ESPIRITISMO : O plantio é livre mas a colheita inevitável
Nesta sexta transcorre o 148º aniversário de falecimento de Allan Kardec, autor de obras fundamentais da doutrina espírita
Por Carlos Cogoy
Tudo é causa e consequência, ação e reação. A libertação do sofrimento e a construção da felicidade, é caminho individual. Assim, somos livres para plantar, mas somos obrigados a colher os frutos. Não se trata de castigo, mas processo natural. Afirmações do professor, pesquisador e escritor Marcelo Gil, que acrescenta: “Quando compreendemos isso e nos dispomos à realização da reforma íntima, estamos de fato no caminho da libertação. A nossa verdadeira natureza é espiritual, e o destino é a perfeição. Tomar consciência disso e empreender esforços, é uma necessidade urgente e atual. Daí a importância do espiritismo”. Nesta sexta, quando transcorre o 148º aniversário de morte do pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail que, para publicar obras como “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos Médiuns”, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, “O Céu e o Inferno”, “A Gênese” e “O que é o espiritismo”, adotou o pseudônimo Allan Kardec, professor Dr. Marcelo Gil (CAVG/IFSul), avalia sobre a atualidade da doutrina.
BRASIL à mercê de decisões políticas, que ameaçam direitos conquistados após décadas de reivindicações por justiça social. O pesquisador reflete: “Creio que tudo isso está acontecendo para que o brasileiro aprenda que política é coisa séria, que apresenta sérios e profundos impactos em nossas vidas e na nação. Há um jargão popular que afirma que ‘religião, futebol e política não se discute’. Os gregos, responsáveis pela sistematização dos fundamentos da política, como parte da filosofia, discutiam o tema exaustivamente. Ser cidadão em Atenas implicava em ter consciência política, e também a consciência sobre a importância da educação e das coisas públicas, que são de todos. No Brasil, além de se tratar da política como uma coisa suja, chata e nojenta, há um profundo descaso com a educação e com o patrimônio público. Confunde-se política com politicagem. Isso permite que pessoas inescrupulosas controlem o poder à revelia dos interesses do povo, que se mantém em grande parte alienado. As pessoas dizem reprovar a corrupção, mas votam em candidatos corruptos ou realizam movimentos de ocasião, pontuais, que acabam por permitir que grupos políticos que representam interesses de minorias inescrupulosas, oprimam e aprofundem a desigualdade e a miséria. Talvez tenhamos que perder muitas de nossas conquistas históricas, tão sofridas, para aprendermos a ver onde realmente estão os interesses públicos, da maioria, e a valorizarmos a importância da política”.
EVOLUÇÃO – A questão social está relacionada com a responsabilidade individual. Gil explica: “Ser brasileiro não é carma e representa uma oportunidade para evoluirmos individualmente e ajudarmos a evolução daqueles que nos acompanham em nossa trajetória evolutiva enquanto nação. Na minha opinião, não devemos aceitar que conquistas históricas que nos custaram sangue e lágrimas sejam sacrificadas pelos interesses de uma minoria que está sempre disposta a explorar, e enriquecer às custas do sacrifício alheio. Creio que nisso também devemos buscar inspiração em Jesus que, apesar de amar incondicionalmente, foi firme em suas posturas e nunca compactuou com a injustiça e com a exploração. Além disso, quem mais tem, mais deve contribuir, especialmente em momentos de crise, e o que vemos é pessoas que vivem cercadas de privilégios, e que não querem abrir mão dos mesmos, exigindo imensos sacrifícios do povo pobre e sofrido. Penso que devemos lutar pelo justo sempre, de forma pacífica, buscando também inspiração em Mahatma Gandhi, que provou ser possível mudar o mundo pela não-violência, mas com firmeza de princípios e atitudes. As ideias de Kardec estão vivas e é urgente a colocação em prática. Todos nós queremos a felicidade. Queremos viver num mundo melhor. Constantemente nos queixamos do mundo em que vivemos. Pois a proposta da doutrina espírita, apresentada ao mundo através de Allan Kardec, nos mostra de modo claro e simples como chegar lá, através da reforma que precisamos realizar em nós mesmos”.
