Hospital Escola está inserido na estratégia municipal para receber casos de coronavírus
Apesar de ainda não haver nenhum caso confirmado de paciente infectado pelo novo Coronavírus em Pelotas, o Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE UFPel) vem trabalhando diariamente na atualização de seu plano de contingência e foi definido como instituição de referência para a regulação de casos suspeitos que necessitem de cuidados hospitalares.
Como se trata de uma pandemia declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a instituição está desenvolvendo ações a fim de manter a padronização e definição de processos de trabalho, em prol da qualidade e da segurança na assistência à saúde prestada à população regional, bem como à preservação da saúde dos trabalhadores. “O momento é de cautela, embora estejamos organizados, o que se espera é que o sistema hospitalar não consiga atender a todos que necessitem, portanto é fundamental que a população respeite e cumpra as medidas preconizadas pelo Ministério da Saúde para evitarmos a disseminação do vírus”, destacou a chefe da Divisão Médica, Cristiane Neutzling.
Desde a semana passada foram iniciadas medidas no sentido de prevenção e controle de infecção na instituição. Dentre as medidas tomadas foram: proibição de visitas, proibição da permanência de acompanhantes que estejam com doenças respiratórias agudas, o número de troca de acompanhantes foi reduzido a, no máximo, duas em 24 horas. Além destas, a equipe está orientada a ampliar a ventilação dos ambientes, manter abastecidos os dispensadores de álcool gel para higienização das mãos, além de combater o compartilhamento de qualquer item entre pacientes. “Algumas medidas como essas já seriam tomadas em breve em função do período de restrições por causa da influenza, porém esta emergência em saúde pública nos fez antecipar as precauções e nos preparar para este momento que, provavelmente, deve chegar à nossa cidade”, esclareceu a chefe do Setor de Gestão da Qualidade e Vigilância em Saúde, Susana Cecagno.
Os casos suspeitos serão mantidos em isolamento até a confirmação diagnóstica, e casos confirmados serão referenciados aos hospitais da capital, conforme Plano de Contingência Estadual. O hospital possui em sua estrutura física para isolamentos um total de cinco leitos e os colaboradores que atuarão nestes espaços passarão a ser exclusivos para esse atendimento.
Para os trabalhadores, as capacitações específicas para atuar nos casos de infecções respiratórias estão acontecendo ao longo desta semana e a instituição já adquiriu estoque adicional de equipamentos de proteção individual (EPI) para dar conta da possível demanda aumentada. “Num cenário de escassez de material disponível no mercado, como equipamentos de proteção individual, o planejamento é muito importante. Temos que garantir a disponibilidade de recursos para as equipes que prestarão o cuidado aos pacientes”, falou o chefe da Unidade de Saúde Ocupacional e Segurança do Trabalho, Felipe Camerini.
A superintendente do Hospital Escola, Samanta Madruga, ressalta a importância do trabalho em rede para que o impacto do surto no município seja amenizado. “Estamos em tempo de repensar nossas ações, individuais e coletivas, pensando no bem comum”, reforçou ela.
VÍRUS – O novo coronavírus (2019-nCoV) é um vírus identificado como a causa de um surto de doença respiratória detectado, iniciado em Wuhan, China. O coronavírus faz parte de uma grande família de vírus, comuns em diferentes espécies de animais, incluindo camelos, gado, gatos e morcegos. Excepcionalmente, os coronavírus podem infectar humanos e depois se disseminar entre pessoas como ocorre na Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) e na Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS). Na Infecção Humana pelo Novo Coronavírus (2019-nCoV) o espectro clínico não está descrito completamente, bem como não se sabe o padrão de letalidade, mortalidade, infectividade e transmissibilidade. Não há vacina ou medicamento específico disponível. O tratamento é de suporte e inespecífico.
Quanto à disseminação de pessoa para pessoa, acredita-se que ocorra principalmente por meio de gotículas respiratórias. O período médio de incubação da infecção por coronavírus é de 5 dias, com intervalo que pode chegar até 16 dias. Já a transmissibilidade dos pacientes infectados é em média de 7 dias após o início dos sintomas. No entanto, dados preliminares do Novo Coronavírus sugerem que a transmissão possa ocorrer, mesmo sem o aparecimento de sinais e sintomas. Até o momento, não há informação suficiente de quantos dias anteriores ao início dos sinais e sintomas que uma pessoa infectada passa a transmitir o vírus.
Os sintomas comuns no início da doença são febre, tosse e mialgia ou fadiga e os menos comuns são expectoração, dor de cabeça, hemoptise, diarreia, dispnéia e linfopenia. As complicações incluem síndrome respiratória aguda grave, lesão cardíaca aguda, infecção secundária e óbito. Essas características clínicas não são específicas e podem ser similares àquelas causadas por outros vírus respiratórios, que também ocorrem sob a forma de surtos e, eventualmente, circulam ao mesmo tempo, tais como influenza, parainfluenza, rinovírus, vírus sincicial respiratório, adenovírus, outros coronavírus, dentre outros.
O diagnóstico depende da investigação clínico-epidemiológica e do exame físico. É recomendável que todos os casos de síndrome gripal sejam questionados quanto ao histórico de viagem para o exterior ou contato próximo com pessoas que tenham viajado para o exterior. O diagnóstico laboratorial é a através de secreção da nasofaringe (SNF). Na presença de sintomatologia, a coleta deve ser feita, preferencialmente, até o terceiro dia, podendo ser coletado até o sétimo dia, através da coleta de aspirado de nasofaringe ou swab combinado nasal/oral ou amostra de secreção respiratória inferior (escarro ou lavado traqueal ou lavado broncoalveolar). Após coleta, o material é encaminhado ao LACEN, laboratório de referência no Estado do Rio Grande do Sul.
Alguns casos confirmados ou suspeitos para o novo coronavírus podem não necessitar de hospitalização, podendo ser acompanhados em domicílio. Porém, é necessário avaliar cada caso, levando-se em consideração se o ambiente residencial é adequado e se o paciente é capaz de seguir as medidas de precaução recomendadas pela equipe de saúde.
UFPEL – A Universidade Federal de Pelotas, considerando as ponderações do Comitê Interno para Acompanhamento da Evolução da Pandemia por Coronavírus, formado por representantes do Hospital Escola, das Faculdades de Medicina e Enfermagem, das pró-reitorias de Ensino, de Assuntos Estudantis e de Gestão de Pessoas e da Coordenadoria de Comunicação Social, em reunião realizada na manhã de sexta-feira (13), decidiu suspender as atividades acadêmicas pelo período mínimo de três semanas a partir do dia 16 de março de 2020. A medida adotada faz parte de uma estratégia que está sendo elaborada pela universidade com o intuito de minimizar a disseminação das potenciais contaminações pelo vírus e propiciar condições para que possa se estruturar para o atendimento em saúde à comunidade.
No Hospital Escola, serão mantidas as atividades acadêmicas dos residentes e dos alunos de graduação em estágios finais dos cursos de Medicina, Enfermagem, Nutrição, Terapia Ocupacional e Farmácia.