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quinta, 14 de novembro de 2024

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FUTEBOL COM NEVE : O dia em que nevou em jogo do Farroupilha e outras histórias

27 maio
09:15 2020

Livro do catarinense Henrique Porto aborda as partidas mais geladas do futebol brasileiro

Por: Henrique König

Um trabalho de pesquisa iniciado há quatro anos apresenta resultados satisfatórios. É o livro “Pé-frio, futebol e neve no Brasil”, do historiador catarinense Henrique Porto, em lançamento da Editora Design. Residente em Jaraguá do Sul, ele já estava especializado na história do Juventus, clube de sua cidade. Insaciado, descobriu uma rodada do Campeonato Catarinense com jogos sob neve e resolveu procurar registros de partidas nessa condição adversa. Começou a pesquisa pelo estado de Santa Catarina, mas avançou para as terras gaúchas, descobrindo inclusive uma partida desconhecida do Grêmio Atlético Farroupilha. Trata-se de um embate fora de casa contra o Gaúcho de Passo Fundo.

“Comecei algumas pesquisas em jornais e internet, depois reuni algumas fontes. A minha primeira ideia era trabalhar somente os jogos em Santa Catarina. Eram três no estado, com dois mais famosos, um entre Avaí e Inter de Lages, outro entre Criciúma e Chapecoense. O terceiro jogo foi um achado, que não se comenta em lugar algum. Foi entre Caçadorense e Palmeiras de Blumenau, ambos os clubes já extintos, mas foi o jogo mais brigado, mais pegado, com mais histórias de bastidor entre esses três. Este último foi bem complexo de encontrar material de ficha técnica sobre, mas consegui informações com alguns atletas que forneceram bons elementos.”

27-05 - FARROUPILHA - FOTO 1Henrique Porto conta que o estado de Santa Catarina é bem organizado em rede de historiadores e os contatos com os demais pesquisadores fluía, mas sair de sua terra natal para o futebol gaúcho era um desafio. Ele topou e foi, também aos poucos, desbravando histórias através de novas fontes.

“No Rio Grande do Sul, o mais famoso é o jogo entre Grêmio e Esportivo, que todo mundo conhece, inclusive passou na televisão. Do Juventude com o Inter de Santa Maria também há bastante relato. O último que eu soube foi quando me alertaram que Passo Fundo é uma cidade que pode ter neve. Pesquisei e encontrei esse entre Gaúcho e Farroupilha” – trata aqui de uma partida na casa do Gaúcho, um peleado placar de 0x0, aos 31 de maio de 1979. Este foi o dia mais marcante para o livro, pois ocasionou neve em seis estádios pela região Sul.

“A partida tem bastante repercussão pelo lado do Gaúcho de Passo Fundo. Eles estavam meio brigados com o árbitro do jogo, tiveram um gol anulado, então rechearam a história que foi para o livro”, antecipa o historiador catarinense.

“É interessante que, apesar dos jogos com neve, as pessoas nem sempre recordam bem dos fatos. Então, no meu trabalho, faço uma pesquisa prévia e, quando vou entrevistá-los, jogo algumas situações para atiçar as lembranças e eles nos contam. O Felipão (Luiz Felipe Scolari) jogou duas partidas sob neve com o Caxias. Teria uma terceira dele, mas não existe comprovação, entre seleção gaúcha e seleção mexicana. Existem fotos com o gramado esbranquiçado, mas não há relatos e matérias sobre, barrando a verificação. Mas entrevistei o Felipão e ele contribuiu com muitas passagens ao livro.”

Entre personagens mais famosos ou bem inusitados, Henrique Porto foi atrás das informações e das subjetividades dos viventes:

“Entrevistei pessoas que estiveram nas arquibancadas, jogadores e funcionários de clubes. Para o jogo do Farroupilha, conversei com pessoas de Pelotas e Passo Fundo. Em Passo Fundo, consegui um contato com um atleta da época, hoje diretor, o Mário Tito. Um relato impressionante, como se o jogo estivesse novamente passando diante dos olhos. O Gaúcho vinha em um bom momento, o goleiro Nivaldo, do Farroupilha, fechou a meta. No segundo tempo saiu um gol, mas o assistente anulou e isso gerou uma série de reclamações. Saiu uma reportagem em Passo Fundo em que o presidente soltou os palavrões para comentar a arbitragem. Perdeu a linha e até chama a atenção, em plena Passo Fundo, cidade de poetas”, diverte-se o responsável pelo livro.

Por fim, Henrique Porto analisa que o objetivo é procurar novos depoimentos. Alerta aos pelotenses que saibam sobre a partida do Farroupilha, ou de outros jogos, que o informem. A pesquisa é de uma historicidade muito rica, com ele divulgando que os registros quase todos são dos anos 1970, sendo o empate do Fantasma um dos últimos abordados.

“Quando passar essa situação de pandemia, pretendo percorrer todas as cidades com clubes envolvidos: Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Porto Alegre, Passo

Fundo, Bagé, Pelotas… Quero fazer pelo menos um mini-lançamento do livro em cada”, planeja Henrique Porto, o homem das neves, que prova e comprova que o futebol resiste a qualquer temperatura, em uma resiliência maior do que os bordões de chuva e lama.

Para contribuir com a história, o telefone de Henrique é (047) 99991-0818.

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