MÍDIA tem sido decisiva nas mudanças no País. O pesquisador observa: “A mídia tem enormes responsabilidades de ordem intelectual e moral, sobretudo a grande mídia, que tem imenso alcance. Através da mídia, pessoas podem ser educadas ou manobradas. A mídia pode auxiliar em grande medida no processo de emancipação intelectual e moral das criaturas, mas também pode escravizar e até mesmo alienar. Aí caímos numa questão que, mais uma vez, mostra a necessidade de uma revolução moral. Se a mídia está sob o controle de pessoas inescrupulosas, que só pensam nos próprios interesses, ela servirá para manobrar as massas, através da manipulação da opinião pública. As pessoas que estão à frente disso precisam compreender e assimilar que elas, apesar do poder que têm, também serão compelidas a colher os frutos amargos de sua semeadura. A quem já tem consciência dessa verdade universal, cabe trabalhar e lutar para que tenhamos uma mídia norteada por valores comprometidos com a dignidade, com a emancipação do ser humano”.
Mediunidade, reencarnação, revolução moral e caridade
Ele está planejando o pós-doutorado. E a área será filosofia e história da educação. Como tema, informa o professor Marcelo Gil, a relação do “espiritismo com a maçonaria no campo educacional pelotense”. Na trajetória do pesquisador que reside em Pedro Osório, onde preside a Sociedade Espírita Fé, Esperança e Caridade, formação na então Escola Técnica (ETFPel), licenciatura em história, bacharelado em direito, mestrado em ciênciais sociais, e o doutorado em educação. A dissertação de mestrado “O movimento espírita pelotense e suas raízes socio-históricas e culturais”, foi publicada pela editora UNIFRAN. Já a tese de doutorado, intitulada “A educação das almas: o estudo sistematizado da doutrina espírita e a unificação do Movimento Espírita Brasileiro”, também será publicada em livro. Ao DM, o autor explana sobre alguns dos princípios da obra de Allan Kardec.
PRINCÍPIOS – Afirma Gil: “Os principais conceitos organizados por Kardec e que resumem a doutrina espírita estão contidos na introdução de ‘O Livro dos Espíritos’. São eles: a existência de Deus como inteligência suprema e causa primeira de todas as coisas; a existência do mundo espiritual e do mundo físico como integrantes da natureza, sendo que o primeiro é habitado pelos espíritos e o segundo pelos homens; a ideia de que os homens são espíritos reencarnados, que já
tiveram e que terão outras existências; a ideia de que reencarnamos para evoluir, até alcançarmos a perfeição; a existência da mediunidade como uma faculdade humana e natural que permite a comunicação inconsciente e consciente entre os espíritos e os homens e vice-versa; a ideia segunda a qual o evangelho possui o mais avançado e profundo código de ensinamentos morais já recebido pela humanidade, nos cabendo a sua colocação em prática para que possamos alcançar a felicidade individual e coletiva. Justamente em razão desse último preceito o espiritismo afirma que ‘fora da caridade não há salvação’, entendendo-se a caridade como o amor incondicional a Deus, a si mesmo e ao próximo, conforme ensinou Jesus”.
FILOSOFIA – O pesquisador conclui: “O espiritismo oferece respostas racionais para as três perguntas mais antigas da humanidade: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Mas as respostas oferecidas pelo espiritismo para essas questões não são apenas fruto do exercício filosófico. Elas possuem base científica, na medida em que encontram comprovação empírica. Assim, quando afirma que o homem é a reencarnação de um espírito eterno, que sobrevive à morte do corpo físico e que conserva a personalidade após ela, o espiritismo comprova que, é através do fenômeno mediúnico que demonstra esse postulado. Isso possui sérias conseqüências morais. Se sobrevivemos à morte e se reencarnamos para evoluir, o nosso objetivo é alcançar a perfeição. Sendo assim, precisamos nos empenhar para melhorar e, com isso, melhorar o mundo a nossa volta. Trata-se da prática incondicional do bem”.