Diário da Manhã

No ano de 1901, Luciana Lealdina de Araújo, filha de escravos, funda o Asilo de Órfãs São Benedito. Uma história que valeu a pena. 

Por  : Marcelo Medeiros Rota e Alisson Assumpção

Pelotas ainda vivia à sombra de seu recente passado escravocrata. As meninas desamparadas, se fossem negras ou mulatas, não eram aceitas nos orfanatos. Em meio a este cenário, no dia 13 de maio de 1901, a filha de escravos Luciana fundou uma instituição onde eram aceitas quaisquer meninas, independente da cor da pele. Corajosamente ela escolheu, para inaugurar o orfanato, dia e mês em que a Lei Áurea (1888) pôs fim à escravidão no Brasil. Hoje, o Instituto São Benedito comemora 114 anos, uma história que já deu muitas gratificações pelos que passaram por ali e que está na ponta da língua das alunas.

CAPELA com pinturas do ilustre Aldo Locatelli

A reportagem do Diário da Manhã foi até o Instituto São Benedito visitar o prédio que, crescendo de “puxadinho” em “puxadinho”, abriga a instituição desde 1901. Conversamos com a irmã Julieta Bertuol, há 21 anos na diretoria, com o presidente Flávio Luís Gastal, que desde 1969 tem relações com a instituição, e com a vice-presidente Magda Coelho, há oito anos cativada pelo instituto. Todos se sentem muito gratificados pelo trabalho que realizam, citando ex-alunas que hoje estão na universidade, outras que se formaram e ainda outras que conseguiram um futuro bem melhor do que o destino parecia lhes reservar.

IRMÃ Julieta admira os desenhos das alunas

Desde 1993 o Instituto não tem mais internato. Atualmente, oferece semi- internato com turmas de 1ª a 5ª série do ensino fundamental pela manhã e uma série de atividades extraclasse no turno da tarde. São 108 meninas, de vários bairros carentes da região, e um corpo de colaboradores e voluntários que varia entre 20 e 25 pessoas. Uma diretoria leiga assume os assuntos administrativos e a direção pedagógica fica a cargo das irmãs da   Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria.

Logo na entrada o instituto pode-se ler em um cartaz com letras de criança: “Luciana Lealdina de Araújo, fundadora do Instituto São Benedito. Senhora negra, filha de mãe escrava, dotada de grande sensibilidade para com os pobres. O Instituto São Beneditino é uma obra assistencial foi oficialmente inaugurada no dia 13 de maio de 1901”. Junto, uma série de desenhos e esculturas de barro representando a fundadora da escola. A consciência de raça faz parte da rotina das meninas. Assim como a história da Bem Aventurada Bárbara Maix, fundadora da Congregação das irmãs, que estão desde 1912 com o Instituto.

O PÁTIO interno com bastante movimento da criançada