Estudante da UFPel é semifinalista do concurso de canto lírico mais importante da América Latina
Estudante da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) está entre os selecionados para a semifinal do concurso de canto lírico que é considerado o mais importante da América Latina
A aluna do sexto semestre de Bacharelado em Canto Maria Clara Vieira, 22 anos, subirá ao palco da 21ª edição do certame em 26 de março, em São Paulo.
Serão 52 semifinalistas, escolhidos entre 131 inscritos. Para participar, Maria Clara enviou um vídeo cantando uma ária. Para a semifinal, irá apresentar duas obras que já fazem parte de seu repertório.
A professora de canto e orientadora da estudante, Magali Richter, destaca que a jovem soprano vem galgando espaço e destacando-se entre artistas de trajetórias consolidadas. A docente aponta a entrega e a dedicação da estudante como pontos fortes de sua caminhada. “Ela é focada, estudiosa, batalhadora e tem corrido para chegar aonde quer em sua profissão. Isso é muito importante para quem quer atingir um objetivo com esse nível”, elogia.
Do outro lado, o entusiasmo da aluna encontra eco no respaldo e ensinamentos da professora. “Ela está sempre junto, torce junto e dá o suporte emocional, além do de professora. É uma figura muito importante para nós”, pontua a jovem.
A rotina intensa de estudos intensificou-se com a preparação para o concurso. Diariamente, além das aulas, Maria Clara trabalha em diversos aspectos que envolvem o canto lírico – que vão desde a pronúncia das palavras, tradução e intepretação de cada frase, além da técnica vocal e preparação física para dar sustentação à performance.
Soprano coloratura – que alcança notas muito rápidas e muito agudas – a estudante se disse surpresa pela seleção no concurso e empolgada com a experiência. Afinal, poderá interagir com profissionais de larga trajetória. Além disso, o júri é composto por figuras de renome. “A banca é extremamente reconhecida no meio musical do Brasil e de outras partes do mundo. É um júri muito seleto”, explica a orientadora. Além das apresentações, o concurso terá ainda masterclasses e outros momentos de troca. “Aprender é o meu maior foco. Vou estar no meio de referências e isso vai ser muito bom. Espero sair com uma boa evolução”, ressalta Maria Clara.
Aliás, os nomes semelhantes levaram os colegas a homenageá-la com um trocadilho: é carinhosamente chamada de “Maria Cllaras”.
Trajetória em ascensão
Natural de Florianópolis, Maria Clara ingressou na UFPel em 2020 e vivenciou apenas uma semana de aulas presenciais antes do começo da pandemia. Saiu desse período desafiador motivada a estudar e vivenciar mais experiências. “Isso é reflexo de gostar muito do que eu faço. Do fundo do meu coração, tenho vontade de fazer”, disse.Foi um projeto social de flauta doce, na escola, que acendeu uma centelha de interesse pela música. Ela conta que apesar de gostar de soltar a voz, nunca pensou em ser cantora – parecia algo distante, que acontecia nos filmes. Depois de começar a participar do Coral do Instituto Federal de Santa Catarina, recebeu incentivo dos professores para se aperfeiçoar. A partir daí, começou a ter aulas com a soprano Carla Domingues, egressa da UFPel e que também representou a Universidade por duas vezes no concurso Maria Callas, sob a orientação da professora Magali. “Posso dizer que tive uma filha musical e agora tenho uma neta”, brinca a professora. “Construí uma base muito sólida de técnica vocal, com direcionamento e possibilidades de formação que está sendo continuada pela professora Magali”, conta Maria Clara.
Em sua caminhada como cantora lírica, a estudante já recebeu o destaque Revelação Juvenil no Concurso Internacional Zola Amaro, quando ganhou cinco aulas com a soprano gaúcha de carreira internacional Carla Maffioletti, que foi uma das principais sopranos da orquestra de André Rieu. Também vem sendo selecionada para grandes concursos e festivais pelo país, como o Festival de Música de Santa Catarina (Femusc), considerado o maior festival-escola da América Latina. Em duas edições, foi selecionada para papéis. Em 2022, interpretou Barbarina, de “As Bodas de Fígaro” – na época, ainda não estava nem na metade do curso. Neste ano, foi a Fada do Orvalho em “João e Maria”. De acordo com a professora, são papeis pequenos, mas importantes, de árias complexas. “São personagens que chegam em um momento impactante do enredo”, conta a jovem.
Participou, ainda, de “A Flauta Mágica”, com a Companhia de Ópera do Rio Grande do Sul, em outubro, na capital gaúcha, como Papagena.
A estudante também atuou como bolsista no projeto Ópera na Escola, da UFPel, criado e coordenado pela professora Magali, que completa 18 anos de existência ininterrupta levando arte para as crianças de cerca de 30 educandários da região Sul. Nesse espaço, Maria Clara passou por experiências artísticas completas, como a organização de um espetáculo, coordenação de artistas, montagem e direção cênica, junto à performance.
Além do suporte familiar, a jovem conta que tem recebido apoio de diversas pessoas amigas da área musical para que possa vivenciar as diferentes oportunidades que têm surgido em seu caminho. Afinal, ser músico no Brasil é um desafio e é preciso resistir. “Tem muitas pessoas envolvidas ajudando e sem esse apoio eu não teria conseguido. Vou dar o meu melhor. Ainda tenho muito a aprender. Já é uma grande vitória estar na semifinal”, conclui.
Sobre a sopranosite, no seu canal no YouTube e ainda no perfil no Instagram.
Mais informações sobre Maria Clara podem ser obtidas noConcurso Brasileiro de Canto Maria Callas
Criado em 1993 para trabalhar pelo direcionamento artístico e desenvolvimento de carreira de jovens cantores, o Concurso Brasileiro de Canto Maria Callas realizou dez edições bienalmente até o ano de 2013.O júri, capacitado e do mais alto nível artístico, é formado por diretores artísticos, críticos respeitados, diretores e editores de revistas especializadas, cantores renomados e de sólida carreira artística internacional nos principais espaços de ópera do mundo.
Os mais importantes nomes da ópera e companheiros da célebre Callas estiveram presentes como jurados do concurso, como Magda Olivero, Fedora Barbieri, Gabriella Tucci, Luigi Alva e Silvia Sass.
O concurso, de abrangência latino-americana, já premiou Edgardo Rocha (tenor uruguaio com importante carreira nos principais teatros de ópera do mundo) e revelou importantes nomes no Brasil como Marcello Vannucci; Edna D’Oliveira; Eiko Senda; Taís Bandeira; Rodolfo Giugliani e muitos outros que já fazem parte das temporadas de ópera de Manaus, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Theatro São Pedro e Theatro Municipal de São Paulo.
A organização do concurso se diz orgulhosa de descobrir novos talentos e encorajar os jovens a trabalharem para o enriquecimento e a evolução da cultura.