G.E. BRASIL : A busca pela qualificação da base sem perder a identidade
Coordenador Fábio Borba situa o trabalho, aponta frutos e metas para os guris do Bento Freitas
Por: Henrique König
Recebimentos ao ônibus da delegação em frente ao estádio, ritual especial para impulsionar vitórias. Cobrança forte com cânticos e protestos atemorizantes quando as derrotas se acumulam. Este é o Grêmio Esportivo Brasil e ninguém discorda. É preciso preparar atletas para o calor das massas da torcida rubro-negra, entre as ondas caudalosas do apoio sistêmico ou a panela de pressão em situações adversas. À frente, na coordenação da base do Xavante, o coordenador-geral Fábio Borba encara esse desafio e conta sobre o desenvolvimento do projeto que espera, em breve, qualificar o Brasil com o raro selo de clube formador de atletas.
Fábio possui graduação em educação física desde 2008, com especializações e mestrado voltado para o futebol de salão. Trabalhou em escolas, fomentou o futsal na região e migrou para o tapete verde. Participou ativamente da franquia do Botafogo em Pelotas, realizou cursos e estudos para entender das quatro linhas mais amplas. Chegou ao G.E. Brasil na retomada, de escolinhas para categorias de base, em 2016. Há pelo menos dois anos responde como coordenador-geral dos garotos rubro-negros.
“É um trabalho que nos fornece frutos e oportunidades. Está sendo bem significativo. A retomada foi do zero”, sobre como estava inexistente a base no Xavante. “É um período bem intenso e gratificante, poder ver jogadores subindo para o profissional e fazermos frente com as equipes mais tradicionais nos campeonatos de base. São frutos que nos deixam contentes.” E nisso, houve
conquistas, como a Copa da Federação Gaúcha na categoria sub-19, no ano de 2018. O time também é o atual vice-campeão gaúcho sub-17. Em 2020, voltou a participar da Copa São Paulo de Futebol Júnior, momento histórico para o clube.
Chama a atenção a forma organizada como o Brasil trata a bola nas categorias de base. São equipes técnicas que fazem partidas muitas vezes mais interessantes taticamente do que confrontos profissionais. Com muitos jogadores de fora, mas também atletas pelotenses e da região, a importância do futsal aparece. De acordo com Fábio, “o futsal é aplicado como metodologia, em 2017 houve convênio com clubes da cidade, realizamos treinos com espaços reduzidos. A metodologia e a ideologia se encontram” nesse cuidado com a bola das quadras para os campos.
Identidade
Quando se fala em Brasil, nacionalmente ainda na alcunha que incomoda torcedores, Brasil de Pelotas, se pensa na raça gaúcha, visitantes que encaram o inverno úmido e chuvoso no Bento Freitas, equipes rubro-negras que marcam forte e digladiam pela bola em cada jogo aéreo. Sem cair nesses imantados chavões, como aquelas entrevistas maldosas que insistem que o Brasil sempre joga por uma bola, Fábio afirma que é importante respeitar a identificação que a torcida tem e espera do Brasil.
“Trabalhamos com a identidade do clube, queremos jogadores que se entreguem, que tenham essa veia bastante sanguínea.”
Sobre a torcida: “a evolução da base ocorre com o apoio do torcedor. Eles perguntam sobre, curtem postagens, reconhecem jogadores, estão sempre dispostos a ajudar. Há um grupo no Laranjal, por exemplo, que já organizou jantares para auxiliar a base.”
É nessa interação que surgem questionamentos sobre a relação base x profissional. Segundo Fábio, “a ideia é um trabalho contínuo, dos primeiros anos até se tornarem adultos – é para resultados a longo prazo. Trabalhamos com uma formação continuada, para termos atletas competitivos no encontro com a idade profissional.”
O coordenador concorda com a visão do entrevistador, que, apesar do Brasil ter uma torcida que apoie e cobre muito do grupo principal, a base tem encontrado um respaldo com viés sempre positivo. “Todo apoio é fundamental. Sabemos que eles serão cobrados no adulto, mas como ocorre em qualquer profissão, precisam estar prontos. Existe quem vai e quem não vai conseguir lidar, mas procuramos dar todo o apoio psicológico.”
Complementa o assunto da transição dos jogadores com elogios às comissões técnicas que passaram, desde Rogério Zimmermann, passando por Gustavo Papa, Cirilo e Bolívar, todos interessados no acompanhamento da base, que tem revelado atletas profissionais como os atacantes Cristian, Fabrício e Luiz Henrique e o zagueiro Jacone.
Próximos passos
Fábio Borba conta que o Brasil estava às vésperas da estreia estadual no sub-20, no sub-17 e depois viria o sub-13. A pandemia do novo coronavírus parou treinos presenciais e logicamente interrompeu qualquer ritmo de competição. A Copa do Brasil sub-17 também está pendente.
“Estamos em período de home trainings (treinos em casa), reuniões semanais e não sabemos até quando será. Não temos previsão definitiva. Enquanto isso, trabalha-se com a manutenção do CT do Fragata, situação de gramados e afins. Também avançamos no projeto pelo Selo de Clube Formador e da Lei de Incentivo ao Esporte. Para o selo, 80% da documentação está pronta, restam adequações do CT, algumas questões estruturais para enfim protocolarmos para a FGF repassar para a CBF”, discorre Fábio.
“É um selo exigente, é detalhista, mas são detalhes primordiais, é uma segurança para nortear o clube pelo aprimoramento”, conclui.
Em agosto de 2019, a CBF divulgou lista com apenas 40 clubes com o certificado de clube formador, que é atualizado a cada ano. Em 2018, eram 45. Fábio acredita que, com essa conquista, que pode vir em 2021, ficaria mais fácil renovar o selo do que os trâmites da primeira vez.