Gilberto Kuhn comenta responsabilidades com a Boca do Lobo
Apesar de não ter jogos dos profissionais desde abril, estádio recebeu partidas das Lobas, do Progresso no Gauchão, jogo de ex-atletas e precisa de cuidados diários
Por: Henrique König
O Diário da Manhã conversou com Gilberto Kuhn, responsável pelo gramado da Boca do Lobo. Apesar da ausência recente de jogos e de treinos no estádio mais antigo em funcionamento no país, os cuidados não podem parar. E assim o Pelotas quer manter a casa pronta para quando houver a pré-temporada no mês de março.
Gilberto foi convidado por Gilmar Schneider para assumir a responsabilidade técnica do gramado em 2018. Ao longo da vida como técnico agrícola da Embrapa, sua especialidade era a Fruticultura. Aposentado em 2019, senhor Gilberto liberou mais tempo para estar ajudando no cotidiano da Boca do Lobo.
“A troca da grama antiga pela grama do tipo Bermuda foi por 2001. Quando se troca o gramado, o ideal é se ter tempo para diminuir o banco de sementes de invasoras e também para que a grama retirada fique o menos possível viva. Isto demanda tempo e nem sempre se tem”, inicia Kuhn, em uma explicação retrospectiva.
“Devemos fazer análise do solo para possível correção da acidez, necessidade de nutrientes e principalmente adubação de base com NPK (fertilizante) e irrigação.”
Após os primeiros passos “seguimos com trabalhos culturais, corte de grama de dois a três dias, irrigação, nutrição, controle de invasoras (inços) via manual, ou, quando a invasão é grande, o controle é feito com herbicida. Temos invasoras naturais de primavera/verão e também plantas de outono/inverno. Ainda temos invasoras perenes (permanentes) como a gramínea Quicuio e as da família das ciperáceas, essas muito difíceis de exterminar por multiplicar-se por rizomas e bulbos. Cabe dizer que as invasoras aparecem nos gramados via pássaros, na areia, no calçado, nas máquinas utilizadas em outras áreas e em grau menor no meio de sementes do próprio azevém, que é semeado no início de outono”. Segundo Gilberto, o azevém é um componente importante, gramínea de inverno, que dá aspecto bonito ao tapete. Chega-se a utilizar 400 kg de sementes de azevém.
“Temos que estar sempre atentos ao aparecimento de pragas, como lagartas, cachorrinho da terra e outros”, salienta. De acordo com o especialista, as dificuldades de uma equipe de interior são grandes em relação aos custos de manutenção. “Além de funcionários permanentes, precisamos manter equipamentos, como tratores, pulverizadores, motorizadas costal, semeadeira/adubadeira, motobombas, tubos de irrigação, aspersores, além de outras ferramentas e insumos”. Um custo elevadíssimo para manutenção.
Entretanto, presente na gestão de Gilmar Schneider desde o segundo semestre de 2018, senhor Gilberto destaca avanços feitos no Pelotas: “desde que assumimos, melhoramos bastante o sistema de irrigação com recursos do clube. Adquirimos, com a ajuda de amigos torcedores do Pelotas, um trator, uma semeadeira/adubadeira e fizemos um pulverizador em casa a um custo baixo, também custeado por amigos parceiros. Quero inclusive agradecer estes abnegados parceiros nesta empreitada. Também consegui uma Empresa de Nutrientes que deixa os produtos regularmente na Boca do Lobo, assim que solicito um agradecimento especial a eles”.
Alguns funcionários dividem a tarefa diária com Gilberto Kuhn: “cabe também agradecer os dois funcionários, seu Dealmo e o Alessandro, por seus trabalhos diários de formiguinha. Se alguém achar que gramado de futebol não precisa de cuidados permanentes, está muito enganado. A natureza recupera rapidamente e em pouco tempo estará tomado de invasoras. Dedico meu tempo diário na Boca do Lobo, para que possamos deixar um gramado em condições da bola rolar”, enfatizou.
Natural de São Lourenço do Sul, Gilberto veio a Pelotas em 1974 estudar. Iniciou sua longa e valorosa trajetória na Embrapa em 1978, empresa pela qual trabalhou até 2019. Sua história de torcedor na Boca do Lobo data por 1987. “Estamos ávidos para assistir aos jogos, já que a pandemia retirou o público dos estádios. Fazer futebol com borderô já é difícil, imaginem os recursos sem. Um abraço aos áureo-cerúleos e meu muito obrigado a todos que de uma forma ou outra ajudam a fazer nosso futebol. Que tenhamos um feliz 2022”, deseja Gilberto, encerrando este aprendizado sobre o palco principal do estádio mais antigo em atividade no país.