Greve dos caminhoneiros ameaça serviços públicos
A crise que começou na segunda-feira (23), depois da mobilização dos motoristas, não se restringe a tanques vazios. Alguns serviços essenciais à população – como saneamento, segurança e saúde – começam a ser prejudicados.
Em um país onde o escoamento da produção (tanto para o consumo interno, quanto para a exportação) depende prioritariamente do transporte rodoviário, uma greve de caminhoneiros cria uma verdadeira bola de neve. Começou com a falta de combustível nos postos, passando logo para dificuldades em manter estoques de produtos perecíveis e agora a ameaça na prestação de serviços públicos básicos e essenciais.
Não são poucas as áreas que começam a ser afetadas. O Serviço Autônomo de Abastecimento de Água de Pelotas (SANEP) já está com alguns serviços habituais reduzidos a fim de priorizar áreas emergenciais. A 5ª Delegacia Penitenciária Regional enfrenta problemas de transporte e abastecimento nos presídios da região. O sistema de saúde, apesar de estar mantendo serviços fundamentais, teve que realizar alguns cortes. A Secretaria de Obras e Serviços Urbanos (Sosu) enfrenta dificuldades em manter o serviço diário. O transporte escolar está prejudicado e vários alimentos da merenda escolar encontram-se retidos na estrada. Apesar das medidas emergenciais que vêm empreendendo, as instituições que prestam esses serviços públicos apresentam muitas dificuldades.
Segundo o diretor-presidente do SANEP, Jacques Reydams, as duas maiores preocupações da autarquia dizem respeito à coleta de lixo e ao abastecimento de água. Falta combustível para realizar as coletas nos bairros e também para levar o lixo até Candiota. Já são 2.000 toneladas de resíduos no transbordo que não podem ser transportados, ontem (02) saíram sete caminhões levando um total de 250 toneladas e a diretoria esperava conseguir mais uma viagem para transportar a mesma quantia até o final do dia. Quanto ao abastecimento de água, mesmo com as reservas cheias, existe o risco de que faltem produtos essenciais para o tratamento. Ou seja, podemos ficar sem água potável. O estoque de PAC (policloreto de alumínio), que é o produto mais imprescindível, dura somente até o dia 8 e no momento um caminhão carregado com PAC, cloro e outros está trancado em Guaíba.
A segurança pública é outro setor que começa a apresentar alguns problemas preocupantes. De acordo com o 2º Subcomandante do 4º BPM, a Polícia Rodoviária Federal estabeleceu reservas de combustível para emergências e, portanto, os serviços à população não foram afetados. No entanto, a Superintendência dos Serviços Penitenciários (SUSEPE) da região apresenta dificuldades de abastecimento que já afetam os presídios. O delegado penitenciário regional interino, Hamilton Luis Fernandes, afirma que houve problemas no abastecimento de gás, de produtos perecíveis como leite e hortifruti e também de combustível para a frota. Além de afetar a transferência e o transporte de presos, a falta de combustível acaba por atrasar todo o processo judiciário em função de júris e audiências canceladas.
Não são apenas os veículos de passeio e o abastecimento dos supermercados que estão sofrendo restrições. Se a greve se estender por muito tempo e sem perspectiva de negociação, praticamente todos os serviços serão afetados. Acúmulo de lixo, falta de água potável, fechamento de escolas e falta de combustível nas viaturas policiais são alguns dos problemas que podem agravar ainda mais a crise que o País está vivendo.
Reportagem : Marcelo Medeiros Rota