relação a esse peso, podemos refletir sobre a diferença entre sozinho e solitário. O sozinho é aquele que não se atura, daí prefere o grupo. Estar consigo é pesado demais. Já o solitário, mesmo em grupo e amado por familiares, não consegue preencher o vácuo, o vazio no coração. Um drogado, sentindo-se só, preenche o vazio com a felicidade momentânea. Antes de ser taxado por conta do preconceito, ele mesmo se sente mal”.
CÉDULA de R$20,00 foi apresentada por Edmilson ao público. Ele perguntou o valor e todos responderam. Na sequência, amassou a cédula e novamente perguntou o valor. O público repetiu “R$20,00”. Após, colocou sob o pé e pisou firme. Novamente a pergunta e a resposta em coro: “R$20,00”. Sobre a experiência, o palestrante acrescentou: “É o que fazemos conosco, nos dobrando, nos maltratando e pisoteando. Mas, não perdemos o valor para Deus. Ele é nosso pai, sem distinção de raça, credo e religião. Fomos criados para nos amarmos, precisamos estar atentos ao que fazemos com a nossa vida. O valor é a importância do ato viver”.
FÉ RACIOCINADA é reflexão na visão espírita, que implica em etapas como: conhecimento, acreditar e sentir. Conforme Edmilson, no conhecimento buscamos os porquês, entendimento sobre a vida e a morte. Essa fase leva ao estado consciencial. No segundo estágio, o crer, despertar diante dos percalços. Assim, encontro com a religião. Mas, sofrendo, questionamentos a Deus. No terceiro, sentir, o objetivo é a presença de Deus, externando gratidão pela oportunidade de cada novo dia, aprendendo com a dor. “O processo é natural pois vivemos transição, ou seja, o somatório de vários experimentos. Então espíritos vindos para modificar, uns evoluídos moralmente, outros intelectualmente. Daí intelectualmente evoluídos, mas moralmente atrasadinhos. Ou intelectualmente acanhados, mas moralmente acima dos preconceitos. É a geração que pede perdão, diz ‘Te amo’, algo que mudou bastante em poucas décadas. A realidade da família é consequência dessa transição de espíritos. E devemos nos integrar à gurizada, os pais jogar futebol com os filhos, procurando saber sobre os ‘games’ que jogam no computador. Com amor nos corações, nos conhecermos. É uma maravilha participar, e tiramos o preconceito dos nossos corações”.
BEM E MAL – Edmilson frisou que o vocabulário foi criado pelos homens. Assim, ele opta por não usar a palavra “mal”. Quando o “bem” não está presente, abordou o palestrante, ao invés do mal é porque houve afastamento do bem. Mas, com “jeito de cintura”, disse ele, podemos nos reaproximar. “O mal foi palavra criada pelos homens para mostrar força, diferenças e ideologias. Assim também o feio e o bonito, fomos nós que criamos. A parte física podemos cuidar na academia. Os mais preguiçosos já têm a possibilidade da cirurgia corretiva. Mas o difícil é cuidar do nosso eu”, comentou.
HOMOSSEXUALIDADE – Em 1975 nos EUA, e em 1985 no Brasil, a homossexualidade deixou de ser tratada como doença. Edmilson salientou que não se trata de questão moral, tampouco distúrbio emocional mas “estado do ser”. “Por conta das migrações nas reencarnações, num corpo masculino pode estar espírito com reminiscências femininas. Ou ao contrário, mulher com anseios masculinos. Na verdade é um ser como nós, que tem suas dores e fragilidades”, concluiu.
FELICIDADE – Em João capítulo 14, versículos 16 a 27, disse o palestrante, a menção ao “espírito consolador” que chegará e permanecerá eternamente. Assim, diante das ansiedades e inquietações, observou Edmilson, um “Consolador Prometido”. “Podemos entender nessa mensagem que a vida espiritual transcende a morte física, e fomos criados para a eternidade. Dos problemas da vida não podemos fugir, e o desencarne não nos livrará. O consolador prometido conclama à felicidade. Apresenta a felicidade relativa neste momento e, ainda um pouco afastada, a felicidade absoluta”.