Diário da Manhã

domingo, 24 de novembro de 2024

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HISTÓRIA EM QUADRINHOS : “Espírito Livre” contra sistema opressor

05 junho
14:36 2015

Dias 11 e 12 no Bistrô da Secult – Casarão 2 -, Jonas Fernando estará lançando livro sobre o personagem negro “Espírito Livre”

 Por Carlos Cogoy

Publicação para enriquecer a abordagem criativa acerca da negritude em Pelotas, cinco tramas para aguçar o senso crítico dos leitores de variadas idades, livro para premiar o esforço local também nas Histórias em Quadrinhos (HQs), conquista para o autor Jonas Fernando Martins Santos. Trata-se da revista – formato Comics – “Espírito Livre – Dias Rubros” que, aprovada no edital do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PROCULTURA) da Secult, terá lançamento e distribuição gratuita na próxima semana. O volume com cem páginas, e tiragem de 1.200 exemplares, tem a qualidade de impressão da gráfica gaúcha Pallotti.

LANÇAMENTO dia 11 às 19h com coquetel na Secult – Praça Cel. Pedro Osório 2. Dia 12 das 9h às 11h30min e das 14h às 16h30min, distribuição gratuita para escolas. Programação para convidados, porém, receptiva à participação dos amigos, ativistas do movimento negro e aficionados por HQs. A atividade, acrescenta Jonas, será a “contrapartida” social  – critério para aprovação no Procultura. Nas bancas, ao público em geral, “Espírito Livre” poderá ser adquirido a partir do dia 11 ao custo de R$12,00.

Autor Jonas Fernando Martins Santos

Autor Jonas Fernando Martins Santos

LIVRE – Artista visual com talento em várias áreas, Jonas também está à frente de projetos que democratizam o acesso e fazer artístico-cultural. Como quadrinista, ele desenha há quase quarenta anos. Na trajetória, de forma artesanal, viabilizou publicações independentes através do selo Habitus Noturnos: “Espírito Livre” 1, 2 e 3; “Contos Urbanos” números 0 e 1; “O que é ser negro afinal?”; “Rindo pra não chorar”. No livro de poemas “Vivendo a inocência”, autoria de Agostinho Dalla Vecchia, Jonas participou com centena de ilustrações. Já o personagem Espírito Livre completou 21 anos. E o autor menciona: “Espírito Livre é um personagem nascido e criado em Pelotas. Ele foi adotado por uma família rica, escolhido na ‘roda’ da Santa Casa de Misericórdia. Era nessa roda que as moças de família, antigamente, deixavam os seus indesejados. O que não é o caso do pequeno Hwesu, filho de ‘Alvoraz’. O futuro super-heroi é roubado de sua família quando contava apenas doze dias de vida. Sua família vivia isolada do mundo, numa comunidade, até o final dos anos setenta. No cotidiano, passavam batendo junco, caçando preá, pescando, fazendo entalhes e artesanias. Reunidos em auto-gestão, viviam a partir daquilo que a natureza oferecia. Isso acontecia após a rua Barão de Mauá, nos trilhos, seiscentos metros banhado adentro, trecho entre as ruas Anchieta e Andrade Neves. Depois do desaparecimento do pequeno Hwesu, a utopia do convívio familiar se perdeu e os parentes começaram a se estranhar e a responsabilizar uns aos outros pela perda do infante. Seu destino seria crescer, aprendendo com todos para liderá-los no futuro.
Espírito Livre é um personagem que chega aos seus 21 anos em boa forma, é um personagem muito original, pela carga de informações mostradas em cada história. Faço questão de ter vilões humanos porque assim posso usar referências da minha adolescência e juventude. Mas o personagem tem uma relação com todo o sistema social em que vivemos. Por ser um personagem negro, e vivenciarmos contexto esmagadoramente opressor, naturalmente torna-se força de oposição ao que está posto”.

DIAS RUBROS – Jonas comenta sobre a temática que abre a revista: “Dias Rubros é o nome da história que apresenta o personagem enfrentando inimigos de todos os ‘calibres’, sendo posto à prova a todo momento e tentando sobreviver a isso. Nessa história o personagem ainda é um pouco ingênuo em relação ao crime organizado local. Ele pensa que, tirando um notório bandido de circulação, bastaria para resolver o problema ou boa parte dele. Mas não é o que acontece.  E o peso da sociedade organizada recai sobre ele na forma de uma nova ‘Força Especial Militar’. Na verdade é mais uma polícia corrupta, que passa a caçá-lo pela cidade inteira. Através dos bairros e vilas, agem promovendo a limpeza étnica que já conhecemos. Durante a história fica claro o envolvimento das polícias com o crime organizado local. Essas histórias eu já as tinha prontas mas tive de refazer quase tudo, redesenhar e tornar a narrativa coesa e dar sentido a muitas coisas que ainda estavam um pouco soltas”.

Publicação financiada pelo Procultura

Publicação financiada pelo Procultura

CONSCIÊNCIA NEGRA para Jonas: “Pelotas é proporcionalmente a cidade mais negra do interior do Estado, só que não temos um vereador negro. Liderança que se assuma e que também tenha práticas reais para além do discurso. Infelizmente ainda não nos enxergamos como legisladores. Isto está introjetado no inconsciente do povo negro. Quem disse que o ‘gari’ que se candidatou não teria mais competência, não seria melhor do que qualquer um dos políticos profissionais que, por anos, ‘prometeram’ aos negros e negras desta cidade e não cumpriram.  Temos que votar em negros, não em partidos, mas em projetos. Eu penso que o grande problema de Pelotas é a falta de políticas de incentivos fiscais e de isenção para empresas de fora, fábricas, montadoras e exploração da região portuária como já existiu em décadas passadas. Quem viveu aquela época sabe do que eu falo. Quer dizer, isso passa diretamente por uma questão de habilidade política e articulação por parte de nossos administradores e legisladores locais”.

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