Hospital Escola da UFPel reabre serviço de radioterapia
A comunidade de Pelotas e região pode novamente contar com o serviço de Radioterapia do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE UFPel). O primeiro tratamento com o novo equipamento ocorreu nesta sexta-feira (31), logo após o ato de reabertura. Colaboradores, convidados, autoridades e imprensa prestigiaram o momento, aguardado há cerca de quase dois anos e meio. Atualmente, 120 pacientes com câncer aguardam na lista de espera pelo tratamento de radioterapia na região Sul.
Em dezembro de 2016 o serviço foi suspenso, devido à expiração da validade da bomba de cobalto. Desde então, outras instituições absorveram a demanda. O Hospital Escola então aderiu ao Programa de Expansão da Radioterapia do Ministério da Saúde, o qual viabilizou a construção do bunker que abriga o acelerador linear, onde foi feita a montagem do equipamento, treinamento da equipe, testes e validações pelos órgãos responsáveis.
A importância do trabalho conjunto que possibilitou a reabertura do serviço esteve em destaque nas diversas manifestações da cerimônia, assim como a necessidade da mesma união para buscar a atualização do teto da saúde para o estado do Rio Grande do Sul.
A superintendente do HE, Samanta Madruga, destacou que o momento era de agradecer, reconhecer e comemorar. “A equipe não mediu esforços para esse objetivo. Muitas mãos, que nos antecederam e agora, trabalharam por essa grande conquista que vai beneficiar milhares de pessoas, aumentando significativamente suas chances de cura”, disse, ao convocar para que o trabalho siga sendo feito com energia, foco e entusiasmo para ampliar e qualificar o serviço de saúde e de ensino.
A chefe da Unidade de Radiologia, Cláudia Pizarro, salientou que cerca de 60% dos pacientes com câncer de alguma forma precisarão desse tipo de tratamento. De acordo com ela, trata-se de uma importante possibilidade de cura para diversos tipos de câncer, especialmente os mais prevalentes, como próstata e mama. “É a concretização de um sonho pelo qual Pelotas ansiava e que merecia”, disse, ressaltando ainda a equipe qualificada e o aparelho de alta tecnologia agora disponível. “Hoje estamos prontos para oferecer o que há de melhor em tecnologia de radioterapia”.
União que resulta em benefício para a população
Representando a secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann, Ana Costa destacou a união entre deputados de diferentes partidos, secretários, colegas e muitas outras pessoas que se envolveram em prol da reabertura do serviço. “É uma grande lição que mostra o quão somos fortes se estivermos juntos”. Segundo ela, a parceria precisa permanecer para buscar o novo teto da área para o Rio Grande do Sul, cujos recursos oportunizariam respostas melhores à saúde do estado.
Para o presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems/RS), Diego Espíndola, a Metade Sul do estado começa a ter mais tranquilidade com a reabertura do serviço do HE. “O estado já teve a melhor rede oncológica do país. E a universidade tem a maior resolutividade do Sistema Único de Saúde”, disse, alertando para a necessidade de combater burocracias excessivas.
O secretário municipal de Saúde, Leandro Thürow, destacou que a liberação do teto é um passo fundamental para que o serviço possa ser utilizado plenamente e a lista de espera eliminada. “É mais do que retomar o serviço. É qualificar com altíssima tecnologia, que repercute na qualidade de vida dos pacientes”, pontuou.
O presidente da Câmara de Vereadores de Pelotas, Fabrício Tavares, ao destacar os esforços coletivos em prol do serviço, reiterou o compromisso com a ampliação do HE e com a mobilização para atualizar o teto da saúde. “Hoje esses pacientes estão tendo a esperança renovada. Vamos continuar batendo à porta em Brasília, porque não se faz serviço de qualidade sem investimento”, observou.
O deputado estadual Fernando Marroni se disse feliz por ter feito parte da luta para a reabertura do serviço e, ao cumprimentar todos os envolvidos na conquista, destacou a preocupação com o congelamento de verbas em saúde e educação pela Emenda Constitucional 95. “A comunidade vai sofrer. E a população de Pelotas tem dado uma resposta à altura para que não se percam a saúde e a educação pública nesse país”, disse.
Trabalho coletivo e valorização de saúde e educação
“Sem o trabalho coletivo esse acelerador jamais estaria aqui”, assinalou o reitor da UFPel, Pedro Curi Hallal. O gestor apontou a convergência de esforços de pessoas das mais diversas ideologias e entendimentos para o resultado que beneficia a população. “As conquistas que temos são fruto de trabalho coletivo. Enquanto a sociedade estiver dividida em uma luta entre lados, sigo dizendo que somente com união se evolui”, pontuou.
O reitor falou ainda sobre a importância da UFPel para saúde de Pelotas e região, mencionando, além do HE, as quatro Unidades Básicas de Saúde e outros serviços e projetos que atendem a comunidade. “Para além da pesquisa, do ensino e da extensão, a parte assistencial da Universidade é extremamente importante para a comunidade”.
De acordo com o dirigente, é importante que se valorize as conquistas, ainda que sigam existindo desafios diários. E aproveitou a ocasião para lembrar a necessidade de apoio popular na defesa pela educação frente aos cortes orçamentários. “O atendimento está em risco. Com o bloqueio, administrar a Universidade não é tarefa para um bom gestor público, é tarefa para super-herói. Não é blefe, não é oposição. Não estamos aqui para dividir o país, mas para que a educação seja valorizada”, afirmou.
O serviço
Inicialmente, serão atendidos seis pacientes por semana, tendo em vista a necessidade de cuidados com qualidade e segurança. A expectativa é tratar até 70 pacientes por dia, após o pleno funcionamento do equipamento.
De acordo com a chefe da Unidade, o início do tratamento é mais demorado, já que é necessário elaborar um planejamento completo da ação para cada paciente. De posse da tomografia – cujas imagens permitem determinar o alvo exato e proteger os tecidos ao redor -, médico e físico estabelecem o plano de tratamento. “É um cuidado importante. Cada tecido tem uma sensibilidade diferente e uma dose tolerável. As medidas de segurança e controle de qualidade são muitas”, observou. Depois do início, o paciente comparece diariamente por dez minutos. A duração média dos tratamentos é de 25 dias.
Segundo a gestora, agora a busca será por upgrades no serviço, com uma nova estação de planejamento e um sistema de verificação de imagem para conferir mais precisão, o que poderia encurtar o tempo de tratamento.
O serviço de Radioterapia, situado na Faculdade de Medicina, é licenciado junto à Comissão Nacional de Energia Nuclear e atende pacientes oncológicos da comunidade de Pelotas e região Sul do estado. Os tratamentos radioterápicos contemplam pacientes encaminhados exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e regulados pela Secretaria Municipal de Saúde de Pelotas. Além da equipe assistencial composta por médicos radioterapeutas, cirurgião oncológico, médico clínico, físicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem, técnicos em radiologia, assistente social, nutricionista, psicólogo e dentista, o serviço receberá pós-graduandos da Residência Multidisciplinar em Oncologia.