HIP HOP : Ruas da interioridade na poesia de Fill
Autor talentoso, reverenciado pelos apreciadores do “Rap”na região, Fill está preparando primeiro CD
São três. O “Filipe” insere-se nos afazeres, horários, compromissos, cumpre deveres. O “Mister Vagina” extravasa anseios, desejos e impulsos. Sem pensar no “amanhã”, movido pelo prazer, uma provável faceta do “id” freudiano. O “Sr. Confuso” equilibra-se entre o disciplinamento e o furor. Três vozes, talvez “heterônimos”. Três protagonistas e narradores. Eles estão num só. Manifestam-se como expressões do bageense “Fill”, autor, letrista e poeta. Percorrendo as ruas da interioridade, ele prepara o primeiro CD “Três pintas em minha mente”. O projeto tem sido desenvolvido há três anos, e já gerou o single “Um novo amanhecer” – acesso disponível no Youtube. Na composição, versos como “Viver longe do gatilho é bem melhor”, sinalizam com mensagem de paz à periferia. Com quinze faixas, o CD tem produção de Pok-Sombra, M2Beats, Mateus Quevedo, Bruno Beuvalet e Rodrigo “Perelló”. As gravações têm ocorrido no Kafofú Rec’s. De acordo com Fill, brevemente haverá divulgação do lançamento. A ideia é organizar grande evento, reunindo gerações do “hip hop” pelotense. Para acompanhar o ritmo da produção, Fill compartilha etapas no “Facebook” – busque Filipe Fontoura.
FREESTYLE – Radicado em Pelotas, ele notabilizou-se pelas rimas improvisadas – “Nitroglicerina”, parceria com Pok-Somba, tem quase oitenta mil visualizações no Youtube. Talento reconhecido, tem legião de admiradores. Conforme explica, no seu retorno à cidade há cinco anos, observou que estava se configurando espaço ao “Freestyle”. Nas praças, “InRua” – sextas à noite na esplanada do Theatro Sete de Abril -, e até escolas, espaço a batalhas com rimadores. Em dois “rounds”, dupla parte ao “embate” através da rapidez e criatividade com as palavras. Cada participante dispõe de 45 segundos, por “round”, para espinafrar o adversário. A plateia decide o vencedor e, havendo empate, organiza-se um terceiro round. Fill acrescenta que a manifestação empolgou parcela da juventude, em especial pelo sucesso de rappers como “Emicida”. Além disso, também a comunicação on-line, principalmente através das postagens no Youtube. E Fill diz que participou de “umas vinte batalhas”. Atualmente, no entanto, o “Freestyle” já não está com o mesmo ritmo de participantes na cidade.
FILOSOFIA – Ele foi “Bloodfill”. O “Fill” decorre do nome, mas “blood” até recentemente, informava sobre o “sangue” nas batalhas. Agressividade necessária para desancar o antagonista. Na nova fase, Fill salienta que o amigo Zudzilla é que encontrou uma definição para a designação artística. Trata-se do “Filósofo Insano Lírico Letal” (FILL). E a dica afina-se com uma das novas letras de Fill. Em “Filósofos do Amanhecer”, ele demonstra ousadia. A partir de conceitos que caracterizam filósofos reconhecidos no ambiente acadêmico, procura relacionar as reflexões com o cotidiano. Na cultura popular e, em especial, na manifestação do “ritmo e poesia” (Rap), que emana da gurizada inquieta com a injustiça e desigualdade, a busca pelo saber filosófico é nocaute nas tolices do funk, pagode e sertanejo.
TRAJETÓRIA – Fill despertou para o Hip Hop aos dez anos. Um colega ouvia Racionais e Naldinho. Ao sair do colégio particular para a escola pública, novos parceiros e mais informações sobre o Hip Hop. O menino que escrevia poemas, encontrou nas “bases sonoras” um novo componente criativo. Desde então, percorre ruas da interioridade numa “batalha sem fim”…
Por Carlos Cogoy